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Angelique sentou. Enquanto ele a fitava, outra sombra passou por seus olhos adoráveis.

— Qual é o problema? — perguntou Sir William, gentilmente.

— Não é nada. Eu... esta tarde soube sobre André, que ele tinha morrido. Teria vindo antes, mas... — Com um esforço visível, ela relegou isso para um segundo plano, tirou o envelope da bolsa, pôs em cima da mesa. — Como devo assinar, por favor?

Sir William uniu as pontas dos dedos, apreensivo de novo, o espectro de André tornando a invadir a sala... embora não por sua vontade.

— Não tenho muita certeza. Pelo que Skye contou, entendi que você concordou com a Sra. Tess Struan, entre outras condições, a renunciar a seu título de Sra. Struan?

— Pode ler a carta, por favor, se assim o desejar — murmurou ela, apática.

— Agradeço, mas isso não é necessário — disse Sir William, resistindo ao impulso intenso de ler o curto documento. — O que acertou com ela não é da minha conta, a menos que precise de meu conselho.

Atordoada, Angelique sacudiu a cabeça.

— Sendo assim... Skye tem uma teoria legal. Não tenho certeza se ele está correto, mas não vejo nenhuma razão em contrário. Está renunciando ao título de “Sra.” para sempre. Mas ele ressaltou, de forma procedente, que isso só acontece depois que você assinar. Portanto, é melhor assinar Sra. Angelique Struan, née Angelique Richaud, o que deve cobrir todas as possibilidades.

Ele observou-a se concentrar, a mente dominada pela história terrível que André relatara de seu túmulo de chamas... não é possível que ela tenha escondido tanta coisa de nós, não é possível mesmo.

— Pronto — disse Angelique. — Já assinei.

— Sinto-me na obrigação de perguntar: tem certeza de que está fazendo a coisa certa... ninguém a obrigou, por qualquer meio, a assinar este documento, não importa o que contenha?

— Assino por minha livre e espontânea vontade. Ela... ela ofereceu um acordo, Sir William. E a verdade é que... a verdade é que se trata de um acordo justo. Algumas das cláusulas são distorcidas, poderiam ser melhoradas, talvez sejam, mas Malcolm era seu filho, ela tem o direito de ficar transtornada.

Angelique levantou-se, enfiou a carta no envelope, guardou-o na bolsa, querendo sair logo, mas ao mesmo tempo querendo ficar.

— Obrigada.

— Não se vá ainda. Talvez... não gostaria de jantar aqui amanhã, apenas umas poucas pessoas? Eu estava pensando em convidar Jamie e Miss Maureen.

— Seria ótimo, obrigada. Eu gostaria muito, mas... Eles são simpáticos, e ela é maravilhosa. Acha que vão casar?

— Se Jamie não casar com ela, é mais tolo do que eu pensava... Outro tomará seu lugar, se ele não casar. — Antes de poder se controlar, Sir William acrescentou. — Muito triste o que aconteceu com André, não acha? Henri lhe contou como o encontraram?

Abruptamente, ele viu os olhos de Angelique se encherem de lágrimas, o controle desaparecer.

— Desculpe. Não tinha a intenção de deixá-la tão transtornada.

— Sei disso, mas já me encontro tão transtornada que... ainda não posso... Henri me contou há cerca de uma hora como André e ela, juntos... a vontade de Deus para ambos, muito triste, mas também maravilhoso.

Angelique tornou a sentar, removendo as lágrimas e recordando que quase desfalecera ao saber. Depois que Henri se retirara, ela fora correndo para a igreja, ajoelhara-se diante da imagem da Santa Virgem... a igreja estranhamente mudada, imponente sem o telhado, mas as velas acesas, como sempre, a paz ali, como sempre. E agradecera, um agradecimento desesperado, por se livrar da servidão, e uma súbita e sincera compreensão de que André também se libertara de seu tormento, tanto quanto ela. E murmurara:

— Compreendo isso agora. Santa mãe, obrigada por nos abençoar, a mim e a ele. André está com ela, em paz, quando sabia que jamais encontraria a paz neste mundo. Mas agora eles se encontram sãos e salvos em seus braços, foi feita a sua vontade...

Os olhos de Angelique mal conseguiam divisar Sir William, através do pesar e da gratidão.

— Henri me falou sobre a doença de André. Pobre coitado, uma coisa terrível... e ele estava apaixonado, totalmente apaixonado. André foi gentil comigo e para ser sincera... — Angelique precisava dizer a verdade em voz alta. — ... também foi horrível, mas acima de tudo era um amigo. E sentia uma paixão irresistível por essa Hinodeh, nada mais no mundo tinha a mesma importância. Por isso, ele deve ser desculpado. Chegou a conhecê-la?

— Não. Nem sequer sabia seu nome. — Apesar de sua determinação em deixar a questão por aí, Sir William perguntou: — Por que ele foi horrível?

Angelique usou um lenço para enxugar as lágrimas e respondeu a voz triste, sem raiva:

— André sabia sobre meu pai e meu tio e usou isso e outras coisas para me deixar em dívida. Vivia me pedindo dinheiro, que eu não tinha, fazendo as promessas mais delirantes... e até mesmo, para ser franca, ameaças.

Inquisitiva, ela fitou-o, sem qualquer astúcia agora, franca e grata a Deus e à Virgem santa por liberar os dois, o passado consumido com ele, junto com toda a sordidez.

— Foi a vontade de Deus! — disse ela, fervorosa. — Fico contente por isso e também triste. Por que não podemos esquecer o que era ruim e apenas lembrar as coisas boas... já há suficiente mal neste mundo para compensar o nosso esquecimento, não acha?

— Tem razão — murmurou ele, com uma compaixão angustiante, os olhos desviando-se para a miniatura de Vertinskya. — É isso mesmo.

Aquela rara demonstração de emoção em Sir William desencadeou alguma coisa em Angelique, que no mesmo instante, antes de perceber o que fazia, pôs-se a revelar o seu medo mais profundo:

— É um homem sensato e tenho de contar a alguém. Sinto-me purificada, como nunca antes, mas é meu Malcolm que me preocupa. Acontece que não fiquei com nada seu, nem o nome, nem o daguerreótipo... não saiu... nenhum retrato e descubro que não consigo encontrar suas feições. A cada dia, parece um pouco pior. Estou assustada...

As lágrimas escorriam, silenciosas, e Sir William, sentado à sua frente, não era capaz de se mexer.

— É quase como se ele nunca tivesse existido e toda a viagem, o tempo em Iocoama, não passasse de um... um théâtre macabre. Estou casada, mas não estou, acusada de coisas horríveis que jamais aconteceram ou não ocorreram de propósito, inocente, mas culpada, odiada por Tess, quando apenas queria fazer o melhor que podia por meu Malcolm, claro que eu sabia que ele era um grande partido e meu pai maquinava um casamento, não eu, acho que não eu, mas não fiz coisa alguma que pudesse prejudicá-lo, e ele me amava, queria casar comigo, empenhei-me em fazer o melhor, juro que sim, e agora que ele morreu, tento ao máximo ser sensata, estou sozinha agora, ele se foi, tenho de pensar no futuro, estou apavorada, era uma criança quando cheguei, agora é diferente, tudo aconteceu muito depressa, e o pior é que não consigo me lembrar de seu rosto, está me escapando, e não há nada... Pobre Malcolm...