— Eu a amo e quero casar com você, Angelique.
— É muito cedo para dar uma resposta.
— Não concordo. Você é livre, sem qualquer compromisso.
— Porque não sou casada, e nunca fui?
— Acalme-se, meu bem. Precisa pensar com toda calma. Somos adultos, tenho o direito de perguntar, amo você, e quero casar.
Angelique baixou os olhos e reconheceu que precisava dele, era o único que podia protegê-la de Tess.
— Desculpe... a carta me deixou transtornada. Mas, realmente, ainda é muito cedo para dar uma resposta.
— Não concordo. Acho que você me ama, a promessa poderia ser particular, sem mais ninguém saber, só entre nós. Eu a amo e formaríamos um casal excepcional. — Gornt falava com absoluta sinceridade. — O futuro será vasto para nós, depois que isto... — Ele apontou para a carta. —... depois que isto não mais ameaçá-la. Temos muito em comum, assim como um objetivo comum, o de destruir nossa inimiga, com calma.
— Não o amo. Gosto de você, imensamente, talvez... talvez possa vir a amá-lo, com o tempo, e tentaria, se... se casasse com você... não, não se mexa, deixe-me terminar.
Seus dedos mexiam numa fivela de pérolas, que comprara na aldeia, e isso a lembrou que agora, já que MacStruan não mais aceitaria seus vales restantes, era a única jóia que ainda possuía, além do anel de noivado e do anel de jade. E André tornaria a procurá-la naquela tarde. Ela relegou essa preocupação para mais tarde e tratou de se concentrar. Curioso que Edward tenha a mesma idéia que eu. Pensamos igual, em muitas coisas.
— Prefiro deixar essa resposta para depois. Quando parte o próximo navio para Hong Kong?
— O melhor e o mais rápido seria o que vai zarpar amanhã de noite, o Atlant Belle, da Cooper-Tillman, direto para Hong Kong e depois San Francisco. — respondeu Gornt sem hesitar, as chegadas e partidas de todos os navios ocupando uma posição de destaque na mente de qualquer mercador. — Chegará a Hone Kong antes do nosso clíper, o Night Witch... que só deve chegar aqui dentro de três dias.
— E você gostaria de viajar no Atlanta Belle?
— Isso mesmo.
— Muito bem, Edward, vamos conversar sobre o que você acha que pode ser melhorado na proposta daquela mulher amanhã de manhã. Isso me daria tempo para pensar. Se concordarmos, então, por favor, siga o mais depressa possível para Hong Kong... e volte depressa.
— Combinado. Mas sua resposta ao meu pedido de casamento?
— Eu a darei quando você voltar.
— Preciso saber antes de partir.
— Por quê?
— Para o meu prazer.
Angelique percebeu o mesmo sorriso estranho e se perguntou o que havia por trás.
— Falando sério, por quê?
Gornt levantou-se, parou diante dela.
— Porque é vital para mim. Se casar comigo, o céu é o limite. Vai adorar Xangai, é a maior cidade da Ásia, faz com que Hong Kong pareça um lugar tacanho e atrasado, você será o grande sucesso da cidade e viverá feliz para sempre, eu prometo. E agora, por favor, quero sua promessa.
— Prometo que darei minha resposta quando você voltar. Deve haver confiança entre nós. — Angelique lembrou que dissera a mesma coisa a Tess. — Quando você voltar.
— Lamento, minha cara Angelique, mas preciso saber antes de partir.
— Ou não vai negociar com Tess por mim?
Ele não respondeu no mesmo instante.
— Negociarei por você. E gostaria de me casar amanhã, esta noite... não tem nada a ver com Tess. Mas não é possível partir sem uma resposta.
Gornt chegou mais perto, pôs as mãos nos ombros de Angelique, beijou-a na ponta do nariz.
— Jolie mademoiselle, uma resposta, por favor? Até o pôr-do-sol de amanhã? Terei de embarcar então. Uma resposta, perante Deus.
Naquela tarde, a notícia sobre Katsumata e o suicídio de Meikin foi transmitida a Raiko, em seus aposentos particulares. Ela desmaiou. Quando começou a se recuperar, mandou uma criada pedir a Hiraga que localizasse Akimoto e Takeda, com toda urgência, e viessem procurá-la, pois havia fatos terríveis a relatar. Eles não demoraram a aparecer.
Chorando sem qualquer constrangimento, retorcendo as mãos, ela informou nue Yoshi capturara Katsumata, falou sobre a morte dele e a de Meikin. a mama-san de Koiko, mas não revelou que fora ela quem o traíra.
— É o fim... se Yoshi descobriu tudo sobre Katsumata e Meikin, também sabe do meu envolvimento, sabe de vocês. Fomos todos traídos. Quem será o traidor? É apenas uma questão de tempo... — Outra vez o terror a dominou. — Vocês devem partir imediatamente, antes que os vigilantes os descubram... não podem mais continuar aqui...
— Pare! — sibilou Hiraga, o rosto branco.
Ele não estava mais disfarçado como serviçal da cozinha. Usava um quimono comum e se encontrava preparado para correr até seu santuário no túnel, os vigias agora confiáveis, sob pena de morte. Akimoto e Takeda também ficaram abalados. O fato de que Katsumata pudesse morrer como um covarde era inconcebível.
Não posso acreditar que o sensei se deixasse capturar vivo, pensou Hiraga. E Yoshi permitir que Meikin fizesse uma coisa assim com ele era repulsivo, por mais que merecido. Baka ser capturado vivo!
— Deixe-nos agora, Raiko. Falarei com você mais tarde.
— Obrigada, Sire, sinto muito, mas...
— Deixe-nos!
Ela se retirou, trôpega, contente por se livrar deles, odiando todos os shishi, mas sensatamente escondendo seu ódio. Takeda cuspiu de raiva.
— Yoshi não tem honra ao permitir que uma coisa assim acontecesse. Katsumata deve ser vingado!
Akimoto olhou para Hiraga, também angustiado.
— O que devemos fazer, primo? Essa velha megera tem razão, a busca será intensificada. Devemos escapulir esta noite. Vamos tentar, hem?
— Você é baka! Estamos cercados como ratos numa carcaça!
Embora simulasse raiva, Hiraga, na verdade, sentia-se tonto de alívio. Com Katsumata morto, não haveria agora necessidade de um ataque. Mais uma vez, ele assumia o comando de seu próprio destino.
— Não devemos cometer nenhum erro.
Takeda disse:
— Concordo que somos ratos numa armadilha aqui. Portanto, vamos atacar, como o sensei planejou. Temos as bombas agora. Sonno-joi!
— Não. Estamos seguros, por enquanto.
Akimoto disse:
— Hiraga, se Yoshi entregou Katsumata a essa Meikin, foi uma recompensa, neh? Em troca por traí-lo? Raiko fará a mesma coisa com a gente. E não poderia ser ela a traidora que denunciou os dois a Yoshi, em primeiro lugar?