— Você não deixa de ter razão — concordou McGonagall. Ela apontou a varinha para os Carrow e sobre seus corpos amarrados caiu uma rede prateada que se fechou em torno deles e os ergueu no ar, onde ficaram balançando sob o teto azul e ouro, como dois grandes e feios animais marinhos.
— Venha. Temos que alertar os outros diretores de Casas. É melhor vestir a capa.
Ela saiu em direção à porta ao mesmo tempo que erguia a varinha. Da ponta, irromperam gatos prateados com marcas de óculos em torno dos olhos. Os Patronos correram graciosamente à sua frente, enchendo a escada em espiral de luzes prateadas, quando a professora, Harry e Luna desceram apressados.
Eles se precipitaram ao longo dos corredores, e, um a um, os Patronos foram abandonando-os; o robe de tecido escocês da professora McGonagall farfalhava arrastando pelo chão, e Harry e Luna a seguiam, correndo, cobertos pela capa.
Tinham descido mais dois andares quando passos abafados se juntaram aos deles. Harry, cuja cicatriz continuava a formigar, ouviu-os primeiro: apalpou a bolsa pendurada ao pescoço à procura do mapa do maroto, mas, antes que pudesse tirá-lo, McGonagall também pareceu tomar consciência do acompanhante. Ela parou, ergueu a varinha, preparando-se para duelar e perguntou:
— Quem está aí?
— Sou eu — disse uma voz baixa.
De trás de uma armadura, saiu Severo Snape.
O ódio ferveu no peito de Harry ao vê-lo: tinha esquecido os detalhes da aparência de Snape diante da magnitude dos seus crimes, esquecido como seus cabelos negros e oleosos caíam como cortinas dos lados do seu rosto magro, como seus olhos negros tinham uma expressão fria e sem vida. Não estava de roupas de dormir, vestia a capa preta de sempre e também empunhava a varinha, pronto para lutar.
— Onde estão os Carrow? — perguntou, em voz baixa.
— Onde você os mandou ir, imagino, Severo — respondeu a professora McGonagall.
Snape se aproximou e seus olhos passaram rapidamente por ela e o ar ao seu redor, como se soubesse que Harry estava ali. O garoto também erguera a varinha, pronto para lutar.
— Tive a impressão — disse Snape — de que Aleto prendeu um intruso.
— Sério? E o que lhe deu essa impressão?
Snape ergueu levemente o braço esquerdo onde a Marca Negra estava gravada em sua pele.
— Ah, sim, naturalmente. Esqueci que vocês Comensais da Morte têm um meio particular de comunicação.
Snape fingiu não tê-la ouvido. Seus olhos continuavam a sondar o ar ao seu redor e ele foi gradualmente se aproximando com uma expressão de quem não tem consciência do que está fazendo.
— Eu não sabia que era a sua noite de patrulhar os corredores, Minerva.
— Alguma objeção?
— Não imagino o que teria tirado você da cama tão tarde da noite.
— Pensei ter ouvido um barulho — respondeu a professora.
— Verdade? Mas tudo me parece calmo. Snape encarou-a nos olhos.
— Você viu Harry Potter, Minerva? Porque se viu, devo insistir... A professora McGonagall se mexeu mais rápido do que o garoto teria acreditado: sua mão cortou o ar e, por uma fração de segundo, Harry pensou que Snape fosse desmontar inconsciente, mas a rapidez do Feitiço Escudo que o professor lançou foi de tal ordem que McGonagall se desequilibrou. Ela brandiu a varinha para um archote e o objeto saiu voando do suporte na parede: Harry, que ia lançar um feitiço contra Snape, foi forçado a puxar Luna do caminho das labaredas que desceram e formaram um círculo de fogo que encheu o corredor e deslizou pelo ar como um laço contra Snape...
No momento seguinte não era mais fogo, mas uma grande cobra preta que McGonagall explodiu em fumaça, e tornou a se juntar e solidificar em segundos, transformando-se em um enxame de adagas que perseguiram Snape; ele só conseguiu evitá-las empurrando uma armadura à sua frente e, reunindo sonoramente, as adagas afundaram uma a uma no peito de metal...
— Minerva! — chamou uma voz fina e, ao olhar para trás, ainda protegendo Luna dos feitiços que voavam, Harry viu os professores Flitwick e Sprout em roupas de dormir, correndo pela passagem ao encontro deles, com o enorme professor Slughorn ofegando em seu encalço.
— Não! — guinchou Flitwick, erguendo a varinha. — Você não vai matar mais ninguém em Hogwarts!
O feitiço de Flitwick atingiu a armadura atrás da qual Snape se abrigara: com estrépito, ela ganhou vida. Snape desvencilhou-se dos braços da armadura que o esmagavam e arremessou-a contra os seus atacantes. Harry e Luna precisaram mergulhar de lado para evitar a armadura, que colidiu com a parede e se espatifou. Quando Harry tornou a erguer os olhos, Snape fugia embalado, McGonagall, Flitwick e Sprout perseguiam-no em tropeclass="underline" Snape se precipitou pela porta de uma sala de aula e, momentos depois, Harry ouviu McGonagall gritar:
— Covarde! COVARDE!
— Que aconteceu, que aconteceu? — perguntou Luna.
Harry ajudou-a a se levantar e os dois dispararam pelo corredor, arrastando a Capa da Invisibilidade atrás deles, e entraram em uma sala de aula vazia onde os professores McGonagall, Flitwick e Sprout estavam parados perto de uma janela quebrada.
— Ele saltou — disse a professora McGonagall, quando Harry e Luna entraram.
— A senhora quer dizer que ele está morto? — Harry correu à janela, sem dar atenção aos berros assustados de Flitwick e Sprout ao verem-no subitamente aparecer.
— Não, ele não está morto — lamentou McGonagall. — Ao contrário de Dumbledore, ele ainda tinha a varinha na mão... e, pelo jeito, aprendeu alguns truques com o seu mestre.
Com um arrepio de horror, Harry viu ao longe o vulto enorme de um morcego voando na escuridão, em direção aos muros que circundavam a escola.
Ouviram passos pesados às costas e alguém bufando: Slughorn acabara de alcançá-los.
— Harry! — ofegou ele, massageando o vasto peito sob o pijama de seda verde-esmeralda. — Meu caro rapaz... que surpresa... Minerva, por favor me explique... Severo... o quê...?
— O nosso diretor vai tirar umas breves férias — disse a professora, apontando para o buraco com os seus contornos, que Snape deixara na janela.
— Professora! — Harry gritou, as mãos na cabeça. Via o lago pululante de Inferi deslizar sob ele, e sentiu o fantasmagórico barco verde bater na margem e Voldemort saltar dele com uma fúria homicida... — Professora, temos que barricar a escola, ele já está vindo!
— Muito bem. Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado está a caminho — informou ela aos outros professores. Sprout e Flitwick ofegaram; Slughorn soltou um gemido. — Potter tem uma tarefa a cumprir no castelo por ordem de Dumbledore. Precisamos lançar sobre este lugar todo tipo de proteção de que formos capazes, enquanto Potter faz o que precisa.
— Naturalmente, você sabe que nada manterá Você-Sabe-Quem fora por tempo indefinido, não? — chiou Flitwick.
— Mas podemos retardá-lo — disse a professora Sprout.
— Obrigada, Pomona — disse McGonagall, e as duas bruxas trocaram olhares de sombria compreensão. — Sugiro que estabeleçamos uma proteção básica em torno da escola, depois reunamos os alunos e nos encontremos no Salão Principal. A maioria precisa ser evacuada, embora, se algum for maior de idade e quiser ficar e lutar, deveríamos lhe dar essa oportunidade.
— De acordo. — E a professora Sprout dirigiu-se, apressada, para a porta. — Encontro vocês no Salão Principal dentro de vinte minutos, com os alunos da minha Casa.
E enquanto a bruxa corria e desaparecia de vista, eles a ouviam murmurar:
— Tentácula. Visgo-do-diabo. E vagens de Arapucosos... sim, gostaria de ver os Comensais da Morte enfrentando esses.
— Posso agir daqui mesmo — disse Flitwick e, embora mal conseguisse enxergar o exterior do castelo, apontou a varinha pela janela quebrada e começou a murmurar encantamentos de grande complexidade. Harry ouviu um zunido esquisito, como se Flitwick tivesse desencadeado a força do vento nos terrenos da escola.
— Professor — disse Harry, aproximando-se do bruxo miúdo que ensinava Feitiços —, professor, peço desculpas por interrompê-lo, mas é importante. O senhor tem idéia de onde está o diadema de Ravenclaw?