Выбрать главу

— Eu sabia que fora terrível, mas isto...

As palavras definharam. Sir William estava atordoado. Nenhum deles dormira. Os sinais de fadiga e preocupação estampavam-se em seus rostos, as roupas chamuscadas e sujas, a de Pallidar toda rasgada, em piores condições. Enquanto o sol surgia, podiam contemplar todo o panorama, até Hodogaya, na Tokaidô.

A Yoshiwara não mais existia, nem a aldeia, a maior parte da cidade dos bêbados, mais da metade da colônia, inclusive os estábulos. Ainda não havia um relatório confirmado de baixas, mas circulavam rumores abundantes, todos ruins. Também não havia ainda uma causa confirmada para a catástrofe. Muitos bradavam incêndio criminoso por japoneses, mas que japoneses, e por ordem de quem, ninguém sabia, embora a destruição da Yoshiwara e da aldeia não fosse incomodar nenhum deles, se com isso pudessem alcançar seus objetivos.

— Vai ordenar a evacuação esta manhã?

A cabeça de Sir William doía com mil perguntas e presságios.

— Primeiro, uma inspeção. Obrigado, Thomas. Pallidar, venha comigo. Ele esporeou seu pônei pela encosta abaixo. Parou por um momento diante da legação.

— Alguma novidade, Bertram?

— Não, senhor. Nem nomes ou números confirmados, por enquanto.

— Mande chamar imediatamente o ancião da aldeia, o shoya. Peça a ele para descobrir quantas baixas teve e vir falar comigo o mais depressa possível.

— Não falo japonês, Sir William, e Phillip Tyrer não está aqui.

— Pois então trate de encontrá-lo! — berrou Sir William, satisfeito pela oportunidade de descarregar um pouco de sua ansiedade acumulada e a preocupação com Tyrer. Foi recompensado ao ver o jovem empalidecer. — E aprenda logo japonês ou vou despachá-lo para a África, lá aprenderá o que é bom! Quero todos os mercadores seniores reunidos aqui dentro de uma hora... Não, não aqui, no clube é melhor. Vamos ver... São seis e vinte agora. Marque a reunião para as nove e meia e, pelo amor de Deus, comece logo a usar a droga da sua cabeça!

Idiota, pensou Sir William, afastando-se a trote, já se sentindo melhor. Sob o céu clareando, os habitantes de Iocoama começavam a recolher os fragmentos de suas vidas. A princípio, Sir William, escoltado por Pallidar, manteve-se na High Street, cumprimentando a todos, respondendo a perguntas, sempre com a mesma declaração:

— Primeiro, deixem-me dar uma olhada. Convoquei uma reunião no clube as nove e meia. Até lá, já terei uma avaliação melhor da situação.

Mais perto da cidade dos bêbados, o cheiro de prédios queimados piorou. Naquela madrugada, quando o vento amainara, por volta das duas horas, os incêndios haviam se extinguido rapidamente e as chamas deixaram de saltar de uma casa para outra. Só isso salvara a colônia da destruição completa. Todas as legações estavam salvas, assim como o prédio da capitania do porto, dos principais mercadores e seus armazéns, da Struan, Brock, Cooper-Tillman e outras companhias. O prédio de Lunkchurch fora destruído.

O fogo parara pouco antes da Santíssima Trindade, deixando-a intacta. Ele agradeceu a Deus por um milagre tão conveniente. Mais além, a igreja católica perdera a maior parte de suas janelas e telhado, tinha a entrada chamuscada, as vigas ainda fumegavam, dando a impressão de uma boca escancarada com dentes apodrecidos.

— Bom dia. Onde está o padre Leo? — perguntou Sir William a um homem que fazia limpeza no jardim.

— Na sacristia, Sir William. Bom dia, fico satisfeito por ver que está são e salvo, Sir William.

— Obrigado. Lamento por sua igreja. Convoquei uma reunião no clube, às nove e meia. Pode espalhar a notícia? O padre Leo será bem-vindo, é claro.

Sir William seguiu em frente. Ao contrário do que acontecia na aldeia e na Yoshiwara, onde pilhas de cinza limpa se acumulavam em montes, como neve, as áreas devastadas da colônia e da cidade dos bêbados eram uma confusão de tijolos, lajes de pedra, metal retorcido, restos de máquinas, ferramentas, armas, canhões, bigornas e outros produtos manufaturados, tudo transformado em lixo. A chaga purulenta da terra de ninguém estava limpa, exceto pelos metais, e isso o agradou.

Ele seguiu pelo caminho sinuoso para o portão sul. A casa da guarda desaparecera. Uma barreira improvisada fora erguida no vazio, e havia samurais de sentinela ali.

— Mas que idiotas! — murmurou Pallidar. — Eles estão fazendo uma barricada contra o quê?

Sir William não respondeu, absorto no que podia ver e no que podia fazer. À frente, junto ao canal e ao fosso, podia ver aldeões e outras pessoas circulando ou agachados em grupos desolados. No outro lado do fosso, onde antes existia a Yoshiwara, havia também grupos de mulheres, cozinheiros e outros criados sentados ou de pé, em torno da única estrutura parcial que não fora destruída, usando telas de lona como abrigo. Samurais ainda jogavam água em focos de fogo aqui e ali. O vento brando trazia o som de muitas pessoas chorando.

— Terrível, senhor — comentou Pallidar.

— Tem razão.

Sir William suspirou e fez novo esforço; cabia a ele dar o exemplo e, por Deus, iria agir como deveria fazer o ministro de sua majestade britânica para o Japão.

— Foi mesmo lamentável, mas dê uma olhada ali. — No penhasco, o acampamento de barracas continuava intacto. — Todos os nossos soldados estão sãos e salvos, os canhões seguros, todos os armamentos e o depósito de munições incólumes. E dê uma olhada ali!

Na baía, a esquadra continuava ilesa, a bandeira britânica tremulando orgulhosa nos mastros. Com o amanhecer se transformando em dia, todos os cúteres disponíveis navegavam de um lado para outro, trazendo homens para a praia ou levando-os de volta aos navios para comer, beber e dormir.

— Todo o resto é substituível, menos as pessoas. Reúna alguns soldados e inicie uma contagem de cabeças e montarias. Preciso saber quantos perdemos, até a reunião das nove e meia. Trate de se apressar.

— Pois não, senhor. Quase todos os estábulos se encontravam abertos e os cavalos correram para o hipódromo ou o penhasco. Vi o garanhão de Zergeyev ali, com dois cavalariços.

Subitamente, Pallidar ficou radiante, não se sentindo mais desesperado.

— Tem toda razão, Sir William! Oh, Deus, como tem razão! Enquanto o exército e a marinha estiverem sãos e salvos, estamos todos bem, não teremos maiores problemas. Obrigado.

Ele se afastou a galope. Sir William concentrou sua atenção no interior. O que fazer? O que fazer? Seu pônei puxou as rédeas, nervoso, escarvou a terra, sentindo a inquietação do cavaleiro.

— Bom dia, Sir William. — Pálido de fadiga, Jamie McFay aproximou-se, saindo de trás das ruínas de um prédio, agora uma pilha de estruturas de metal retorcidas, os restos de armações de cama, de móveis queimados. Suas roupas estavam rasgadas, chamuscadas em alguns pontos, os cabelos emaranhados. — Quantos perdemos? Quais são as últimas novidades?

— Ainda não temos nada de concreto. Pelo bom Deus, isso é... isso é tudo o que restou do prédio do Guardian e dos prelos?

— Receio que sim. Mas tome aqui.