— Akimoto, Takeda? — chamou ele, baixinho, não querendo abrir a porta de shoji sem avisar, pois eles podiam se mostrar perigosos se apanhados de surpresa.
Não houve resposta. Os roncos continuaram. Hiraga abriu a porta, sem fazer barulho. Akimoto estava arriado sobre a mesa, com frascos de saquê e garrafas de cerveja espalhadas pelo chão. Nenhum sinal de Takeda. Furioso, ele sacudiu Akimoto, xingando-o. O jovem saiu do estupor, os olhos turvos, apenas meio acordado.
— O que aconteceu?
A voz saiu engrolada, o rosto de Hiraga desfocado, oscilando.
— Onde está Takeda? Acorde! Baka! Onde está Takeda?
— Não sei. Nós... estávamos bebendo...
Por um segundo, Hiraga ficou imóvel, todo o seu mundo virando de cabeça para baixo, depois saiu correndo, atravessou o jardim, passou pela cerca, foi até o esconderijo das bombas.
Ficou atordoado. E depois se lembrou de que todos conheciam o plano, os melhores lugares para pôr as bombas. O pânico proporcionou velocidade a seus pés. Espiou debaixo do bangalô de Takeda, não pôde ver nada, mas logo sentiu o cheiro de fumaça de pólvora. Abaixou-se, rastejou entre os suportes baixos de pedra, mas o estopim fora bem escondido, a fumaça era dissipada pelas correntes de ar. Hiraga saiu lá de baixo e foi sacudir Akimoto de novo.
— Acorde! Levante-se!
Quando o primo, ainda embriagado, tentou empurrá-lo para longe, Hiraga bateu em seu rosto, com a mão aberta, duas vezes. A dor fez com que Akimoto recuperasse um pouco da percepção.
— Takeda pegou as bombas, está incendiando a estalagem, há uma aqui embaixo...
Hiraga obrigou-o a ficar de pé. Resmungando, apoiado nele, Akimoto saiu, trôpego, desceu os degraus para o jardim, o barulho do vento cada vez mais forte. E foi nesse momento que a bomba explodiu.
A explosão foi pequena, mas o suficiente para derrubá-los e abrir um buraco no chão, a maior parte do ruído abafada pelas vigas no chão e pelo vento. Mas o jato do óleo incendiado foi implacável. As chamas se projetaram para cima e para fora.
— Vá para o túnel e espere lá! — ordenou Hiraga, a voz rouca, antes de sair correndo.
O choque da explosão e de sua quase morte dissipou o estupor de Akimoto. Ele começou a correr, mas o vento arremessou algumas brasas, que o atingiram. Frenético, ele bateu em suas roupas, enquanto se afastava. Ao olhar de novo para o bangalô, constatou que se transformara num inferno — tatames de palha de arroz seca, telas de papel oleado, chão e vigas de madeira, telhado de colmo. Enquanto observava, o telhado desabou, com uma chuva de fagulhas, que foram sugadas para cima e levadas pelo vento para a habitação mais próxima. O colmo pegou fogo. Sinos de incêndio começaram a soar — criadas, servos, clientes, cortesãs, os guardas no portão, todos reagiram no mesmo instante.
Hiraga corria pelo caminho para o bangalô mais ao sul. Chegara a poucos metros de distância quando a bomba explodiu. O impacto foi menor do que o anterior, mas jogou-o contra os arbustos, o corpo batendo num dragão de pedra decorativo, fazendo-o soltar um grito de dor, a explosão bastante poderosa para derrubar todo um canto de suportes e parte do bangalô, que se inclinou, como uma pessoa embriagada. Uma parede irrompeu em chamas.
Ele forçou-se a levantar, pulou para a varanda, sem a menor hesitação, arremeteu pela parede de shoji em chamas, o óleo espirrado já provocando a devastação no interior, a fumaça sufocante. Hiraga levantou as mãos para o rosto, a fim de protegê-lo do calor escaldante, e prendeu a respiração contra a fumaça.
Avistou Tyrer jogado para um lado, tentando desesperado engatinhar, sufocado, cercado por chamas, que num instante transformaram a parede de shoji por trás dele, salpicada de óleo, num lençol de fogo. Outras chamas espalharam-se pelas demais paredes, as vigas de apoio e o telhado, lamberam o que restara do futon e da colcha em que Tyrer se deitava. A bainha de seu quimono de dormir rasgado pegou fogo. Hiraga saltou para a frente, bateu com os pés para apagar as chamas da bainha, ajudou-o a se levantar. Um olhar para Fujiko foi suficiente. A bomba a cortara ao meio. Já estava sem cabelos, virando cinza.
Meio cego pela fumaça, Hiraga arrastou Tyrer para fora do bangalô. No segundo em que saíram, o telhado desabou, derrubando-os no chão. O jato resultante de fagulhas e brasas, convertido num lança-chamas pelo vento, começou a incendiar outras construções, cercas, a casa de chá no jardim ao lado. Soavam gritos por toda parte, alertas contra incêndio, pessoas já formavam filas, correndo para um lado e outro com baldes, ou indo buscar mais baldes, a maioria usando agora máscaras molhadas contra a inalação de fumaça, o que todos já tinham feito, em abundância.
Atônito por ainda estar vivo, tossindo e engasgando, Hiraga bateu num trecho em brasa no peito do seu quimono, a espada curta no cinto, a espada longa desaparecida. Até onde podia determinar, Tyrer se encontrava ileso, mas era impossível ter certeza, já que ele não estava de todo consciente, o peito arfando, tossindo e vomitando devido à fumaça inalada. Desesperado, Hiraga ficou parado ao seu lado, a fim de recuperar o fôlego e o raciocínio. Olhou ao redor, à procura de novos perigos. A habitação mais próxima irrompeu em chamas, depois a seguinte, cortando seu caminho de fuga.
Katsumata tinha razão, pensou ele. Com este vento, a Yoshiwara está condenada. E também a colônia.
À beira da terra de ninguém, a patrulha de soldados ficou imóvel, chocada — assim como todas as pessoas na cidade dos bêbados que se encontravam sóbrias —, olhando por cima da cerca, na direção da Yoshiwara. Duas colunas de fogo e fumaça turbilhonante projetavam-se para o céu e soavam gritos e sinos distantes, os sons trazidos pelo vento. Ouviram o barulho fraco de uma terceira explosão. Uma terceira fonte de chamas. A fumaça começou a envolvê-los. Algumas fagulhas passaram por eles.
— Deus Todo-Poderoso! — exclamou o sargento, saindo de junto do armazém para ver melhor. — Isso foi uma bomba?
— Não sei, sarja. Pode ter sido um barril de óleo explodindo. Mas é melhor voltarmos, pois o fogo vem em nossa direção e...
A bomba incendiária que Takeda colocara no outro lado do armazém detonou nesse momento. Instintivamente, todos se abaixaram. Mais fumaça, fogo crepitando, berros dos moradores da cidade dos bêbados mais próximos, pedidos por baldes.
— Fogo! Fogo! Depressa, pelo amor de Deus! Aquele é o armazém em que fica guardado o óleo de lampião!
Homens seminus entravam e saíam correndo das casas próximas, na tentativa de salvar seus valores. Num ponto mais abaixo da rua, a casa da Sra. Fortheringill estava se esvaziando, mulheres e fregueses praguejando e suando, vestindo suas roupas. Mais sinos de alarme soaram. E o saque começou.
Mais além, no portão sul, os disciplinados samurais entraram em ação, correndo para a Yoshiwara com escadas e baldes, máscaras molhadas contra a fumaça cobrindo seus rostos. Uns poucos desviaram-se para combater o fogo no armazém, uns poucos seguiram em frente. As chamas do telhado do armazém, impelidas pelo vento, saltaram pela viela, para atacar a fileira seguinte de construções, que pegaram fogo no mesmo instante.