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Jamie parou o cavalo ao lado de Sir William e estendeu uma folha de papel mal impressa, com uma manchete borrada, que anunciava: IOCOAMA ARRASADA. SUSPEITA DE INCÊNDIO CRIMINOSO. PRÉDIOS DA STRUAN E BROCK INTACTOS, EXÉRCITO, MARINHA E TODOS OS NAVIOS SALVOS. CALCULA-SE QUE FATALIDADES FORAM ALTAS NA YOSHIWARA E ALDEIA. Depois, um breve editorial, com a promessa de que sairia uma edição naquela tarde, e um pedido de desculpas pelos problemas de impressão.

— Nettlesmith está ali.

Sob um telheiro improvisado, Sir William avistou Nettlesmith, desleixado e sujo, operando o prelo manual, diligente, seus funcionários ajeitando tipos em bandejas, outros ainda recuperando o que podiam das cinzas.

— Soube que você tirou alguns aldeões de um prédio, Jamie, salvou suas vidas.

Ainda era difícil para Jamie pensar direito. Vagamente, recordava que não encontrara Nemi, nem tivera qualquer notícia dela, mas não se lembrava de mais nada.

— Não me lembro muito bem... reinava o caos por toda parte... outros faziam a mesma coisa ou ajudavam pessoas a irem para o hospital... — A cabeça estava tonta de cansaço. — Soube ontem à noite que Phillip estava perdido. É verdade?

— Não sei. Espero que nada tenha lhe acontecido, mas também ouvi o rumor. — Sir William deixou escapar um suspiro ruidoso. — Passaram-me essa informação, há muitos rumores, mas aprendi que não se deve confiar em rumores. Correu a notícia de que Zergeyev morrera na Yoshiwara, assim como André. Há poucos minutos, no entanto, avistei Zergeyev. Portanto, como eu disse, é melhor esperar.

Ele indicou a folha de papel e indagou:

— Posso ficar com isto, Jamie? Obrigado. Convoquei uma reunião para as nove e meia, a fim de discutir o que devemos fazer. Sua opinião seria valiosa.

— Não há muito o que discutir, não é mesmo? Estou liquidado.

— Ao contrário, Jamie, há muito o que discutir. No fundo, tivemos muita sorte. O exército e a marinha... — Sir William desviou os olhos, levantou o chapéu. — Bom dia, miss Maureen.

Ela ainda usava as mesmas roupas, mas com o rosto lavado, um sorriso exuberante.

— Bom dia, Sir William. É um prazer vê-lo são e salvo, saber que nada aconteceu com a legação. Bom dia, amor.

O sorriso de Maureen tornou-se ainda mais especial. Abraçou Jamie, fazendo um esforço para não parecer muito ansiosa, resistindo à vontade de beijá-lo, por mais que desejasse... ele estava lindo em suas roupas chamuscadas, o rosto com a barba por fazer, contraído em preocupação, mas nada que uma sopa quente, um uísque e um bom sono não pudessem curar.

Ao vir para cá, ao seu encontro, muitos haviam lhe contado como Jamie se mostrara corajoso durante a noite. Ela passara a maior parte da noite acalmando a Sra. Lunkchurch e a Sra. Swann, seus maridos e outros no armazém da Struan, distribuindo a bebida do demônio, como sua mãe chamava todas as beberagens alcoólicas — embora não na presença de seu pai —, cuidando de queimaduras ou levando feridos a Hoag e Babcott, que haviam instalado um hospital de campanha tão perto quanto possível das piores áreas.

— Você parece muito bem, Jamie, apenas exausto.

— Não mais do que outros.

Sabendo que fora esquecido — e com alguma inveja por isso —, Sir William saudou-os com seu chicote.

— Até mais tarde, Jamie. Miss Maureen.

Os dois observaram-no se afastar a trote. A proximidade de Maureen era agradável para Jamie. Abruptamente, sua felicidade e apreensão pelo futuro afloraram, ele virou-se, abraçou-a e apertou-a, com toda a intensidade de sua angústia. Maureen fundiu-se nele, feliz, esperou, procurando lhe transmitir sua força.

Depois de algum tempo, Jamie sentiu que se recuperava, a coragem voltou, o senso de integração prevaleceu.

— Deus a abençoe, Maureen. Não posso acreditar, mas você me fez voltar à vida. Deus a abençoe.

Ele se lembrou de Tess, dos cinco mil guinéus que Maureen lhe arrancara, de Maureen dizendo que amanhã as coisas não serão tão ruins assim e sua alegria explodiu.

— Por Deus, Sparkles, você tem toda razão! — disse ele, tornando a abraçá-la. — Estamos vivos, temos sorte, tudo vai acabar bem, graças a você!

— Não precisa exagerar, meu rapaz — murmurou ela, com um pequeno sorriso, a cabeça encostada na de Jamie, não querendo largá-lo ainda. — Não tive nada a ver com isso.

É tudo obra de Deus, pensou Maureen, sua dádiva especial para as mulheres, assim como sua dádiva para os homens é fazer a mesma coisa pelas mulheres em ocasiões especiais.

— É apenas a vida, Jamie.

Ela usou “vida”, mas poderia também ter dito “amor”, embora não tivesse certeza total de que era mesmo isso.

— Estou orgulhoso de você, menina. Foi maravilhosa ontem à noite.

— Não fiz nada demais. E agora vamos embora. Você precisa tirar um cochilo.

— Não tenho tempo para cochilos. Preciso falar com o shoya.

— Um cochilo antes da reunião. Eu o acordarei com uma xícara de chá. Pode usar minha cama. Albert diz que é nosso quarto por tanto tempo quanto quisermos; não deixarei ninguém incomodá-lo.

Sorrindo, apesar da sugestão, ele perguntou:

— O que pretende fazer?

Maureen abraçou-o.

— Ficarei segurando sua mão e contarei uma história até você dormir. Vamos embora.

Tyrer abriu os olhos e descobriu-se no inferno, todos os ossos doendo, cada respiração queimando o peito, os olhos ardendo, a pele em tormento. Na escuridão acre e enfumaçada, podia ver rostos japoneses sem corpo espiando-o, dois deles, as bocas contorcidas em sorrisos cruéis, dando a impressão de que a qualquer momento tornariam a levantar seus forcados e recomeçariam a torturá-lo. Um rosto chegou mais perto. Ele recuou e deixou escapar um grito de dor. Através das brumas ouviu palavras em japonês e depois em inglês:

— Taira-sama, acorde, você seguro!

O nevoeiro que envolvia sua mente se dissipou.

— Nakama?

— Sim. Você salvo.

Agora ele percebeu a luz de um lampião a óleo. Pareciam estar numa caverna e Nakama lhe sorria. Assim como o outro rosto. Saito! O primo de Nakama, o que se interessava por navios... Não, este não é Nakama, este é Hiraga, o assassino!

Tyrer se empertigou abruptamente, caiu para trás, contra a parede do túnel, a dor de cabeça cegando-o por um momento, enquanto tossia e tossia, a bílis e um gosto horrível de fumaça provocando ânsias de vômito. Quando não havia mais nada para subir, depois que passou o espasmo, ele sentiu um copo comprimido contra seus lábios. Bebeu a água gelada, na maior ansiedade, engasgando um pouco.

— Desculpe... — balbuciou ele.

Hiraga tornou a ajeitar a manta em torno de seu quimono de dormir meio queimado.