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— Concordo. — O que fora a sua idéia, pensou Sir William, com um sorriso secreto, enquanto apontava para as malas. — Não vai embora, não é?

— Claro que não, senhor. Mas viajarei até Hong Kong, pelo paquete que zarpa esta noite, a fim de providenciar material de construção para nós e para os outros.

— Boa idéia. Desejo uma viagem segura e rápido retorno.

Sir William ergueu o chapéu e afastou-se em seguida, junto com Seratard. Tyrer, doente de cansaço, cambaleou atrás deles, mal reconhecendo Gornt.

— Leve estes baús para bordo, Pereira — ordenou Gornt. — Avise ao capitão que embarcarei dentro do horário. Olá, doutor.

Hoag aproximou-se, acompanhado por alguns cules, carregando um baú de viagem marítima e várias malas.

— Olá, Edward. Soube que você também vai viajar no Atlanta Belle. — Hoag estava sem fôlego, aflito, as roupas e as mãos manchadas de sangue e sujas, os olhos injetados. — Posso pedir a seu pessoal para levar minha bagagem para bordo? Ainda tenho uma dúzia ou mais de braços e pernas para encanar, várias queimaduras... muito obrigado.

Ele se afastou apressado, sem esperar por uma resposta.

— Leve isso para bordo também, Pereira.

Gornt franziu o rosto e se perguntou: por que Hoag está com tanta pressa em partir?

Tudo fora arrumado como deveria, tudo providenciado para que a Brock continuasse a operar sem problemas durante sua ausência: a que mercadores dar crédito, a que mercadores negar; amanhã ou no dia seguinte, os representantes de Choshu deveriam chegar para negociar os embarques de armas — um bom negócio para ele próprio usufruir, depois que os Brocks fossem destruídos, e depois, como planejado também, que adquirisse as instalações e o pessoal da companhia aqui... a preços de salvados de incêndio, é claro. Ele riu para si mesmo da piada. Em seguida, a concessão de carvão de Yoshi, que ele soubera que poderia ser transferida da Struan para Seratard, através da companhia comercial do falecido André Poncin, e que talvez ainda estivesse disponível para ofertas. Instruíra seu cambista a apresentar uma oferta, em segredo.

Pereira ficaria no comando. Na noite passada, ao saber por Maureen que o novo escritório de Jamie fora destruído no incêndio, ele planejara designá-lo; mas naquela tarde, para sua surpresa, Jamie agradecera e recusara, dizendo que achava que seria capaz de reiniciar seu próprio negócio.

Jamie seria mais glacê na glacê, pensou Gornt. Mas não importa, Jamie ainda vai assumir por mim, quando tudo for a Rothwell-Gornt. Sentia isso no íntimo.

O sinete de Norbert estava ali, assim como as duas cartas com datas atrasadas para Tess. Seu cinto de dinheiro tinha recursos da Brock, mais do que suficiente para as despesas, em mex de prata e ouro. Ótimo. Tudo resolvido.

Agora, faltava Angelique.

— Olá, Edward — disse ela, com um sorriso efusivo.

Era a primeira vez que ela o recebia em seu boudoir, no segundo andar. Ah Soh postava-se ao lado de um balde de gelar vinho e ele notou que a porta para o quarto estava fechada, o cortinado corrido, embora a claridade do dia ainda não tivesse desaparecido por completo, lampiões a óleo acesos, o cômodo feminino, convidativo, o comportamento de Angelique recatado, estranho.

— Vinho branco, para variar — disse ela, jovial. — La Doucette. Ou bourbon, se preferir.

— Vinho, por favor, madame. Nunca a vi com uma aparência melhor.

— O mesmo posso dizer a seu respeito, meu amigo. Por favor, sente aqui, ao lado do fogo.

O vestido de luto para a tarde, preto-azulado, era novo, o modelo sedutor, o decote quadrado e pudico. Mas, para o prazer de Gornt — e o dela —, havia um xale de seda multicolorido em torno de seus ombros, o efeito surpreendente, um sopro de primavera naquele dia de janeiro.

— Ah Soh, vinho — disse ela.

Depois que os dois foram servidos, Angelique acrescentou:

— Espere lá fora! Se eu quiser, chamarei!

A criada se retirou, arrastando os pés, e bateu a porta. Gornt comentou, em voz baixa:

— Ela deve estar com o ouvido comprimido na porta.

Angelique riu.

— Para ouvir segredos? Que segredos poderia haver entre nós? A uma viagem segura, Edward! — Ela tomou um gole, largou o copo. — Já arrumou tudo?

— Já, sim. Você está maravilhosa, eu a amo e gostaria de uma resposta ao meu pedido.

Angelique abriu o leque, começou a usá-lo, como deveria ser usado por uma jovem dama de classe, na presença de um homem solteiro de classe — e de duvidosa reputação —, para seduzir, flertar, prometer sem prometer, dar respostas, ou evitá-las, insinuar perguntas que seriam perigosas se formuladas abertamente.

— Eu o admiro muito, Edward.

— Não mais do que eu a admiro. Mas a resposta é sim ou não?

O leque foi fechado. Angelique sorriu, foi abrir uma caixa na cômoda, entregou-lhe um envelope. Endereçado à Sra. Tess Struan.

— Por favor, leia a carta. Estou enviando-a para Hong Kong por intermédio de Hoag, em resposta à carta que ela me escreveu.

A caligrafia de Angelique era impecáveclass="underline"

Prezada Sra. Struan:

Agradeço por sua carta e generosidade.

Concordo com tudo o que solicitou: juro solenemente e concordo por livre e espontânea vontade em renunciar a toda e qualquer reivindicação à herança de seu filho, concordo em nunca mais usar o título de Sra. Struan, concordo que sou católica e nunca fui casada de acordo com a minha Igreja, concordo em nunca mais pôr os pés em Hong Kong, exceto para uma baldeação, e nunca mais tentar entrar em contato com você, ou qualquer pessoa de sua família, concordo em me retirar destas instalações dentro de uma semana, e aceito, com sinceros agradecimentos, a oferta de um fundo que me dará dois mil guinéus por ano, até minha morte.

O espaço para sua assinatura estava em branco e, abaixo, ela escrevera confirmada como assinatura autêntica por Sir William Aylesbury, ministro no Japão, com outro espaço em branco para a assinatura e a data. Gornt levantou os olhos.

— Não pode estar falando sério. Isto entrega tudo a ela.

— Não me aconselhou a aceitar as condições dela?

— É verdade, mas disse para chegar a um acordo... renegociar.

— Não esqueci. Se você concorda, pedirei a Sir William para testemunhar agora, antes de sua partida. O Dr. Hoag prometeu levá-la esta noite, no mesmo navio em que você vai viajar. Assim, a carta estará lá quando você chegar.

— Mas sabe que isto cede tudo... como eu, ou qualquer outra pessoa, poderia negociar em seu nome?

— Há uma segunda página.