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— Ei, olhem só! — gritou alguém, por trás dele.

Sir William virou-se e observou, espantado, com a maior inveja, assim como os outros que saíam do clube.

Na área desolada em que antes existia a aldeia, havia agora todo um enxame de homens, mulheres e crianças diligentes, limpando e trabalhando, com o mesmo empenho de formigas num formigueiro, todos com o mesmo objetivo: reconstituir o que desaparecera. Duas casas, com telhado e paredes de shoji, já se encontravam prontas e havia outras parcialmente erguidas. Muitas pessoas carregavam tábuas e paredes de shoji de pilhas além do portão sul.

É uma pena que o nosso pessoal não demonstre a mesma diligência, pensou Sir William, impressionado. Ele também viu, no outro lado do fosso, através da ponte reparada, a ponte para o paraíso, mais atividade, um portão provisório erguido, balançando à brisa.

Do lugar em que se encontrava, podia ler os caracteres chineses, tão apreciados, muito bem lembrados... a tradução para o inglês também inscrita ali, parecendo de certa forma exótica na caligrafia: O desejo não pode esperar, deve ser satisfeito.

Naquela tarde, o mar sereno, o céu ainda nublado, o cúter da Struan aproximou-se do cais em Iocoama, voltando da reunião com Yoshi em Kanagawa. O galhardete de Sir William tremulava no mastro. As pessoas na cabine, Sir William, Seratard e Tyrer, cochilavam... Tyrer como um morto. O contramestre tocou o apito, pedindo passagem aos cúteres que se acumulavam nas proximidades do atracadouro, mas soaram gritos de “espere a sua vez!”, com uma ampla variedade de palavrões como pontuação. Sir William abriu os olhos e berrou para o contramestre:

— Deixe-nos no cais da Brock!

Quando o contramestre sugeriu que o Sr. MacStruan não ia gostar, Sir William acrescentou:

— Faça logo o que estou mandando!

Os outros foram arrancados do sono, mas Tyrer murmurou algumas palavras incompreensíveis e voltou a dormir. Seratard esticou-se, reprimiu um bocejo.

— Grande almoço, William, um excelente peixe. — Sem notar, ele passou a falar em francês. — Eu teria preferido um molho de manteiga com alho e salsa. Mas não importa. Seu chefe inglês, o que mais poderia fazer?

— Ele é chinês — protestou Sir William, jovial.

A reunião transcorrera exatamente como ele planejara. Ou seja, não houvera nenhuma reunião. Haviam chegado a tempo, esperaram meia hora e depois chamaram o governador local, Tyrer dizendo que não podia entender o que acontecera com lorde Yoshi.

— Ele estar doente?

— Ah, sinto muito, não sei o que o lorde...

— Meu superior dizer: Perguntar pela saúde de lorde Yoshi, dizer nós estar aqui, conforme combinado. Assim que ser possível, marcar novo dia, por favor.

Deliberadamente, Tyrer abandonara todas as cortesias. O governador ficara vermelho, fizera uma reverência, do tipo reservado a superiores, pedira desculpas mais uma vez e se retirara apressado, consternado porque os gai-jin continuavam ali. Como não podia deixar de ser, todas as pessoas civilizadas, dali até Iedo, haviam visto o incêndio, presumindo que os gai-jin, os que restassem, lamberiam suas queimaduras, embarcariam nos navios, juntando-se ao êxodo, e iriam embora.

Depois que o governador e sua comitiva se retiraram, Sir William sugerira um almoço sem pressa, conduzindo Seratard à sua adega substancial.

— Merecemos uma celebração, Henri. O que gostaria de beber? Tivemos realmente muita sorte ontem à noite... exceto por André, pobre coitado.

— Tem razão. Uma pena. A vontade de Deus. — Seratard franzira o rosto, ainda olhando para os rótulos. — Ah, Montrachet, 51! Duas garrafas?

— Duas no mínimo. George vai nos acompanhar no almoço. Podemos também saborear um Margaux... recomendo o 48, Château Pichon-Longuville... e um Château d’Yquem com o pastelão.

— Perfeito. É uma pena que não tenhamos queijo. Não há a menor possibilidade de Yoshi aparecer agora?

— Se ele vier, não o veremos.

— Na reunião no clube, você disse que teríamos um jantar esta noite. Quer discutir alguma coisa com os outros?

— Isso mesmo. — A adega era fresca e agradável. Havia uns poucos copos no aparador, ao lado das prateleiras. Sir William selecionara meia garrafa de champanhe e começara a abri-la. — Acho que devemos fingir que o incêndio não é o desastre que realmente foi e prosseguir com os nossos planos contra Sanjiro e sua capital, Kagoshima.

— Agora? — Seratard ficara surpreso. — Mas não acha que seria perigoso demais enviar a esquadra num momento em que nos tornamos tão expostos? Não seria uma tentação para eles?

— E muito grande, mas é justamente esse o meu ponto. Minha proposta é enviarmos apenas navios de guerra britânicos, mantendo aqui sua nave capitânia e a dos russos, junto com os navios mercantes armados. Cancelamos o envio de unidades do exército para o desembarque proposto e despachamos apenas os fuzileiros. E nos limitaremos a um bombardeio do mar.

Ele tirara a rolha e servira o champanhe.

— Isso tornará a missão de Ketterer muito mais fácil. Ele jamais gostou da idéia de comandar um desembarque dos navios. Agora, pode ficar a distância na baía e arrasar os japoneses. Saúde.

Os dois homens bateram seus copos, Seratard avaliando a proposta para descobrir os perigos latentes, quaisquer lugares em que seu adversário plantara minas para prejudicar os interesses franceses. Não havia nenhum. Ao contrário, ajudava seu plano a longo prazo de se insinuar na confiança de Yoshi, fazendo-o compreender que os ingleses eram os bárbaros, não os franceses, e que a França, que comparava a si mesmo, merecia toda confiança, sabia ser paciente e via mais longe.

— Uma safra maravilhosa, William. En príncipe, sim, mas eu gostaria de consultar meu almirante.

— Por que não? Depois, faremos o seguinte...

O almoço fora bastante agradável. No momento oportuno, embarcaram no cúter e agora Sir William equilibrava-se com a maior agilidade, enquanto a embarcação era atracada no cais da Brock, uma ocorrência inédita. Avistou Gornt ao lado de alguns baús, junto com um empregado, perto dos degraus do cais.

— Espero que não tenha se incomodado, Sr. Gornt — disse ele. — Requisitei o cúter, que está sob a minha bandeira, não da Struan.

— O prazer é meu, Sir William. Como foi a reunião?

— O sujeito não apareceu. Acho que esperava que nós não comparecêssemos.

— Ele perdeu prestígio com isso, daqui até Timbuctu.