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— Vamos sair da linha de fogo! — berrou Rony, quando o gigante tornou a girar a clava e seus urros ecoaram pela noite nos terrenos da escola, onde clarões vermelhos e verdes continuavam a iluminar a escuridão.

— O Salgueiro Lutador — disse Harry. — Agora!

De alguma forma, ele emparedara as emoções em sua mente, confinara-as em um pequeno espaço para o qual ele não podia olhar agora: pensamentos sobre Fred e Hagrid, e seu medo por aqueles que amava, espalhados dentro e fora do castelo, todos precisariam esperar, porque eles tinham que correr, tinham que chegar à cobra e Voldemort, porque era, como dizia Hermione, a única maneira de acabar com aquilo...

Ele correu velozmente, acreditando que, de certa forma, poderia ultrapassar a morte em si, ignorando os jatos de luz que voavam pela escuridão à sua volta, o ruído do lago quebrando como o mar, e os rangidos da Floresta Proibida, embora fosse uma noite de calmaria; através dos jardins que pareciam ter, eles mesmos, se rebelado, Harry correu mais veloz do que jamais o fizera na vida, e foi ele quem viu primeiro a grande árvore, o Salgueiro que protegia o segredo em suas raízes com ramos que cortavam como chicotes.

Com a respiração ofegante, Harry desacelerou, rodeando os ramos socadores do Salgueiro, examinando na escuridão o seu grosso tronco, tentando localizar o nó único na casca da velha árvore que a paralisava. Rony e Hermione o alcançaram tão sem fôlego que não conseguiam falar.

— Como... como vamos entrar? — ofegou Rony. — Poderia... ver o lugar... se ao menos tivéssemos... Bichento...

— Bichento? — chiou Hermione, dobrada, segurando o peito. — Você é um bruxo ou não é?

— Ah... certo... é...

Rony olhou em volta e em seguida apontou a varinha para um graveto no chão e disse:

— Wingardium Leviosa! — O graveto ergueu-se do chão, girou no ar como se uma rajada de vento o apanhasse, então disparou certeiro contra o tronco entre os ramos do Salgueiro Lutador que balançavam agourentamente. Cravou direto em determinado ponto junto às raízes, e imediatamente a árvore se imobilizou.

— Perfeito! — ofegou Hermione.

— Esperem.

Por um lento segundo, ouvindo os choques e estrondos da batalha que enchiam o ar, Harry hesitou. Voldemort queria que ele fizesse aquilo, queria que ele viesse... estaria levando Rony e Hermione para uma armadilha?

A realidade, porém, pareceu assediá-lo, simples e crueclass="underline" o único modo de progredir era matar a cobra, e a cobra estava onde Voldemort estava, e Voldemort estava no fim do túnel...

— Harry, vamos com você, entre logo aí! — disse Rony, empurrando-o para frente.

Harry se espremeu pela passagem de terra oculta pelas raízes da árvore. Estava muito mais apertada do que da última vez que penetraram ali. O túnel tinha o teto baixo: eles precisaram se dobrar para atravessá-lo quase quatro anos antes, agora não havia opção exceto engatinhar. Harry entrou primeiro, a varinha iluminada, esperando encontrar barreiras a qualquer instante, mas não havia nenhuma. Eles se moveram em silêncio, o olhar de Harry fixo na luz oscilante da varinha que empunhava.

Por fim, o túnel começou a se inclinar para o alto e Harry viu adiante uma fresta de luz. Hermione deu um puxão em seu tornozelo.

— A capa! — sussurrou ela. — Vista a capa!

Ele tateou às costas e ela empurrou em sua mão livre um embrulho de tecido escorregadio. Com dificuldade, ele puxou a Capa da Invisibilidade por cima do corpo e murmurou “Nox”, apagando a luz da varinha e continuando a engatinhar o mais silenciosamente possível, todos os seus sentidos tensos, esperando a cada segundo ser descoberto, ouvir a voz fria e clara, ver um lampejo de luz verde.

Então, ele ouviu vozes que vinham da sala diretamente à frente, ligeiramente abafadas porque a abertura no final do túnel estava bloqueada por um objeto que parecia um velho caixote. Mal se atrevendo a respirar, Harry avançou cauteloso até a saída e espiou por uma pequena fresta entre o caixote e a parede.

A sala estava mal iluminada, mas dava para ver Nagini, girando e se enrolando como se estivesse embaixo da água, protegida em sua encantada esfera de estrelas, que flutuava sem apoio no ar. Dava para ver a ponta de uma mesa e uma mão branca de dedos longos brincando com uma varinha. Então Snape falou, e o coração de Harry deu um salto: o bruxo estava a centímetros do lugar em que ele se encolhia escondido.

— ... Milorde, a resistência está entrando em colapso...

— ... e está fazendo isso sem a sua ajuda — retorquiu Voldemort, com sua voz clara e aguda. — Mesmo sendo um bruxo competente, Severo, acho que você não fará muita diferença agora. Estamos quase chegando lá... quase.

— Deixe-me procurar o garoto. Deixe-me trazer Potter. Sei que posso encontrá-lo, Milorde. Por favor.

Snape passou em frente à fresta e Harry recuou um pouco, mantendo os olhos fixos em Nagini, imaginando se haveria algum feitiço que pudesse penetrar a proteção que a cercava, mas não conseguiu pensar em nada. Uma tentativa fracassada e trairia sua posição...

Voldemort se levantou. Harry o via agora, via seus olhos vermelhos e o rosto achatado e ofídico, sua palidez levemente luminosa na penumbra.

— Tenho um problema, Snape — disse Voldemort, suavemente.

— Milorde?

Voldemort ergueu a Varinha das Varinhas, segurando-a com a delicadeza e a precisão de uma batuta de maestro.

— Por que ela não funciona comigo, Severo?

No silêncio, Harry imaginou que ouvia a cobra silvar levemente, enrolando-se e desenrolando-se, ou seria o suspiro sibilante de Voldemort ainda vibrando no ar?

— Mi... milorde? — replicou Snape, aturdido. — Não estou entendendo. O senhor realizou extraordinária magia com essa varinha.

— Não. Realizei a minha magia habitual. Sou extraordinário, mas esta varinha... não. Ela não revelou as maravilhas prometidas. Não sinto diferença entre esta varinha e a que comprei de Olivaras tantos anos atrás.

O tom de Voldemort era reflexivo, calmo, mas a cicatriz de Harry começara a latejar e vibrar: a dor em sua testa aumentava e ele percebia um sentimento de fúria controlada crescer em Voldemort.

— Não há diferença — repetiu Voldemort.

Snape não respondeu. Harry não via seu rosto. Pôs-se a imaginar se ele perceberia o perigo, se estava tentando achar as palavras certas para tranqüilizar o seu senhor.

Voldemort começou a andar pela sala. Harry perdeu-o de vista por alguns segundos nos quais ele rondava, ainda falando naquele mesmo tom comedido; a dor e a fúria se avolumavam em Harry.

— Estive refletindo longa e intensamente, Severo... você sabe por que o fiz voltar da cena da batalha?

E, por um momento, Harry viu o perfil de Snape: seus olhos estavam pregados na cobra que se enroscava na jaula encantada.

— Não, Milorde, mas peço que me deixe retornar. Me deixe encontrar Potter.

— Você parece o Lúcio falando. Nenhum dos dois compreende Potter como eu. Ele não precisa ser achado. Ele virá a mim. Conheço sua fraqueza, entende, seu grande defeito. Ele não suportará ver os outros caírem fulminados ao seu redor, sabendo que é por ele que estão morrendo. Irá querer pôr um fim nisso a qualquer custo. Ele virá.

— Mas, Milorde, ele pode ser morto acidentalmente por outra pessoa que não o senhor.

— Minhas instruções aos meus Comensais da Morte foram absolutamente claras. Capturem Potter. Matem seus amigos... quanto mais melhor... mas não o matem.

“Mas é sobre você que eu queria falar, Severo, e não Harry Potter. Você tem sido muito valioso para mim. Muito valioso.”

— Milorde, sabe que só busco servi-lo. Mas... me deixe ir procurar o garoto, Milorde. Deixe-me trazer Potter ao senhor. Sei que posso...

— Já lhe disse, não! — exclamou Voldemort, e Harry percebeu um brilho vermelho em seus olhos quando ele se virou, o farfalhar de sua capa lembrando o rastejar de uma cobra, e o garoto sentiu a impaciência de Voldemort na queimação de sua cicatriz. — Minha preocupação no momento, Severo, é o que irá acontecer quando eu finalmente me encontrar com o garoto!