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Por um momento, a voz foi abafada por aclamações tumultuadas, e depois Sir William acrescentou:

— Só resta decidir a extensão dessa punição, como devemos agir, e quando. Sr. Adamson?

— Já que não estamos envolvidos, não tenho qualquer recomendação formal.

— Conde Zergeyev?

— Meu conselho formal é o de que devemos atacar Hodogaya, destruir tudo, liquidar os Satsumas. — O russo tinha trinta e poucos anos, um homem forte, barbudo e aristocrático, o chefe da missão do czar Alexandre II. — A força, maciça, implacável e imediata, é a única diplomacia que os japoneses vão compreender. Meu vaso de guerra ficaria honrado em liderar o ataque.

Houve um estranho silêncio. Eu já imaginava que seria essa a sua resposta, pensou Sir William, e não sei se está enganado. Ah, a Rússia, a bela e extraordinária Rússia, é uma pena que sejamos inimigos. A melhor época de minha vida foi em São Petersburgo. Mesmo assim, vocês não vão se expandir para estas águas, detivemos sua invasão das ilhas japonesas de Tsushima no ano passado, e este ano vamos impedi-los também de se apoderarem de Sakhalin.

— Obrigado, meu caro conde. Herr von Heimrich? O prussiano era idoso, o comportamento brusco.

— Não tenho nenhum conselho neste caso, Herr cônsul geral. Só posso dizer formalmente que meu governo consideraria que se trata de uma questão exclusiva do seu governo, sem a interferência de partes menores.

Seratard ficou vermelho.

— Não considero...

— Obrigado por suas sugestões, cavalheiros — interveio Sir William, incisivo, evitando a briga que teria irrompido entre os dois.

No dia anterior, despachos do Ministério do Exterior em Londres informavam que a Inglaterra poderia em breve se envolver em mais uma das intermináveis guerras européias, desta vez entre a beligerante e orgulhosa França e a beligerante, orgulhosa e expansionista Prússia, mas sem prever em que lado. Não dá para entender por que esses demônios estrangeiros não podem se comportar como civilizados.

— Antes de fazer um julgamento — continuou Sir William —, já que todos de importância se encontram aqui, e nunca tivemos tal oportunidade antes, creio que devemos definir nosso problema. Temos tratados legais com o Japão. Estamos aqui para comerciar, não para conquistar territórios. Precisamos lidar com a burocracia dos japoneses, o Bakufu, que é como uma esponja... num momento finge ser todo-poderoso e, no seguinte, completamente impotente diante de seus diversos reis. Nunca conseguimos alcançar o verdadeiro poder, o xógum... nem mesmo sabemos se ele realmente existe.

— Ele deve existir — disse Von Heimrich, friamente — porque nosso famoso viajante e médico alemão, Dr. Engelbert Kaempfer, que viveu em Deshima de 1690 a 1693, fingindo ser holandês, informou tê-lo visitado em Iedo, na peregrinação anual que eles fazem.

— Isso não prova que existe um agora — declarou Seratard, cáustico. — Mas concordo que há um xógum e a França aprova um contato direto.

— Uma idéia admirável, monsieur — Sir William ficou vermelho.— E como faríamos isso?

— Mande a esquadra para Iedo — respondeu o russo, no mesmo instante — e exija uma audiência imediata, sob a ameaça de destruir o lugar. Se eu tivesse uma esquadra tão boa como a de vocês, primeiro destruiria a metade da cidade e depois exigiria uma audiência... ou, melhor ainda, ordenaria que esse tal de xógum nativo se apresentasse a bordo da minha nave capitânia no dia seguinte, e o enforcaria.

Muitos gritos de aprovação. Sir William disse:

— É sem dúvida um caminho, mas o governo de sua majestade prefere uma solução um pouco mais diplomática. Outro assunto: quase não temos informações concretas sobre o que está acontecendo no país. Agradeceria se todos os mercadores nos ajudassem a obter informações que possam ser úteis. Sr. McFay, entre todos os mercadores, deve ser o mais bem-informado. Pode nos ajudar?

McFay respondeu, cauteloso:

— Há poucos dias, um dos nossos fornecedores de seda japoneses disse a nosso compradore chinês que alguns dos reinos... ele usou a palavra “feudos”, e se referiu a seus reis como “daimios”... haviam iniciado uma revolta contra o Bakufu, em particular Satsuma e outros lugares, como Tosa, Choshu...

Sir William notou o imediato interesse dos outros diplomatas, e especulou se seria sensato fazer a pergunta em público:

— Onde eles ficam?

Satsuma fica perto de Nagasáqui, na ilha do Sul, Kyushu — respondeu Adamson. — Mas onde ficam Choshu e Tosa?

— Acho que posso explicar, excelência — disse um marujo americano, com um agradável sotaque irlandês. — Tosa é parte de Shikoku, que é a ilha grande, no mar interior. Choshu é mais para oeste, na ilha principal, Sr. Adamson, transversal ao Estreito. Já passamos várias vezes pelo estreito, tem menos de dois quilômetros na parte mais apertada. É o melhor e mais rápido caminho de Hong Kong ou Xangai para cá. Estreito de Shi-mono-seki, como chamam os locais, e em certa ocasião negociamos peixe e água na cidade, mas não fomos bem recebidos.

Muitos outros informaram que também já haviam usado o estreito, mas nunca souberam que o reino se chamava Choshu.

— Pode me dizer seu nome, por favor? — pediu Sir William.

— Paddy O’Flaherty, contramestre do baleeiro americano Albatroz, de Seattle, excelência.

— Obrigado. — Sir William fez uma anotação mental para convocar O’Flaherty mais tarde, a fim de obter mais informações a respeito, e descobrir se havia cartas da área; caso não existissem, mandaria a marinha providenciar. — Continue, Sr. McFay. Estava falando sobre a revolta.

— Pois não, senhor. Esse mercador de seda... não sei até que ponto ele é confiável... disse que havia alguma espécie de luta pelo poder contra o xógum, o Bakufu, e algum rei ou daimio que ele chamou de Toranaga.

Sir William percebeu que os olhos do russo se contraíam ainda mais, em suas feições quase asiáticas.

— O que é, meu caro conde?

— Nada, Sir William... mas não é esse o nome do soberano mencionado por Kaempfer?

— É, sim. — Por que nunca me contou antes que havia lido esses diários esclarecedores, escritos em alemão, uma língua que não conhece, e por isso devem ter sido traduzidos para o russo?, pensou Sir William. — Talvez “Toranaga” signifique soberano na língua deles. — Continue, por favor, Sr. McFay.

— Isso foi tudo que o homem disse ao meu compradore, mas vou me empenhar em descobrir mais. — McFay fez uma pausa, depois acrescentou, em tom polido, mas firme: — Vamos ou não acertar as contas com o rei Satsuma, em Hodogaya, esta noite?