Ela se dissolveu ao seu toque e os dois saíram depressa: Harry olhou para trás e viu que a parede tornara a se fechar imediatamente. Achavam-se em um corredor escuro; Harry puxou Luna de volta às sombras, procurou na bolsa pendurada ao seu pescoço e encontrou o mapa do maroto. Segurando-o junto ao nariz, procurou e localizou os pontinhos dele e de Luna.
— Estamos no quinto andar — sussurrou, observando Filch se afastar deles, um corredor à frente. — Vamos, é por aqui.
Saíram, então, andando furtivamente.
Harry rondara à noite pelo castelo muitas vezes, mas nunca seu coração batera tão rápido, nunca tanta coisa dependera de passar ileso por esses corredores. Atravessando quadrados de luar no piso, passando por armaduras cujos elmos rangiam ao som dos seus passos abafados, dobrando quinas sem saber o que encontrariam do outro lado, Harry e Luna prosseguiram, verificando o mapa do maroto sempre que havia luz suficiente, parando duas vezes para deixar um fantasma passar sem atrair sua atenção para eles. Ele esperava encontrar um obstáculo a qualquer momento; seu maior receio era o Pirraça, e apurava os ouvidos a cada passo para identificar os primeiros sinais da aproximação do poltergeist.
— Por aqui, Harry — sussurrou Luna, puxando a manga dele em direção a uma escada circular.
Subiram em círculos apertados e estonteantes; Harry nunca estivera ali antes. Finalmente, chegaram a uma porta. Não tinha maçaneta nem fechadura: nada, exceto uma tábua lisa de madeira envelhecida e uma aldraba de bronze em forma de águia.
Luna esticou a mão pálida, que parecia a de um fantasma flutuando no ar, desligada de braço ou corpo. Ela bateu uma vez, e, no silêncio, a batida pareceu a Harry um tiro de canhão. Imediatamente o bico da águia se abriu, mas, em vez do grito do pássaro, uma voz suave e musical perguntou:
— O que veio primeiro, a fênix ou a chama?
— Humm... que acha, Harry? — perguntou Luna, pensativa.
— Quê? Não tem uma senha?
— Ah, não, você tem que responder a uma pergunta.
— E se você errar?
— Bem, aí terá que esperar até alguém acertar — disse Luna. -Assim, você aprende, entende?
— É... o problema é que não podemos realmente nos dar o luxo de esperar por mais ninguém, Luna.
— Não, entendo o que você quer dizer — respondeu Luna, séria. — Bem, então, acho que a resposta é que um círculo não tem princípio.
— Bem pensado — disse a voz, e a porta se abriu.
A deserta sala comunal da Corvinal era ampla e circular, mais arejada do que qualquer outra que Harry já vira em Hogwarts. Graciosas janelas em arco pontuavam as paredes, ladeadas por repos-teiros de seda azul e bronze; de dia, os alunos deviam ter uma vista espetacular das montanhas ao redor. O teto era abobadado e pintado com estrelas que se repetiam também no carpete azul-escuro. Havia mesas, poltronas e estantes e, em um nicho na parede oposta à porta, uma alta estátua de mármore branco.
Harry reconheceu Rowena Ravenclaw pelo busto que vira na casa de Luna. A estátua se erguia ao lado de uma porta que provavelmente levava aos dormitórios no andar de cima. Harry se dirigiu à mulher de mármore, que pareceu fitá-lo com um meio sorriso intrigado no rosto belo, mas levemente intimidante. Um diadema de aspecto delicado fora reproduzido, em mármore, no topo de sua cabeça. Não era muito diferente da tiara que Fleur usara em seu casamento. Nesta havia dizeres mínimos gravados. Harry saiu de baixo da capa e subiu no pedestal de Ravenclaw para lê-las.
— “O espírito sem limites é o maior tesouro do homem.”
— O que faz de você um pobre de espírito — disse uma voz aguda. Harry virou-se, e deslizou do pedestal para o chão. O vulto de ombros caídos de Aleto Carrow estava parado ali; no mesmo instante em que Harry erguia a varinha, ela pressionou com o dedo curto o crânio com a serpente, marcado a fogo em seu braço.
30
A demissão de Severo Snape
No momento em que o dedo de Aleto tocou a Marca, a cicatriz de Harry queimou violentamente, a sala estrelada sumiu de vista, ele se viu parado em um afloramento rochoso sob um penhasco, o mar quebrava em ondas ao seu redor e havia triunfo em seu coração: eles pegaram o garoto.
Um forte estampido trouxe-o de volta à sala: desorientado, ele ergueu a varinha, mas a bruxa já estava caindo para frente; bateu no chão com tanta força que o vidro nas portas das estantes retiniu.
— Nunca estuporei ninguém exceto nas aulas da Armada de Dumbledore — comentou Luna, em tom levemente interessado. — Fez mais barulho do que imaginei que faria.
E sem dúvida, o teto começara a estremecer. O eco de passos correndo se tornou mais ruidoso por trás da porta que conduzia aos dormitórios: o feitiço de Luna acordara os alunos que dormiam no andar acima.
— Luna, onde você está? Preciso vestir a capa!
Os pés de Luna apareceram do nada; Harry correu para o seu lado e deixou a Capa cair sobre eles no momento em que a porta abriu e uma torrente de alunos da Corvinal, todos em roupas de dormir, inundou a sala comunal. Ouviram-se exclamações e gritinhos de surpresa quando viram Aleto caída no chão, inconsciente. Lentamente, eles a rodearam, uma fera selvagem que poderia despertar a qualquer momento e atacá-los. Então, um corajoso garoto do primeiro ano se aproximou ligeiro e cutucou o traseiro dela com o dedão do pé.
— Vai ver ela está morta! — exclamou, encantado.
— Ah, olhe — sussurrou Luna, feliz, quando os colegas se amontoaram em volta de Aleto. — Eles estão satisfeitos!
— É... ótimo...
Harry fechou os olhos, e, quando sua cicatriz tornou a latejar, ele resolveu submergir mais uma vez na mente de Voldemort... estava caminhando ao longo do túnel na primeira caverna... decidira verificar o medalhão antes de vir... mas isso não levaria muito tempo...
Houve uma batida na porta da sala comunal e todos os alunos da Casa pararam. Do lado de fora, Harry ouviu a suave voz musical que saía da aldraba em forma de águia: “Para onde vão os objetos desaparecidos?”
— Sei lá, sei? Cala a boca! — rosnou uma voz grosseira que Harry identificou como a do irmão Carrow, Amico. — Aleto? Aleto? Você está aí? Agarrou-o? Abra a porta!
Os alunos da Corvinal cochicharam entre si, aterrorizados. Então, sem aviso, ouviram uma série de fortes estampidos como se alguém estivesse atirando na porta com uma arma.
— ALETO! Se ele vier e não tivermos agarrado o Potter... você quer acabar do mesmo jeito que os Malfoy? ME RESPONDA! — Amico berrou, sacudindo a porta com toda a força, mas, ainda assim, ela não abriu. Os alunos estavam todos recuando, e os mais apavorados começaram a subir rapidamente a escada para suas camas. Então, no momento em que Harry se perguntava se não seria melhor explodir a porta e estuporar Amico antes que o Comensal da Morte pudesse fazer mais alguma coisa, uma segunda voz, muito conhecida, ecoou do outro lado da porta.
— Posso lhe perguntar o que está fazendo, professor Carrow?
— Tentando... passar... por essa maldita... porta! — gritou Amico. — Vá buscar Flitwick! Faça-o abrir esta porta, já!
— Mas sua irmã não está aí dentro? — perguntou a professora McGonagall. — O professor Flitwick não a deixou entrar mais cedo esta noite, a seu pedido urgente? Quem sabe ela mesma possa abrir a porta para o senhor? Assim, não precisará acordar metade do castelo.
— Ela não está respondendo, sua trapeira velha! Abra você então! Pô! Abra, já!
— Certamente, se o senhor quiser — respondeu a professora McGonagall, com terrível frieza. Ouviu-se uma delicada batida na aldraba e a voz musical perguntou mais uma vez: “Para onde vão os objetos desaparecidos?”
— Para o não-ser, ou seja, o todo — respondeu a professora McGonagall.
— Bem fraseado — replicou a aldraba, e a porta se abriu.