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— Não vai acontecer.

Greyforth ficou tenso.

— Talvez o velho Brock nos honre com uma visita aqui muito em breve... acompanhado por Sir Morgan.

— Morgan está em Hong Kong?

McFay tentou evitar que seu espanto transparecesse. Sir Morgan Brock era o primogênito do Velho Brock e dirigia o escritório da companhia em Londres, com o maior sucesso. Pelo que Jamie sabia, Morgan nunca estivera na Ásia antes. Se Morgan aparecia de repente em Hong Kong... que nova manobra aqueles dois estariam tramando agora? McFay ficou apreensivo. Morgan especializara-se na atividade bancária mercantil, e com extrema habilidade espalhara os tentáculos da Brock pela Europa, Rússia e América do Norte, sempre pressionando as rotas comerciais e os fregueses da Struan. Desde que a guerra americana começara, no ano passado, McFay, assim como os outros diretores da Struan, vinha recebendo relatórios inquietantes sobre fracassos entre seus amplos interesses americanos, tanto no Norte quanto no Sul, onde Culum Struan efetuara investimentos consideráveis.

— Se o Velho Brock e seu filho nos honrarem com sua presença, não tenho a menor dúvida de que sentiríamos o maior prazer em lhes oferecer um jantar.

Greyforth riu, sem qualquer humor.

— Duvido que eles tenham tempo, exceto para inspecionar seus livros, quando assumirmos o controle.

— Nunca assumirão. Se eu tiver alguma noticia sobre a revolta, pode estar certo de que o avisarei. Por favor, faça a mesma coisa. E, agora, boa noite.

Com exagerada polidez, McFay levantou o chapéu e depois se afastou. Greyforth riu sozinho, satisfeito com as sementes que plantara. O Velho se sentirá feliz ao fazer a colheita, pensou ele, arrancando pelas raízes.

O Dr. Babcott avançava por um corredor, exausto, na semi-escuridão da legação em Kanagawa. Carregava um pequeno lampião a óleo e usava um chambre por cima do pijama de algodão. Lá embaixo, em algum lugar, um relógio bateu as duas horas. Distraído, ele enfiou a mão no bolso, conferiu seu relógio de algibeira, bocejou, bateu numa porta.

— Srta. Angelique?

Depois de um momento, ela indagou, sonolenta:

— O que é?

— Queria ser informada quando o Sr. Struan acordasse.

— Ah, obrigada.

Um instante depois, a porta foi aberta, e Angelique saiu. Tinha os cabelos um pouco desgrenhados, ainda sonolenta, usava um penhoar por cima da camisola.

— Como ele está?

— Bastante fraco, meio atordoado.

Babcott levou-a pelo corredor, desceram para a enfermaria, onde ficavam os quartos dos pacientes.

— A temperatura e a pulsação estão um pouco altas, mas isso era de se esperar. Dei-lhe uma droga para a dor, mas é um jovem forte e deve se recuperar.

Na primeira vez em que vira Malcolm depois do ataque, Angelique ficara chocada com a sua falta de cor e consternada com o mau cheiro. Além do que lia nos jornais parisienses sobre morte, agonia e enfermidades, sobre as epidemias de peste e moléstias que matavam — sarampo, varíola, tifo, cólera, pneumonia, meningite, coqueluche, escarlatina, febre puerperal, e assim por diante — que varriam Paris, Lyon e outras cidades de tempos a tempos, ela nunca tivera qualquer contato maior com a doença. Sua saúde sempre fora boa, a tia, o tio e o irmão eram igualmente abençoados.

Trêmula, pusera a mão na testa de Struan, afastara os cabelos suados de seu rosto, mas se apressara em sair, repugnada pelo cheiro que cercava o leito.

Num quarto próximo, Tyrer dormia tranqüilo. Para seu grande alívio, ela constatara que não havia cheiro ali. Pensara que ele tinha uma expressão serena no sono, enquanto a de Malcolm era atormentada.

— Phillip salvou minha vida, doutor — dissera ela. — Depois que golpearam o Sr. Canterbury, fiquei paralisada, mas Phillip jogou seu cavalo no caminho do assassino, dando-me tempo para escapar. Não posso descrever como foi horrível...

— Como era o homem? Seria capaz de reconhecê-lo?

— Não sei. Era apenas um nativo, jovem, eu acho, mas não tenho certeza, é difícil calcular a idade dessa gente, e ele foi o primeiro que vi de perto. Usava um quimono, com uma espada curta no cinto, e a grande estava toda ensangüentada, pronta para...

Os olhos de Angelique ficaram marejados de lágrimas. Babcott a conduzira gentilmente a um quarto, servira chá com um pouco de láudano e prometera que a chamaria no momento em que Struan acordasse.

E agora ele está acordado, pensou Angelique, sentindo os pés pesados, a náusea subindo pela garganta, a cabeça dolorida, povoada por imagens assustadoras. Eu bem que gostaria de não ter vindo, Henri Seratard me disse para esperar até amanhã, o comandante Marlowe foi contra, todos discordaram; então por que supliquei com tanto ardor ao almirante? Não sei, éramos apenas bons amigos, não namorados, noivos, ou...

Ou estou começando a me apaixonar, ou apenas consumida pela bravata, representando, porque todo este dia pavoroso tem sido como um melodrama de Dumas, o pesadelo na estrada não era real, a colônia enfurecida não era real, a mensagem de Malcolm chegando ao pôr-do-sol não era reaclass="underline" “Por favor, venha me ver assim que puder”, escrita pelo médico, a pedido dele... e eu não sou real, apenas represento o papel da heroína... Babcott parou.

— Chegamos. Vai encontrá-lo um tanto cansado, mademoiselle. Vou apenas me certificar de que ele está bem, e depois os deixarei a sós, por um ou dois minutos. Ele pode cair no sono de repente, por causa da droga que tomou. Não se preocupe com isso. Se precisar de mim, estarei na enfermaria, ao lado. Não exija demais dele, nem de si mesma, não se angustie com coisa alguma... lembre-se de que também passou por maus momentos.

Angelique respirou fundo, fixou um sorriso no rosto e entrou no quarto, atrás do médico.

— Olá, Malcolm, mon cher.

— Olá.

Struan estava muito pálido, parecia ter envelhecido, mas tinha os olhos claros.

Babcott falou jovialmente por um momento, examinou-o, verificou o pulso, encostou a mão em sua testa, balançou a cabeça, meio para si mesmo, disse que o paciente estava melhor, e se retirou.

— Você é tão bonita... — murmurou Struan, a voz antes vigorosa agora reduzida a um fio, sentindo-se estranho, flutuando, mas ao mesmo tempo pregado na cama, no colchão de palha encharcado de suor.

Angelique se adiantou.

— Como se sente? Lamento muito que tenha sido ferido.

— Joss — disse ele, usando a palavra chinesa que significava destino, sorte, a vontade dos deuses. — Você é tão bonita...

— Ah, chéri, como eu gostaria que nada disso tivesse acontecido, que eu jamais pedisse para dar um passeio a cavalo, que nunca desejasse visitar o Japão!