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Uma batida na porta. Bertram anunciou:

— O shoya está aqui, Sir William.

— Um momento bem oportuno. Mande-o entrar. Phillip, antes de ir se deitar, quero que traduza tudo para mim. Entre, entre, Sr. shoya.

O shoya fez uma reverência deferente, cauteloso.

— Meu superior cumprimentar você, shoya — traduziu Tyrer, ainda atordoado, a mente em outro lugar, ansioso em deitar, avaliar toda a situação. — Por favor, dizer quantos perder no fogo?

— Por favor, agradeça a ele por sua gentileza ao perguntar, mas diga que não precisa se preocupar com os nossos problemas.

O shoya achou a pergunta espantosa, pois aquilo não era da conta dos gai-jin. Que armadilha estão querendo armar para mim?, especulou ele.

— Meu superior dizer querer saber quantos perder?

— Oh, sinto muito, mas ainda não tenho certeza da contagem final, mas já sabemos que cinco pescadores e duas famílias foram para o outro mundo.

O shoya falou com toda polidez, inventando um número, já que o líder gai-jin insistia em saber “quantos perder”, o que indicava que esperava um número. Na verdade, não haviam perdido nenhum dos seus, nem crianças, nem barcos, já que o alarme soara com bastante antecedência.

— Meu superior dizer sentir muito. Ele poder ajudar aldeia?

— Ah, sim! Por favor, agradeça ao grande lorde. As famílias podiam aproveitar alguns sacos de arroz, talvez um pouco de dinheiro, qualquer ajuda em comida ou...

O shoya deixou a sugestão pairando no ar, para que eles pudessem decidir com que mais ajudariam. Seria outra armadilha?

— Meu superior dizer que mandar comida para aldeia. Por favor, contar como fogo começar.

O shoya refletiu que era uma loucura total dos gai-jin esperar uma resposta a tal pergunta. Era perigoso se envolver em política, ainda mais no conflito entre os shishi e o Bakufu. Embora lamentasse profundamente a perda de todos os seus lucros, quando os gai-jin deixassem suas praias amanhã, ou no dia seguinte, nem tudo estava perdido, porque todos os seus livros, recibos e lingotes se encontravam salvos, e por causa de seu acordo com o gai-jin Jami, que se tornara ainda mais importante agora. Tenho certeza de que minha stoku kompeni não será afetada.

Ao mesmo tempo, ele sentia-se satisfeito com os shishi ousando expulsá-los, atribuindo a culpa ao infame Bakufu. Sonno-joi. Estaremos melhor sem os gai-jin aqui. É muito melhor que eles fiquem restritos à pequena Deshima, em Nagasáqui, como no passado. Abrirei uma sucursal em Nagasáqui e estarei preparado quando eles voltarem. Se é que algum dia voltarão.

— Sinto muito, mas deve ter sido óleo derramado numa cozinha — respondeu ele, com uma reverência humilde. — Apenas na Yoshiwara cozinham de noite, nós não. Por favor, desculpem, mas isso é tudo o que sei.

— Meu superior dizer que esse homem Nakama, ou Hiraga, o shishi que lorde Yoshi procurar, ele visto soldados, que tentar apanhar ele. Ele fugir e morrer no fogo. Você conhecer ele?

O presságio ruim do shoya triplicou, embora também tivesse sido informado da morte, o que o deixara bastante satisfeito.

— Por favor, desculpem, mas só conhecia como um cliente, nunca como um shishi. Morto? Mas é ótimo que o assassino esteja morto. Maravilhoso!

Sir William suspirou, cansado das perguntas e respostas.

— Agradeça a ele, Phillip, e dispense-o.

O velho se retirou, agradecido. Sir William disse:

— E agora, Phillip, vá se deitar. Esteja pronto para partir ao meio-dia.

— Como, senhor?

— Para Kanagawa, a reunião com Yoshi. Não tinha esquecido, não é?

Tyrer ficou estupefato.

— Com toda certeza, senhor, Yoshi não deve estar nos esperando agora — balbuciou ele, experimentando uma náusea intensa à perspectiva de uma prolongada reunião, traduzindo as nuances do tratado. — Com toda certeza!

— E é justamente por isso que iremos até lá — declarou Sir William, radiante. — Para deixá-lo surpreso, hem? Somos britânicos, não um bando de idiotas fracos e vacilantes. Apenas tivemos um pequeno contratempo, um estorvo insignificante.

Ele pôs o casaco e acrescentou para Tyrer:

— Até meio-dia e não deixe de vestir seu melhor traje.

— Mas ele não vai aparecer, não depois do que aconteceu aqui!

— É possível. Mas se Yoshi não aparecer, ele é que vai ficar mal, não nós.

— Não posso ir, Sir William, não como intérprete. Estou... estou exausto e não poderei ir, não hoje. Sinto muito.

— Receio que terá de ir de qualquer maneira. Não podemos perder a pose e todas essas coisas.

Tyrer viu o sorriso fino, a frieza voltando. E a atitude inflexível.

— Desculpe, senhor, mas não posso. Por favor, deixe que André cuide disso. Ele é melhor do que eu.

— Você é que terá de ir — disse Sir William, sem o menor vestígio de bom humor agora. — André Poncin morreu.

Tyrer quase caiu.

— Não é possível... Como?

— Na Yoshiwara. Recebi a notícia pouco antes de você chegar, e foi por isso que me senti tão aliviado ao vê-lo são e salvo.

Ao dizer isso, Sir William lembrou-se subitamente do envelope lacrado que André deixara com ele, no cofre da legação, para ser aberto no caso de sua morte.

— Henri identificou-o, na medida em que se pode identificar um cadáver naquele estado. O anel de sinete ainda estava em seu dedo... — Ele sentiu uma náusea ao pensar no assunto. — O pobre coitado foi carbonizado em sua garçonnière. Fui informado que ficava a poucos metros da sua, na mesma casa de chá. Eu diria que você teve muita sorte, Phillip. Esteja pronto ao meio-dia.