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1 Suábia, região e antigo ducado da Alemanha, hoje parte sudoeste da Baviera e cuja capital é Ausburgo.

grande duque do Ocidente, tanto mais duradouras quanto mais fantásticas.

Dijon, porém, informada por aqueles que regressavam da Lorena, soube rapidamente a verdade. As damas da cidade reuniram-se e percorrem as ruas gritando: ”Viva Madame Maria!” com alegria e entusiasmo, encantadas com a ideia de ver uma mulher no trono depois de tantos homens. Os homens, esses, mantiveram-se reservados.

Soube-se, em seguida, que o Rei de França pretendia reconquistar aquela rica Borgonha em tempos oferecida por João, o Bom ao seu filho Filipe, como recompensa pela sua valentia na batalha de Poitiers. Alguns pensavam que era justo e que, em todo o caso, Luís XI, se bem que menos espectacular que o Temerário, era um bom Rei para os seus súbditos: poupava-lhes o mais possível a guerra e as dores provocadas por esta e sob o seu reinado o comércio florescia. Mas outros eram de opinião diferente e desejavam que o estandarte de Maria, desfraldado na torre de Saint-Nicolas, ali continuasse.

Philippe de Selongey pertencia a estes últimos e os sucessos conseguidos no Comté pelos irmãos Vauldrey, que tinham conseguido fazer recuar as tropas reais de Georges de La Trémoille, senhor de Craon, davam-lhe um certo conforto. Infelizmente, La Trémoille, adiando essa conquista para mais tarde, concentrara as suas forças em Dijon, que conquistara com a ajuda de Charles d’Amboise e Jean de Chalon, um dos primeiros conjurados. La Trémoille estabelecera uma guarnição na cidade e ordenara a construção de um poderoso castelo destinado a defender Dijon dos ataques exteriores... e interiores. Francamente impopular, essa decisão aumentara o número dos partidários da duquesa.

A partir dos primeiros dias de Março, Philippe estava de regresso à cidade e instalava-se secretamente na sua casa familiar que, aparentemente, permaneceu de portas e janelas fechadas, como se ali não houvesse ninguém. A casa estava fechada há demasiado tempo para que a presença de um cavaleiro do Tosão de Ouro, cuja fidelidade ao duque Carlos era conhecida, não parecesse suspeita. A partir desse refúgio conseguiu reunir Franco Condado boas vontades e corações corajosos entre aqueles que tinham sido mais ou menos aliados da sua família, ou que a tinham servido. Uma correspondência constante com os partidários dos arredores permitiu-lhe planear um ataque nocturno à cidade, cujas portas ele próprio abriu chegado o momento. Mas, para vencer a guarnição francesa era preciso muita gente e a paciência impunha-se. Assim como o segredo. A situação do rebelde era, de algum modo, perigosa, porque uma grande parte dos almotacés e dos grandes burgueses começava a aceitar a ideia de virem a ser súbditos do Rei Luís se esse fosse o preço a pagar pela tranquilidade.

Os aliados de Philippe pertenciam, sobretudo, à juventude, às classes populares e aos antigos exércitos do duque mais ou menos arruinados, mas que não eram fáceis de manipular, já que demasiado ávidos por passar à acção. Foi assim que no dia 1 de Junho estalou uma desordem no bairro de Saint-Nicolas por causa de uma mulher maltratada por um soldado. Gritou-se ”Viva a Borgonha!”, escreveram-se nas paredes injúrias ao Rei de França e atiraram-se pedras aos homens de armas, que ripostaram. Correu um pouco de sangue e a calma foi restabelecida. E Philippe acreditou ter o controlo dos seus partidários, ignorando que alguns deles viam apenas na luta pela independência um bom meio de promover uma espécie de luta de classes.

No dia 26 de Junho, aquando de uma ausência de La Trémoille, o drama estalou por ocasião da eleição do novo vicomte-mayeur2 da cidade, na presença de um arauto de Maria de Borgonha. Os magistrados municipais estavam reunidos nos Cordeliers. Foi então que um grupo de homens, armados com tudo que lhes chegou às mãos, saiu da porta de Saint-Nicolas. À sua cabeça marchava, vestido com um longo traje ”acinzentado”, um certo Chrétiennot Yvon, em tempos um rico merceeiro mas agora arruinado e que morava, em Gevrey, num pequeno solar pertencente aos monges de Cluny.

1 Antigo inspector de pesos e medidas que fixava o preço dos comestíveis.

2 Uma espécie de Presidente da Câmara

3 Franciscanos

Mal entrou na cidade, Yvon obrigou os guardas da torre de Saint-Nicolas a entregarem-lhe as chaves e rasgou o estandarte real que flutuava lá no alto. Em seguida, ele e os seus homens desceram na direcção do coração de Dijon gritando às armas para os partidários da princesa Maria. Na multidão, alguém gritou:

Vamos buscar aqueles mestres almotacés que governam a cidade e que se escondem nos Cordeliers!

Entretanto, o alarme fora dado e os almotacés dispersos sob os cuidados de Selongey, consciente de que se cometia uma loucura. E tinha razão: quando Yvon desembocou na praça dos Cordeliers, só encontrou um idoso, Jean Joard, presidente do parlamento de Borgonha e que, confiante na sua idade e na sua influência, quis fazer frente ao motim, ordenando aos rebeldes que abandonassem as armas e que dispersassem.

Nós estamos aqui para entregar a cidade a Madame Maria exclamou Yvon. Ou prestas homenagem à tua princesa, ou morres!

A nossa duquesa nunca exigiu que Dijon lhe fosse entregue passando por cima dos cadáveres dos velhos servidores do seu pai exclamou Selongey colocando-se, de espada na mão, diante do ancião. Os Franceses é que devem ser mortos, não os nossos!

Ele e os como ele venderam-se, há muito, ao Rei Luís. E tu, também és como eles?

Eu sou Philippe, conde de Selongey, cavaleiro do Tosão de Ouro e fiel até à morte a monsenhor Carlos, que Deus guarde na Sua protecção. E não reneguei o meu juramento de fidelidade.

Isso é fácil de dizer disse o outro com uma grande risada. O senhor de Selongey aqui, sem mais nem menos? Quando chegaste?

Há três meses. Alguns, aqui, sabem-no, mas tu, tu queres destruir o que eu arquitectei.

Alguém o conhece, aqui?

O olhar ameaçador do antigo merceeiro percorreu os rostos e reclamou uma resposta, desafiando quem lha quisesse dar. Ninguém se mexeu e Philippe compreendeu que tinha perdido.

Muito bem! concluiu Yvon. Nesse caso, vamos acabar com todos os apoiantes de Luís XI e partilhar os seus bens. Ao ataque, meus amigos!

Um instante mais tarde caía o velho presidente, apunhalado por Chrétiennot Yvon e o próprio Philippe, subjugado por cinco ou seis magarefes que lhe passaram pelo pescoço o lenço de veludo vermelho da vítima, foi obrigado a seguir o bando de energúmenos, que foi, primeiro, pilhar a casa do Singe depois de ter solenemente proclamado a soberania da princesa Maria.

Selongey, que sonhara entregar à sua duquesa as chaves de Dijon, estava agora prisioneiro de gente que pretendia defender as mesmas cores que ele, mas que, na realidade, se limitava a saciar as suas vinganças e apetites pessoais. O bando pilhou, roubou e queimou, durante toda a noite, as casas daqueles que acreditava realistas, como o recebedor-geral Vurry, o mestre Arnolet Macheco e o abade de Fénay. Impotente e aflito, Philippe assistiu àqueles acontecimentos extremos antes de ser levado para a sua própria casa, onde Yvon se instalou na companhia dos seus homens para festejar e contar o seu saque.

Foi ali que, quatro dias mais tarde, La Trémoille em pessoa os prendeu, e Philippe com eles.

Ele é o nosso chefe declarou Yvon com um sorriso zombeteiro o senhor conde de Selongey, um dos íntimos do defunto duque Carlos.

Um nobre à cabeça de um bando de assassinos e ladrões disse o senhor de Craon com ar de desprezo. Que outra coisa seria de esperar de um borgonhês?

Sim, borgonhês e com muito orgulho, mas eu estava aqui prisioneiro e não sou chefe deles protestou Philippe.

A sério? Então, sois daqueles, já bastante numerosos, que estão prontos a jurar fidelidade ao Rei meu senhor? Nesse caso...