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A cena se dissolveu mais uma vez. Snape estava andando apressado pelo corredor do Expresso de Hogwarts enquanto o veículo sacudia pelos campos. Já trocara as vestes da escola, talvez aproveitando a primeira oportunidade para despir suas horríveis roupas de trouxa. Finalmente, parou à porta de um compartimento onde um grupo de garotos barulhentos conversava. Encolhida no canto ao lado da janela, estava sentada Lílian, o rosto colado na vidraça.

Snape abriu a porta do compartimento e se sentou em frente à garota. Ela lhe lançou um breve olhar e tornou a voltar sua atenção para a janela. Estivera chorando.

— Não quero falar com você — disse, em tom crispado.

— Por que não?

— Túnia me od... odeia. Porque vimos aquela carta do Dumbledore.

— E daí?

Ela lhe lançou um olhar de profundo desagrado.

— E daí que ela é minha irmã!

— Ela é só uma... — Ele se refreou depressa; Lílian, ocupada demais em secar os olhos discretamente, não o ouviu. — Mas nós vamos! — exclamou ele, incapaz de conter a exaltação na voz. — Isso é o que conta! Estamos viajando para Hogwarts!

Ela concordou, enxugando os olhos, e, apesar de não querer, deu um meio sorriso.

— É melhor você entrar para a Sonserina — disse Snape, animado ao vê-la menos triste.

— Sonserina?

Um dos garotos que dividia com eles o compartimento, e até aquele momento não mostrara o menor interesse em Lílian e Snape, olhou para o lado ao ouvir aquele nome, e Harry, cuja atenção estivera totalmente concentrada nos dois ao lado da janela, viu seu pai: magro, cabelos negros como os de Snape, mas com aquele ar indefinível de alguém que foi bem cuidado, até adorado, que visivelmente faltava a Snape.

— Quem quer ir para a Sonserina? Acho que eu desistiria da escola, você não? — Tiago perguntou a um garoto esparramado nos assentos defronte a ele, e, com um sobressalto, Harry percebeu que era Sirius. Sirius não riu.

— Toda a minha família foi da Sonserina.

— Caramba — replicou Tiago —, e eu que pensei que você fosse legal!

Sirius riu.

— Talvez eu quebre a tradição. Para qual você iria se pudesse escolher?

Tiago ergueu uma espada invisível.

“Grifinória, a morada dos destemidos!” Como o meu pai. Snape deu um muxoxo de descaso. Tiago se virou para ele.

— Algum problema?

— Não — retrucou Snape, embora seu sorrisinho de deboche dissesse o contrário. — Se você prefere ter mais músculo do que cérebro. ..

— E para onde está esperando ir, uma vez que não tem nenhum dos dois? — interpôs Sirius.

Tiago deu gostosas gargalhadas. Lílian se empertigou, ruborizada, e olhou de Tiago para Sirius com ar de desagrado.

— Vamos, Severo, vamos procurar outro compartimento.

— Oooooo...

Tiago e Sirius imitaram o seu tom de superioridade; Tiago tentou fazer Snape tropeçar quando ele passou.

— A gente se vê, Ranhoso! — uma voz gritou quando a porta do compartimento bateu...

Mais uma vez a cena se dissolveu...

Harry estava atrás de Snape, ambos observando as mesas iluminadas a velas, repletas de rostos extasiados. Então, a professora McGonagall chamou:

— Evans, Lílian!

Ele observou a mãe se adiantar de pernas trêmulas e se sentar no banquinho bambo. A professora deixou cair o Chapéu Seletor sobre sua cabeça, e, mal se passara um segundo após tocar seus cabelos acaju, o chapéu anunciou: “Grifinória!”

Harry ouviu Snape soltar um pequeno gemido. Lílian tirou o chapéu, devolveu-o à professora McGonagall, e correu ao encontro dos alunos da Grifinória que a aplaudiam, mas a caminho se virou para olhar Snape, e havia um sorriso triste no rosto dela. Harry viu Sirius escorregar no banco para dar espaço a Lílian. Ela deu uma olhada e pareceu reconhecê-lo do trem, cruzou os braços e, com firmeza, virou-lhe as costas.

A chamada continuou. Harry observou Lupin, Pettigrew e seu pai se reunirem a Lílian e Sirius à mesa da Grifinória. Por fim, quando restavam apenas dez estudantes a serem selecionados, a professora McGonagall chamou Snape.

Harry acompanhou-o ao banquinho, viu-o colocar o chapéu na cabeça. “Sonserina!”, anunciou o Chapéu Seletor.

E Severo Snape andou para o lado oposto do salão, longe de Lílian, onde os alunos da Casa o aplaudiam e Lúcio Malfoy, com um crachá de monitor brilhando no peito, deu-lhe uma palmadinha nas costas quando Snape se sentou ao seu lado... E a cena mudou...

Lílian e Snape atravessavam o pátio do castelo, discutindo abertamente. Harry se apressou a alcançá-los e escutar. Quando chegou perto, percebeu o quanto ambos haviam crescido: alguns anos pareciam ter transcorrido desde a seleção.

— ... pensei que fôssemos amigos? — reclamava Snape. — Grandes amigos?

Somos, Sev, mas não gosto de um pessoal com quem você anda! Desculpe, mas detesto Avery e Mulciber! Mulciber! O que vê nele, Sev? Me dá arrepios! Você sabe o que ele tentou fazer com a Maria Macdonald outro dia?

Lílian chegou a uma pilastra e se encostou, com os olhos erguidos para o rosto magro e macilento.

— Aquilo não foi nada. Foi uma brincadeira, só isso...

— Foi Magia das Trevas, e se você acha que isso é brincadeira...

— E aquelas coisas que Potter e os amigos dele aprontam? -retrucou Snape. Seu rosto corou ao dizer isso, aparentemente incapaz de refrear o seu rancor.

— E onde é que o Potter entra nisso? — perguntou Lílian.

— Eles saem escondidos à noite. Tem alguma coisa esquisita naquele Lupin. Aonde é que ele sempre vai?

— Ele é doente. Dizem que é doente.

— Todo mês na lua cheia?

— Conheço a sua teoria — replicou Lílian, e seu tom era frio. -Afinal, por que você é tão obcecado por eles? Por que se importa com o que eles fazem à noite?

— Só estou tentando lhe mostrar que eles não são tão maravilhosos quanto todo o mundo parece pensar.

A intensidade do seu olhar a fez corar.

— Mas eles não usam Magia das Trevas. — Lílian baixou a voz. — E você está sendo realmente ingrato. Me contaram o que aconteceu outra noite. Você estava bisbilhotando naquele túnel do Salgueiro Lutador e Tiago Potter salvou você de sei lá o que tem lá embaixo...

O rosto de Snape se contorceu e ele engrolou:

— Salvou? Salvou? Você acha que ele estava bancando o herói? Ele estava salvando o próprio pescoço e o dos amigos também! Você não vai... eu não vou deixar você...

— Me deixar? Me deixar?

Os vivos olhos verdes de Lílian se estreitaram. Snape retrocedeu na mesma hora.

— Eu não quis dizer... só não quero ver você fazer papel de boba... ele gosta de você, Tiago Potter gosta de você! — As palavras davam a impressão de serem arrancadas dele contra sua vontade. — E ele não é... Todo o mundo acha... Grande herói de quadribol... — A amargura e a antipatia que Snape sentia deixavam-no incoerente, e as sobrancelhas de Lílian subiam sem parar em sua testa.

— Eu sei que Tiago Potter é um biltre arrogante — disse ela, cortando Snape. — Não preciso que você me diga. Mas a idéia que Mulciber e Avery fazem do que seja brincadeira é simplesmente maligna. Maligna, Sev. Não entendo como você pode ser amigo deles.

Harry duvidava que Snape tivesse sequer escutado as críticas de Lílian a Mulciber e Avery. No momento em que ela insultara Tiago Potter, todo o seu corpo se descontraiu, e, quando se separaram, havia uma nova leveza no andar de Snape...

E a cena se dissolveu...

De novo, Harry observou Snape deixar o salão principal, após prestar o exame de Defesa Contra as Artes das Trevas para obtenção do N.O.M., sair do castelo sem destino e, distraído, parar perto da bétula onde Tiago, Sirius, Lupin e Pettigrew estavam sentados juntos. Desta vez, porém, Harry guardou distância, porque sabia o que tinha acontecido depois que Tiago pendurou Severo no ar para atormentá-lo; sabia o que tinha sido feito e dito, e não lhe daria prazer algum tornar a assistir. Ele viu quando Lílian se reuniu ao grupo e saiu em defesa de Snape. A distância, ouviu o grito de Snape para ela em sua fúria e humilhação, a palavra imperdoáveclass="underline" “Sangue-ruim.”