Fred e Jorge se viraram um para o outro e disseram juntos:
— Uau... estamos idênticos!
— Não sei, não, acho que estou mais bonito — comentou Fred, examinando seu reflexo na chaleira.
— Bah! — exclamou Fleur, mirando-se na porta do microondas —, Gui, nam olhe parra mim: estam horrenda.
— Se as roupas ficarem largas em vocês, há tamanhos menores aqui — disse Moody, indicando a primeira saca —, e vice-versa. Não esqueçam os óculos, há seis pares no bolso lateral. E depois de se vestirem, a bagagem está na segunda saca.
O verdadeiro Harry achou que aquela talvez fosse a cena mais bizarra que já presenciara na vida, e já vira coisas extremamente exóticas. Observou seus seis duplos mexerem na saca de roupa, tirar trajes completos, pôr os óculos e guardar as próprias coisas. Teve vontade de pedir que demonstrassem um pouco mais de respeito por sua intimidade quando começaram a se despir sem censura, visivelmente mais à vontade em desnudar o seu corpo do que estariam com os próprios corpos.
— Eu sabia que Gina estava mentindo sobre aquela tatuagem -disse Rony, olhando para o próprio peito nu.
— Harry, a sua visão é ruim mesmo — comentou Hermione, ao colocar os óculos.
Uma vez vestidos, os falsos Harry Potter tiraram da segunda saca mochilas e gaiolas de coruja, cada uma contendo uma alvíssima coruja empalhada.
— Ótimo — aprovou Moody, quando, por fim, os sete Harry vestidos, equipados com óculos e bagagem, se viraram para ele. — Os pares serão os seguintes: Mundungo irá viajar comigo de vassoura...
— Por que vou com você? — protestou o Harry mais perto da porta dos fundos.
— Porque você é o único que precisa de vigilância — rosnou Moody, e, de fato, seu olho mágico não se desviou de Mundungo enquanto continuava —, Arthur e Fred...
— Eu sou Jorge — disse o gêmeo para quem Moody estava apontando. — Você não consegue nos distinguir nem quando somos Harry?
— Desculpe, Jorge...
— Eu só estou zoando você, na verdade sou o Fred...
— Chega de brincadeiras! — rosnou Moody. — O outro... Fred ou Jorge, seja lá quem for, você vai com Remo. Srta. Delacour...
— Vou levar Fleur em um testrálio — disse Gui. — Ela não gosta muito de vassouras.
Fleur foi para junto dele, lançando-lhe um olhar apaixonado e servil que Harry desejou de todo o coração que jamais voltasse a aparecer em seu rosto.
— Srta. Granger com Kingsley, também em um testrálio... Hermione pareceu mais tranqüila ao retribuir o sorriso de Kingsley; Harry sabia que a amiga também não se sentia segura em uma vassoura.
— E você sobra para mim, Rony! — comentou Tonks animada, derrubando um porta-canecas ao acenar para ele.
Rony não pareceu tão satisfeito quanto Hermione.
— E você vai comigo, Harry. É isso? — perguntou Hagrid, parecendo um pouco ansioso. — Iremos de moto. Vassouras e testrálios não agüentam o meu peso, entende. Não sobra muito espaço depois que eu me sento, então você irá no sidecar.
— Beleza — disse Harry, sem muita sinceridade.
— Achamos que os Comensais da Morte esperarão que você esteja voando em uma vassoura — explicou Moody, que pareceu perceber o que Harry estava sentindo. — Snape já teve tempo suficiente para acabar de informar a eles tudo que sabe sobre você, por isso, se toparmos com Comensais, apostamos que irão escolher um Harry que pareça à vontade montando uma vassoura. Muito bem, então -continuou Moody, amarrando a saca com as roupas falsas de Harry e saindo primeiro para o quintal. — Calculo que faltem três minutos para o nosso horário de partida. Não adianta trancar a porta dos fundos, não vai segurar os Comensais da Morte quando vierem procurar você... Vamos...
Harry correu ao hall para apanhar sua mochila, a Firebolt e a gaiola de Edwiges antes de se reunir aos outros no quintal escuro. A toda volta, vassouras saltaram para as mãos dos donos; Kingsley já tinha ajudado Hermione a montar um grande testrálio negro; e Gui ajudou Fleur. Hagrid estava pronto ao lado da moto, com os óculos de proteção.
— É essa? A moto de Sirius?
— A própria — respondeu Hagrid, sorrindo para Harry. — E a última vez em que a montou, Harry, você cabia em uma das minhas mãos!
Harry não pôde deixar de se sentir um pouquinho humilhado ao embarcar no sidecar. Isto o colocava vários metros abaixo dos demais: Rony deu um sorrisinho debochado ao ver o amigo sentado ali, como uma criança em um carrinho de parque de diversões. Harry empurrou a mochila e a vassoura para o lugar dos pés e encaixou a gaiola de Edwiges entre os joelhos. Ficou extremamente desconfortável.
— Arthur andou fazendo uns ajustes — contou Hagrid, indiferente ao desconforto de Harry. Montou, então, a moto que rangeu um pouco e afundou alguns centímetros no solo. — Agora tem uns botões especiais no guidão. Esse aí foi minha idéia. — Hagrid apontou com o grosso dedo um botão roxo junto ao velocímetro.
— Por favor, tenha cuidado, Hagrid — recomendou o sr. Weasley, que estava parado ao lado deles, segurando a vassoura. — Ainda não tenho certeza se é aconselhável, e certamente só deve ser usado em emergências.
— Muito bem, então — anunciou Moody. — Todos a postos, por favor; quero que todos saiam exatamente na mesma hora, ou invalidamos a idéia de despistamento.
Todos montaram as vassouras.
— Segure-se firme agora, Rony — disse Tonks, e Harry viu o amigo lançar um olhar furtivo e culpado a Lupin antes de colocar as mãos na cintura da bruxa. Hagrid deu partida na moto, que roncou como um dragão e o sidecar começou a vibrar.
— Boa sorte a todos! — gritou Moody. — Vejo vocês dentro de uma meia hora n’A Toca. Quando eu contar três. Um... dois... TRÊS.
Ouviu-se o estrondo da moto, e Harry sentiu o sidecar avançar assustadoramente; estavam levantando vôo em alta velocidade, seus olhos lacrimejavam um pouco, os cabelos foram varridos para trás. A sua volta, as vassouras subiam também: a cauda longa e negra de um testrálio ultrapassou-o. As pernas do garoto, entaladas no sidecar pela gaiola de Edwiges e a mochila, já estavam doendo e começando a ficar dormentes. Seu desconforto era tão grande que ele quase se esqueceu de lançar um último olhar ao número quatro da rua dos Alfeneiros; quando finalmente olhou pelo lado do sidecar, já não sabia distinguir qual era a casa. Eles foram subindo, sem parar, em direção ao céu...
Então, de repente, sem ninguém saber de onde nem como, eles se viram cercados. No mínimo uns trinta vultos encapuzados pairavam no ar, formando um vasto círculo no meio do qual entraram os membros da Ordem, sem perceber...
Gritos, clarões verdes para todo lado: Hagrid soltou um berro e a moto virou de cabeça para baixo. Harry perdeu a noção de onde estavam: lampiões de rua no alto, berros à sua volta, ele agarrado ao sidecar, como se disso dependesse sua vida. A gaiola de Edwiges, a Firebolt e a mochila escorregaram de baixo dos seus joelhos...
-Não...! EDWIGES!
A vassoura girou em direção ao solo, mas ele conseguiu, por um triz, agarrar a alça da mochila e a gaiola quando a moto voltou à posição normal. Um segundo de alívio e outro clarão verde. A coruja soltou um grito agudo e tombou no chão da gaiola. — Não... NÃO!
A moto avançava veloz; de relance, Harry viu Comensais da Morte encapuzados se dispersarem quando Hagrid rompeu o seu círculo.
— Edwiges... Edwiges...
A coruja, porém, continuou no chão da gaiola, imóvel e patética como um brinquedo. Harry não conseguia acreditar, e sentiu um supremo terror pelos companheiros. Espiou rapidamente por cima do ombro e viu uma massa de gente se deslocando, clarões verdes, dois pares montados em vassouras se distanciavam, mas não sabia dizer quem eram...