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— Tem razão. Edward, nossos filhos seriam criados como católicos, e nós nos casaríamos numa igreja católica?

— Isso é uma condição?

— Uma pergunta.

Ele franziu o rosto, deixando a mente se projetar à frente e ao redor, querendo ser cauteloso naquele mar infestado de rochedos.

— Não vejo por que não. Não sou católico, como sabe, mas se é isso o que você quer, não tem problema... — A peça final do quebra-cabeça ofuscou-o com sua força. — Aleluia!

— O que foi?

— Apenas uma idéia. Conversaremos a respeito dentro de um minuto. Agora, Angelique, chega de jogos. Quais são as condições? O que tem nessa sua mente mágica?

Angelique se levantou. Na ponta dos pés, encostou os lábios nos dele, num beijo gentil. Ela tinha lábios macios, uma respiração fragrante.

— Obrigada por me perguntar, e pelo que já fez por mim.

Gornt pôs as mãos nos quadris dela. Ambos notaram que seus corpos pareciam se ajustar, embora nenhum dos dois o admitisse.

— As condições?

— Diga-me quais são, Edward.

Agora que ela respondera à pergunta principal e lhe entregara as chaves, Gornt não tinha pressa.

— Acho que são três — disse ele, divertido. — Se eu estiver certo, vai me contar o resto?

— Concordo.

O corpo de Gornt, firme contra o seu, a agradava. E seu corpo suave e cheio de curvas contra o dele também o agradava, desviando sua concentração. Sem o menor esforço. Cuidado, é o maior trunfo de Angelique e o jogo se encontra agora no seu estágio mais perigoso... o acerto do futuro. Cuidado! E muito fácil tornar o beijo mais sério, fácil demais, e também será fácil tomá-la em meus braços, levá-la para a cama no quarto ao lado e perder — qualquer que seja o resultado — antes mesmo de alcançar a porta.

Era mais excitante para ele se conter, esperar pelo momento perfeito — como fizera com Morgan Brock —, aceitar o fato de seu desejo, mas pô-lo de lado e, em vez disso, projetar sua mente para a de Angelique. Três condições? Conheço pelo menos cinco, pensou ele, querendo vencer, precisando vencer, como acontecia em tudo.

— Não necessariamente nesta ordem — começou ele. — Uma, que eu consiga renegociar com sucesso um aumento, no mínimo para quatro mil por ano. Outra, que passemos algum tempo em Paris e Londres, digamos pelo menos um mês a cada dois anos... mais o tempo de viagem, que será em torno de seis meses. Depois, que o dinheiro do fundo de Tess, qualquer que seja, permaneça sob o seu controle, não o meu.

Ele viu os olhos de Angelique faiscando e compreendeu que vencera.

— E outra, para arrematar, que eu a ame loucamente para sempre.

— Você é bastante esperto, Edward. Tenho certeza de que seremos muito felizes. — O sorriso estranho ressurgiu. — Agora, cinco seriam melhor do que quatro e dois meses melhor do que um.

— Tentarei chegar a cinco, embora não possa prometer — disse ele no mesmo instante. — Também concordo com dois meses em Paris, todas as outras coisas permanecendo iguais. O que mais?

— Nada de importante. Precisaremos de uma casa em Paris, mas sei que você vai amá-la, depois que a conhecer. Nada mais, exceto que você tem de prometer que vai gostar de mim.

— Nem precisava perguntar isso, mas prometo.

Os braços de Gornt a apertaram. Ela encostou-se nele, percebendo como os corpos se ajustavam, sentindo-se segura, embora ainda não tivesse certeza sobre Gornt.

— Você é mais desejável do que qualquer outra mulher que já conheci — acrescentou ele. — Isso, por si só, já é bastante terrível, mas ainda por cima possui uma mente extraordinária, e suas maquinações... não, essa não é a palavra apropriada... seus voos de genialidade...

Por um momento, ele a manteve à distância dos braços, fitando-a nos olhos.

— Você é espetacular, sob todos os aspectos. Ela sorriu, não saiu de seus braços.

— Todos mesmo?

— Até pelo casamento católico.

— Ah...

— Isso mesmo, ah! — Gornt soltou uma risada. — É a sua solução de sonho, minha jovem e esperta dama, junto com sua carta. Ocorreu-me subitamente o que você já decidiu: um casamento católico faz com que deixe de ser uma ameaça a Tess para sempre. Afinal, para Tess, um casamento católico neutraliza completamente o casamento protestante, celebrado no mar, por mais legítimo que seja, perante a lei inglesa.

Angelique riu, aninhando-se contra ele.

— Se dissesse que achava que poderia me persuadir a casar com você e depois, como protestante, se oferecesse para fazer esse sacrifício deliberado, tenho certeza de que aquela mulher ficaria feliz em lhe dar tudo o que pedisse, para nós dois, se os pedidos fossem razoáveis. Não concorda?

— Concordo. — Gornt suspirou. — Em que pedido pensou?

— Nada demais, mas Malcolm me explicou uma ocasião a importância do Jóquei Clube, tanto em Xangai quanto em Hong Kong, e como, junto com os conselhos das duas cidades, todo o poder dos negócios se concentra ali. A influência daquela mulher não lhe conseguiria um título de sócio em um e uma vaga no outro?

Ele riu, tornou a abraçá-la.

— É mesmo incomparável, madame. Por isso, eu até me tornaria católico.

— Não precisa chegar a esse ponto, Edward.

— Vai adorar Xangai. Agora, também tenho condições.

— É?

Gornt ficou contente ao ver um brilho de preocupação nos olhos de Angelique, mas ocultou sua satisfação e assumiu uma expressão mais severa. Não preciso impor condições prévias, pensou ele, divertido: um marido tem direitos inalienáveis, como possuir todos os bens materiais da esposa. Graças a Deus que este mundo pertence aos homens.

— A primeira condição é que você me ame com todo o seu coração e alma.

— Tentarei, Edward, e me esforçarei para ser a melhor esposa que já existiu. — Ela apertou-o. — E que mais?

Gornt percebeu a preocupação latente e soltou uma risada.

— Isso é tudo, exceto que tem de prometer que me deixará ensiná-la a jogar bridge e mah-jongg... e assim nunca mais precisará pedir dinheiro a mim ou a qualquer outra pessoa.

Angelique fitou-o nos olhos por um momento, depois se ergueu na ponta dos pés. O beijo sacramentou o acordo e depois ele fez um esforço para relaxar, excitado demais.

— Mal posso esperar, Angelique.

— Eu também.

— Agora, devemos planejar, pois não resta muito tempo. Primeiro, temos de obter a assinatura de Sir William, o mais depressa possível. Minha querida, eu me sinto muito feliz por você ter me aceitado.

Angelique tinha vontade de ronronar.

— E eu me sinto mais feliz do que posso exprimir. Quando você voltar continuaremos aqui ou partiremos para Xangai?