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— Não — disse Snape, seus olhos negros acompanhando os dois alunos que se retiravam. — Não sou tão covarde.

— Não — concordou Dumbledore. — Você é um homem bem mais corajoso do que Karkaroff. Sabe, às vezes penso que fazemos a Seleção cedo demais...

Dumbledore se afastou, deixando Snape com um ar espantado...

E, mais uma vez, Harry se viu no gabinete do diretor. Era noite e Dumbledore estava sentado em sua cadeira-trono, à escrivaninha, com o corpo meio caído para um lado, aparentemente semiconsciente. Sua mão direita pendia do braço, escura e queimada. Snape murmurava encantamentos, apontando a varinha para o seu pulso, ao mesmo tempo em que, com a mão esquerda, inclinava uma taça cheia com uma densa poção dourada para a garganta de Dumbledore. Passados alguns momentos, as pálpebras dele mexeram e se abriram.

— Por quê? — perguntou Snape, sem preâmbulo. — Por que você pôs esse anel no dedo? Ele tem um feitiço, certamente você percebeu isso. Por que tocou nele?

O anel de Servolo Gaunt estava sobre a mesa diante de Dumbledore. Estava rachado; e, a espada de Gryffindor, ao lado da jóia. Dumbledore fez uma careta.

— Fui... um tolo. Aflitivamente tentado...

— Tentado pelo quê? Dumbledore não respondeu.

— É um milagre que tenha conseguido voltar a Hogwarts! -Havia fúria no tom de Snape. — Esse anel carregava um feitiço de extraordinário poder, paralisá-lo é o máximo que podemos ter esperança de conseguir; por ora, restringi o feitiço a uma das mãos...

Dumbledore ergueu a mão enegrecida e inútil, examinou-a com a expressão de uma pessoa a quem mostrassem uma interessante curiosidade.

— Você cuidou muito bem de mim, Severo. Quanto tempo acha que me resta?

O tom de Dumbledore era coloquial; poderia estar perguntando qual era a previsão da meteorologia. Snape hesitou e então respondeu:

— Não sei dizer. Talvez um ano. Não há como paralisar um feitiço desses definitivamente. No fim, ele irá se espalhar, é o tipo de feitiço que se fortalece com o tempo.

Dumbledore sorriu. A notícia de que tinha menos de um ano de vida lhe pareceu de pequena ou nenhuma conseqüência.

— Tenho a sorte, a extrema sorte, de contar com você, Severo.

— Se tivesse mandado me chamar um pouco mais cedo, eu talvez tivesse podido fazer mais, ganhar mais tempo para você! — disse Snape, indignado. Ele olhou para o anel partido e a espada. — Você achou que partindo o anel pudesse romper o feitiço?

— Algo parecido... sem dúvida eu estava delirando... — respondeu Dumbledore. Com esforço ele se aprumou na cadeira. — Bem, realmente isso torna as questões mais objetivas.

Snape pareceu extremamente espantado. Dumbledore sorriu.

— Estou me referindo ao plano que Lord Voldemort está tecendo a meu respeito. O plano de mandar o coitado do menino Malfoy me liquidar.

Snape sentou-se na cadeira que Harry tantas vezes ocupara em frente à mesa de Dumbledore. O garoto percebeu que ele queria acrescentar mais alguma coisa a respeito da mão amaldiçoada de Dumbledore, mas o diretor ergueu-a em uma cortês recusa de continuar a discutir o assunto. Amarrando a cara, Snape comentou:

— O Lorde das Trevas não espera que Draco seja bem-sucedido. Isto é apenas um castigo pelos recentes malogros de Lúcio. Uma tortura lenta para os pais de Draco, que o observam fracassar e pagar o preço.

— Em suma, o menino foi sentenciado à morte com tanta certeza quanto eu — disse Dumbledore. — Agora, eu diria que o sucessor natural para esse serviço, se Draco não tiver êxito, será você, não?

Houve uma breve pausa.

— Esse, acho, é o plano do Lorde das Trevas.

— Lord Voldemort prevê um momento em futuro próximo em que não precisará ter um espião em Hogwarts?

— Ele acredita que a escola logo estará nas mãos dele, sim.

— E se realmente cair nas mãos dele — disse Dumbledore, quase como um aparte —, tenho a sua palavra de que fará tudo em seu poder para proteger os estudantes de Hogwarts?

Snape assentiu formalmente.

— Ótimo. Agora então. Sua prioridade será descobrir o que Draco está fazendo. Um adolescente amedrontado é um perigo para os outros e para si mesmo. Ofereça-se para ajudá-lo e orientá-lo, ele deve aceitar, ele gosta de você...

— ... menos, desde que o pai caiu em desgraça. Draco me culpa, acha que usurpei a posição de Lúcio.

— Ainda assim, tente. Estou menos preocupado comigo do que com as vítimas acidentais dos planos que possam ocorrer ao menino. Em última hipótese, é claro, há apenas uma coisa a fazer se você quiser salvá-lo da ira de Lord Voldemort.

Snape ergueu as sobrancelhas e seu tom foi sardônico quando perguntou:

— Você está pretendendo deixar que Draco o mate?

— Certamente que não. Você deverá me matar.

Houve um longo silêncio, quebrado apenas por estranhos cliques. Fawkes, a fênix, estava roendo um pedaço de osso de siba.

— Quer que eu faça isso agora? — perguntou Snape, a voz carregada de ironia. — Ou gostaria de ter alguns momentos para compor um epitáfio?

— Ah, ainda não — respondeu Dumbledore sorrindo. — Acho que a oportunidade se apresentará no devido tempo. Considerando o que aconteceu esta noite — ele indicou a mão murcha —, podemos ter certeza de que isso ocorrerá dentro de um ano.

— Se você não se importa de morrer — disse Snape, com aspereza —, então por que não deixa Draco fazer isso?

— A alma daquele menino ainda não está totalmente comprometida — contestou Dumbledore. — Eu não permitiria que se rompesse por minha causa.

— E a minha alma, Dumbledore? A minha?

— Somente você é capaz de saber se prejudicará sua alma ajudar um velho a evitar a dor e a humilhação — replicou Dumbledore. -Peço a você um único e grande favor, Severo, porque a morte está vindo me buscar tão certo quanto os Chudley Cannons terminarão este ano em último lugar. Confesso que prefiro uma saída rápida e indolor à opção demorada e suja que terei se, por exemplo, Greyback estiver envolvido; ouvi dizer que Voldemort o recrutou. Ou se for a cara Belatriz, que gosta de brincar com a comida antes de comê-la.

Seu tom era leve, mas seus olhos azuis perfuravam Snape como tão freqüentemente perfuravam Harry, como se ele pudesse ver a alma que discutiam. Por fim, Snape fez um breve aceno com a cabeça.

Dumbledore pareceu satisfeito.

— Obrigado, Severo...

O gabinete desapareceu, e agora Snape e Dumbledore estavam caminhando juntos nos jardins desertos do castelo ao crepúsculo.

— Que é que você está fazendo com Potter, todas essas noites em que se trancam no gabinete? — perguntou Snape, abruptamente.

Dumbledore tinha o ar abatido.

— Por quê? Você está tentando lhe dar mais detenções, Severo? Logo o menino passará mais tempo em detenções do que fora delas.

— Ele é o pai sem tirar nem pôr...

— Na aparência, talvez, mas, em sua natureza profunda, ele parece muito mais com a mãe. Gasto tempo com Harry porque tenho coisas a conversar com ele, informações que preciso lhe passar antes que seja tarde demais.

— Informações — respondeu Snape. — Você as confia a ele... não as confia a mim.

— Não é uma questão de confiança. Tenho, como ambos sabemos, um tempo limitado. É essencial que eu dê ao menino informações suficientes para ele fazer o que precisa ser feito.

— E não posso receber as mesmas informações?

— Prefiro não guardar todos os meus segredos em uma única cesta, particularmente uma cesta que passa tanto tempo pendurada no braço de Lord Voldemort.

— O que faço cumprindo suas ordens!

— E faz isso extremamente bem. Não pense que subestimo o constante perigo em que se coloca, Severo. Dar a Voldemort informações que pareçam valiosas, negando-lhe o essencial, é um serviço que eu não confiaria a ninguém exceto você.

— Contudo, você faz muito mais confidencias a um garoto que é incapaz de Oclumência, cuja magia é medíocre e que tem uma ligação direta com a mente do Lorde das Trevas!