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Os poucos alunos da Corvinal que ainda restavam na sala correram para a escada quando Amico arremessou-se pelo portal brandindo a varinha. Curvado como a irmã, tinha uma cara pálida e flácida e olhos miúdos, que recaíram imediatamente sobre Aleto, esparramada e imóvel no chão. Ele soltou um berro de fúria e medo.

— Que foi que eles fizeram, esses pestinhas? — gritou. — Vou torturar todos até denunciarem quem fez isso... e o que vai dizer o Lorde das Trevas? — guinchou ele, em pé junto à irmã, socando a testa com o punho. — Não agarramos ele, e ainda por cima a mataram!

— Ela está apenas estuporada — disse, impaciente, a professora McGonagall, que se abaixara para examinar Aleto. — Ficará perfeitamente bem.

— Uma ova que ficará! — berrou Amico. — Não depois que o Lorde das Trevas a pegar! Ela o chamou, senti a minha marca queimar, e ele acha que agarramos Potter!

— Agarrou Potter? — perguntou a professora McGonagall com rispidez. — Como assim “agarrou Potter”?

— Ele disse que Potter podia tentar entrar na Torre da Corvinal e que queria ser avisado se a gente o pegasse.

— E por que Potter tentaria entrar na Torre da Corvinal? Potter pertence à minha Casa!

Por baixo da incredulidade e raiva, Harry percebeu um quê de orgulho na voz da professora, e a afeição por Minerva McGonagall jorrou em seu íntimo.

— Nos informaram que ele poderia vir aqui! — respondeu Carrow. — Não sei por quê, sei?

A professora McGonagall se levantou e seus olhos pequenos e brilhantes esquadrinharam a sala. Duas vezes passaram pelo lugar onde estavam Harry e Luna.

— Podemos lançar a culpa nos garotos — disse Amico, seu rosto porcino repentinamente ardiloso. — É, é o que vamos fazer. Diremos que Aleto caiu em uma armadilha preparada pelos garotos, os garotos aí em cima — ele olhou para o teto estrelado em direção aos dormitórios —, e diremos que eles a obrigaram a apertar a Marca e foi por isso que ele recebeu um falso alarme... ele pode puni-los. Meia dúzia de garotos a mais ou a menos, que diferença faz?

— Apenas a diferença entre a verdade e a mentira, a coragem e a covardia — disse a professora McGonagall, empalidecendo -; em suma, uma diferença que você e sua irmã parecem incapazes de apreciar. Mas me permita deixar uma coisa bem clara. Você não vai culpar os alunos de Hogwarts por sua inépcia. Eu não permitirei.

— Desculpe?

Amico se adiantou até ficar ofensivamente perto da professora, seu rosto a centímetros do dela. McGonagall não recuou, olhou-o com superioridade, como se ele fosse uma coisa nojenta que ela encontrara grudada na tampa do vaso sanitário.

— Não entra em questão se você permitirá, Minerva McGonagall. Seu tempo acabou. Nós é que mandamos aqui agora, e ou você confirma o que eu disser, ou irá me pagar.

E ele cuspiu na cara de Minerva.

Harry arrancou a capa, ergueu a varinha e disse:

— Você não devia ter feito isso.

E quando Amico se virou, o garoto gritou:

Crucio!

O Comensal da Morte foi erguido do chão. Contorceu-se no ar como um homem se afogando, debatendo-se e uivando de dor e então, com um baque e o ruído de vidro estilhaçando, bateu contra as portas da estante e desmontou, sem sentidos, no chão.

— Entendi o que Belatriz quis dizer — disse Harry, o sangue ribombando em seu cérebro —, “é preciso querer usá-la”.

— Potter! — sussurrou a professora McGonagall, levando a mão ao peito. — Potter... você está aqui! Quê...? Como...? — Ela fez força para se controlar. — Potter, que tolice!

— Ele cuspiu na senhora.

— Potter, eu... isso foi muito... muito galante de sua parte... mas você não percebe...?

— Percebo, sim — Harry lhe assegurou. De alguma forma, o medo dela o tranqüilizou. — Professora McGonagall, Voldemort está a caminho.

— Ah, já podemos dizer o nome dele? — perguntou Luna com ar interessado, despindo a Capa da Invisibilidade. A aparição de um segundo proscrito pareceu transtornar a professora, que recuou, vacilante, e caiu em uma cadeira próxima, segurando a gola de seu velho robe de tecido escocês.

— Acho que não faz a menor diferença o nome que o chamarmos — disse Harry a Luna —, ele já sabe onde estou.

Em uma parte distante do cérebro de Harry, a parte ligada à cicatriz que ardia furiosamente, ele viu Voldemort navegando veloz sobre o lago escuro no fantasmagórico barco verde... estava quase chegando à ilha onde se achava a bacia de pedra...

— Você tem que fugir — sussurrou a professora McGonagall. -Agora, Potter, o mais rápido que puder!

— Não posso. Tem uma coisa que preciso fazer. Professora, a senhora sabe onde está o diadema de Rowena Ravenclaw?

— O d-diadema de Ravenclaw? Claro que não... não está perdido há séculos? — Ela se empertigou na poltrona. — Potter, foi loucura, absoluta loucura, entrar no castelo...

— Fui obrigado. Professora, há uma coisa escondida aqui que tenho de encontrar, e poderia ser o diadema... preciso... se eu pudesse ao menos falar com o professor Flitwick...

Ouviram, então, um movimento de vidro tilintando: Amico estava voltando a si. Antes que Harry e Luna pudessem agir, a professora se pôs de pé, apontou a varinha para o Comensal da Morte estonteado e ordenou:

— Império!

Amico se levantou, foi até onde estava a irmã, apanhou sua varinha, voltou em direção à professora e, obediente, lhe entregou as duas varinhas: a sua e a dela. Depois se deitou no chão ao lado de Aleto. McGonagall fez outro gesto com a varinha, e apareceu no ar um pedaço de corda tremeluzente, que espiralou em torno dos Carrow, amarrando-os, juntos, com firmeza.

— Potter — disse a professora, virando-se para ele com soberba indiferença ao problema dos dois irmãos —, se Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado tiver certeza que você está aqui...

Quando McGonagall disse isso, uma cólera que semelhava a uma dor física perpassou Harry, ateando fogo à sua cicatriz, e, por um segundo, ele contemplou a bacia cuja poção se tornara transparente e viu que não havia medalhão algum guardado sob sua superfície...

— Potter, você está bem? — disse uma voz, e Harry voltou: estava segurando o ombro de Luna para não cair.

— O tempo está se esgotando, Voldemort está se aproximando. Professora, estou cumprindo ordens de Dumbledore, preciso encontrar o que ele queria que eu encontrasse! Mas temos que fazer os alunos saírem enquanto estivermos vasculhando o castelo: sou eu que Voldemort quer, mas tanto faz para ele matar mais ou menos gente, não agora... — Não agora que ele sabe que estou atacando Horcruxes, Harry completou a frase mentalmente.

— Você está cumprindo ordens de Dumbledore? — indagou ela com uma expressão de crescente assombro. Então aprumou-se ao máximo. — Vamos proteger a escola contra Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado enquanto você procura esse... esse objeto.

— É possível?

— Acho que sim — disse ela, secamente. — Nós, professores, somos muito bons em magia, sabe. Tenho certeza de que poderemos mantê-lo a distância por algum tempo, se empenharmos nisso os nossos melhores esforços. Naturalmente, teremos que fazer alguma coisa a respeito do professor Snape...

— Me deixe...

— ... e se Hogwarts está prestes a ser sitiada, com o Lorde das Trevas às portas, seria de fato aconselhável tirar do caminho o maior número possível de pessoas inocentes. Com a Rede de Flu sob vigilância e a impossibilidade de aparatar...

— Tem um jeito — disse Harry depressa, e explicou sobre a passagem que levava ao Cabeça de Javali.

— Potter, estamos falando de centenas de alunos...

— Eu sei, professora, mas se Voldemort e os Comensais da Morte estiverem se concentrando nas divisas da escola, não irão se interessar por gente desaparatando no Cabeça de Javali.