— ... Protego horribilis... o diadema de Ravenclaw? — chiou Flitwick. — Um pouco mais de sabedoria nunca se perde, Potter, mas não consigo imaginar como poderia lhe ser útil na presente situação!
— O que quis dizer foi... o senhor sabe onde está? Algum dia o senhor o viu?
— Viu? Não se tem memória de alguém que o tenha visto. Há muito desapareceu, menino!
Harry sentiu uma mistura de agudo desapontamento e pânico. Que seria, então, a Horcrux?
— Encontraremos você e os alunos da sua Casa no Salão Principal, Filio! — disse a professora McGonagall, fazendo sinal a Harry e Luna para acompanhá-la.
Tinham acabado de chegar à porta quando Slughorn recuperou a voz.
— Puxa — bufou, pálido e suarento, sua bigodeira de leão-marinho sacudindo. — Que confusão! Não tenho muita certeza se o que está fazendo é sensato, Minerva. Ele acabará encontrando um modo de entrar, sabe, e qualquer um que tenha tentado atrasá-lo correrá um perigo atroz...
— Esperarei você e os alunos da Sonserina também no Salão Principal dentro de vinte minutos — disse a professora McGonagall. — Se quiser se retirar com eles, não iremos impedi-lo. Mas se algum de vocês tentar sabotar a nossa resistência, ou pegar em armas contra nós dentro deste castelo, então, Horácio, duelaremos até a morte.
— Minerva! — exclamou ele, horrorizado.
— Chegou o momento da Sonserina decidir a quem é leal — interrompeu-o a professora. — Vá acordar os seus alunos, Horácio.
Harry não esperou para ver Slughorn tartamudeando; ele e Luna correram atrás da professora McGonagall, que tomara posição de varinha erguida no meio do corredor.
— Piertotum... ah, pelo amor de Deus, Filch, agora não.
O zelador idoso acabara de surgir, mancando e aos gritos:
— Os alunos se levantaram! Os alunos estão nos corredores!
— É onde deveriam estar, seu rematado idiota! — gritou McGonagall. — Agora vá se ocupar com alguma coisa construtiva! Procure o Pirraça!
— P-Pirraça? — gaguejou Filch, como se nunca tivesse ouvido esse nome.
— Pirraça, sim, seu parvo, Pirraça! Você não se queixa dele há um quarto de século? Vá buscá-lo, imediatamente!
Filch evidentemente achou que a professora McGonagall tivesse perdido o juízo, mas afastou-se mancando, os ombros curvados, resmungando com seus botões.
— E agora: Piertotum locomotor! — exclamou ela.
E por todo o corredor, as estátuas e armaduras saltaram dos seus pedestais, e, pelo eco fragoroso nos andares abaixo e acima, Harry percebeu que as suas companheiras em todo o castelo tinham feito o mesmo.
— Hogwarts está ameaçada! — bradou a professora McGonagall. -Guarneçam os muros, nos protejam, cumpram o seu dever para com a nossa escola!
Com estrépitos e berros, a horda de estátuas em movimento passou por Harry como um estouro de boiada; algumas pequenas, outras enormes. Havia animais também, e as armaduras chocalhando brandiam espadas e manguais.
— Agora, Potter — disse McGonagall —, é melhor você e a srta. Lovegood voltarem para os seus amigos e trazê-los para o Salão Principal; vou acordar os outros alunos da Grifinória.
Eles se separaram no alto da escada seguinte: Harry e Luna correram de volta à entrada oculta da Sala Precisa. No trajeto, encontraram grandes grupos de alunos, a maioria usando capas de viagem por cima dos pijamas, escoltados por professores e monitores para o Salão Principal.
— Aquele era o Potter!
— Harry Potter!
— Era ele, juro, acabei de ver o Harry!
Harry, porém, não olhou para trás e, por fim, chegaram à entrada da Sala Precisa. O garoto se encostou na parede encantada que se abriu para admiti-los, e ele e Luna desceram correndo a escada íngreme.
— Qu...?
Quando avistaram a sala, Harry escorregou alguns degraus, assustado. Estava cheia, muito mais cheia de gente do que da última vez que tinha estado ali. Kingsley e Lupin olhavam para ele, e igualmente Olívio Wood, Cátia Bell, Angelina Johnson e Alicia Spinnet, Gui e Fleur, e o sr. e a sra. Weasley.
— Harry, que está acontecendo? — perguntou Lupin, indo ao seu encontro no pé da escada.
— Voldemort está a caminho, estão barricando a escola... Snape fugiu... que estão fazendo aqui? Como souberam?
— Enviamos mensagens a todo o resto da Armada de Dumbledore — explicou Fred. — Você não esperava que o pessoal fosse perder a festa, Harry, e a Armada de Dumbledore avisou a Ordem da Fênix, e a coisa virou uma bola de neve.
— Que vai ser primeiro, Harry? — perguntou Jorge. — Que está acontecendo?
— Estão evacuando os alunos menores, e todos vão se encontrar no Salão Principal para nos organizarmos — disse Harry. — Vamos lutar.
Ergueu-se um forte brado e uma onda de pessoas avançou para a escada; Harry foi empurrado contra a parede quando elas passaram apressadas, uma mistura de membros da Ordem da Fênix, da Armada de Dumbledore e da antiga equipe de quadribol de Harry, todas empunhando varinhas, em direção ao interior do castelo.
— Vamos, Luna — chamou Dino ao passar, estendendo-lhe a mão livre; ela segurou-a e acompanhou o amigo escada acima.
A multidão foi rareando: apenas um grupinho de pessoas permaneceu na Sala Precisa, e Harry se reuniu a elas. A sra. Weasley debatia-se com Gina. Em torno das duas, Lupin, Fred e Jorge, Gui e Fleur.
— Você é menor de idade! — gritava a sra. Weasley para a filha quando Harry se aproximou. — Não vou permitir! Os rapazes, sim, mas você tem que voltar para casa.
— Não vou voltar.
Os cabelos de Gina esvoaçavam enquanto ela tentava soltar o braço do aperto da mãe.
— Estou na Armada de Dumbledore...
— ...um bando de adolescentes!
— Um bando de adolescentes que está disposto a enfrentar ele, o que mais ninguém se atreveu a fazer! — replicou Fred.
— Ela tem dezesseis anos! — gritou a sra. Weasley. — Não tem idade suficiente! Que é que vocês dois tinham na cabeça quando a trouxeram junto...
Fred e Jorge pareceram um pouco envergonhados.
— Mamãe tem razão, Gina — disse Gui, delicadamente. — Você não pode lutar. Todos os menores de idade terão de se retirar, é o certo.
— Não posso ir para casa! — gritou Gina, lágrimas de raiva brilhando em seus olhos. — Toda a minha família está aqui, eu não suportaria ficar lá sozinha, esperando sem saber e...
Seus olhos encontraram os de Harry pela primeira vez. Ela o olhou suplicante, mas ele sacudiu a cabeça e a garota lhe deu as costas amargurada.
— Ótimo — disse, com os olhos na entrada do túnel para o Cabeça de Javali. — Vou dizer adeus então e...
Ouviram alguma coisa raspando e um forte baque: alguém mais saíra do túnel, desequilibrara-se um pouco e caíra. O homem se guindou para a cadeira mais próxima, olhou ao redor através dos óculos tortos e perguntou:
— Cheguei tarde demais? Já começou? Acabei de saber, então eu... eu...
Percy embatucou e se calou. Evidentemente, não tinha esperado topar com quase toda a família. Houve um longo momento de espanto, rompido por Fleur que se virou para Lupin e falou, em uma tentativa muito transparente de quebrar a tensão:
— Entam... come vai o pequene Tedí?
Lupin piscou os olhos, espantado. O silêncio entre os Weasley pareceu se solidificar, como gelo.
— Eu... ah, sim... está ótimo! — respondeu Lupin em voz alta. — É, a Tonks está com ele... na casa da mãe.
Percy e os outros Weasley continuavam a se encarar, paralisados.
— Olhe, tenho uma foto! — gritou Lupin, puxando uma foto do bolso interno do blusão e mostrando-a a Fleur e Harry, um bebezinho com um tufo de cabelos turquesa-berrante, acenando os punhos gorduchos para a máquina fotográfica.