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Harry ficou satisfeito de sair da sala e acompanhar Ted Tonks por um pequeno corredor que dava acesso a um quarto. Hagrid acompanhou-os, abaixando-se bem para evitar bater a cabeça na moldura superior da porta.

— Aí está, filho. A Chave de Portal.

O sr. Tonks apontava para uma pequena escova de cabelos com o cabo de prata que se encontrava em cima da penteadeira.

— Obrigado — disse Harry, esticando-se para colocar um dedo no objeto, pronto para partir.

— Espere um instante — disse Hagrid, olhando para os lados. -Harry, cadê Edwiges?

— Ela... ela foi atingida.

A percepção da realidade desabou sobre ele: sentiu-se envergonhado, as lágrimas queimaram seus olhos. A coruja sempre fora sua companheira, sua única e importante ligação com o mundo da magia, sempre que se via obrigado a retornar à casa dos Dursley.

Hagrid estendeu a enorme mão e deu-lhe uma dolorosa palmada nas costas.

— Não fique assim — disse, rouco. — Não fique assim. Ela teve uma vida boa e longa.

— Hagrid! — exclamou Ted, alertando-o quando a escova se iluminou com uma forte luz azul, e Hagrid só teve tempo para encostar o dedo nela.

Sentindo um puxão por dentro do umbigo como se um anzol invisível o arrastasse para a frente, Harry foi sugado para o vazio, e rodopiou inerte, o dedo preso na Chave de Portal, enquanto ele e Hagrid eram arremessados para longe da casa do sr. Tonks. Segundos depois, os seus pés bateram em solo firme e ele caiu de quatro no quintal d’A Toca. Ouviu gritos. Atirando para um lado a escova que já não luzia, Harry se ergueu, um pouco tonto, e viu a sra. Weasley e Gina descerem correndo a escada da entrada dos fundos enquanto Hagrid, que também desmontara à chegada, levantava-se com dificuldade do chão.

— Harry? Você é o Harry verdadeiro? Que aconteceu? Onde estão os outros?! — exclamou a sra. Weasley.

— Como assim? Ninguém mais voltou? — ofegou Harry.

A resposta estava claramente estampada no rosto pálido da sra. Weasley.

— Os Comensais da Morte estavam à nossa espera — contou-lhe Harry. — Fomos cercados no instante em que levantamos vôo... eles sabiam que era hoje... não sei o que aconteceu com os outros. Quatro Comensais vieram atrás de nós, só pudemos escapar, então Voldemort nos alcançou...

Ele percebia o tom de autojustificação em sua voz, a súplica para que ela compreendesse por que ele não sabia o que tinha acontecido com os seus filhos, mas...

— Graças aos céus vocês estão bem — disse ela, puxando-o para um abraço que ele não achava merecer.

— Você não teria conhaque aí, teria, Molly? — perguntou Hagrid um pouco abalado. — Para fins medicinais?

A sra. Weasley poderia ter conjurado a bebida usando magia, mas quando entrou, apressada, na casa torta, Harry percebeu que ela queria esconder o rosto. Virou, então, para Gina que respondeu imediatamente ao seu mudo pedido de informação.

— Rony e Tonks deviam ter voltado primeiro, mas perderam a hora da Chave de Portal, que chegou sem eles — disse ela, apontando para uma lata de óleo enferrujada ali perto no chão. — E aquela outra — Gina apontou para um velho tênis de escola — era a de papai e Fred, que deviam ser os segundos. Você e Hagrid eram os terceiros e — consultando o relógio — se conseguirem, Jorge e Lupin devem chegar no próximo minuto.

A sra. Weasley reapareceu trazendo uma garrafa de conhaque, que entregou a Hagrid. O gigante desarrolhou-a e tomou a bebida de um gole.

— Mamãe! — gritou Gina, apontando para um lugar a vários passos de distância.

Uma luz azul brilhou na escuridão: foi crescendo e se intensificando, Lupin e Jorge apareceram aos rodopios e, em seguida, caíram no chão. Harry percebeu imediatamente que havia alguma coisa errada: Lupin vinha carregando Jorge, que estava inconsciente e tinha o rosto ensangüentado.

Harry correu para os dois e segurou as pernas do rapaz. Juntos, ele e Lupin carregaram Jorge para dentro de casa, e da cozinha para a sala de visitas, onde o deitaram no sofá. Quando a luz do candeeiro iluminou a cabeça dele, Gina prendeu a respiração e o estômago de Harry revirou: Jorge perdera uma das orelhas. O lado de sua cabeça e o pescoço estavam empapados de sangue espantosamente vermelho.

Nem bem a sra. Weasley se curvou para o filho, Lupin segurou Harry pelo braço e arrastou-o, sem muita gentileza, de volta à cozinha, onde Hagrid continuava tentando passar o corpanzil pela porta dos fundos.

— Ei! — exclamou Hagrid indignado. — Solte ele! Solte o braço de Harry!

Lupin não lhe deu atenção.

— Que criatura estava em um canto na primeira vez que Harry Potter visitou o meu escritório em Hogwarts? — perguntou ele, dando uma sacudidela no garoto. — Responda!

— Um... um grindylow em um tanque, não era?

Lupin soltou Harry e recuou de encontro ao armário da cozinha.

— Que foi isso? — rugiu Hagrid.

— Desculpe, Harry, mas eu precisava verificar — disse Lupin tenso. — Fomos traídos. Voldemort sabia que íamos transferir você hoje à noite, e as únicas pessoas que poderiam ter-lhe contado estavam participando diretamente do plano. Você poderia ser um impostor.

— Então, por que não está me testando? — arquejou Hagrid, ainda lutando para passar pela porta.

— Você é meio gigante — respondeu Lupin, erguendo os olhos para Hagrid. — A Poção Polissuco foi concebida apenas para uso humano.

— Ninguém da Ordem contou a Voldemort que ia ser hoje -disse Harry: achava a idéia medonha demais para atribuí-la a qualquer deles. — Voldemort só me alcançou quase no fim, não sabia qual era o Harry. Se estivesse por dentro do plano, teria sabido desde o início que eu estava com Hagrid.

— Voldemort o alcançou? — perguntou Lupin bruscamente. -Que aconteceu? Como foi que você escapou?

Harry explicou brevemente que os Comensais da Morte que vieram em seu encalço pareceram reconhecer que ele era o verdadeiro. Depois, abandonaram a perseguição e foram avisar Voldemort, que apareceu pouco antes de ele e Hagrid chegarem ao santuário da casa dos pais de Tonks.

— Eles reconheceram você? Mas como? Que foi que você fez?

— Eu... — Harry tentou lembrar-se; a viagem toda parecia-lhe um borrão de pânico e confusão. — Eu vi Lalau Shunpike... sabe o condutor do Nôitibus? E tentei desarmá-lo em vez de... bem, ele não sabe o que faz, não é? Deve estar sob o efeito de uma Maldição Imperius.

Lupin se horrorizou.

— Harry, o tempo de desarmar alguém já acabou! Essa gente está tentando capturar você para matá-lo! Pelo menos estupore, se não está preparado para matar!

— Estávamos à grande altitude! Lalau não estava normal, e se fosse estuporado teria caído e morrido como se eu tivesse usado o Avada Kedavra! O Expelliarmus me salvou de Voldemort dois anos atrás — acrescentou Harry, em tom de desafio. Lupin estava lhe lembrando o desdenhoso Zacarias Smith da Lufa-Lufa, que debochara de Harry por ter querido ensinar a Armada de Dumbledore a desarmar.

— É verdade, Harry — disse Lupin, contendo-se a custo. — E um grande número de Comensais da Morte presenciaram o acontecido. Perdoe-me, mas foi uma tática muito insólita para alguém usar sob iminente risco de vida. Repeti-la hoje à noite, diante de Comensais da Morte, que ou presenciaram ou ouviram contar sobre aquela primeira ocasião, foi quase suicídio!

— Então você acha que eu devia ter matado Lalau Shunpike? -indagou Harry enraivecido.

— Claro que não, mas os Comensais, e francamente a maior parte das pessoas, esperariam que você contra-atacasse. Expelliarmus é um feitiço útil, Harry, mas os Comensais da Morte começam a achar que tem a sua assinatura, e insisto que você não deixe isso se confirmar!

Lupin estava fazendo Harry se sentir idiota, contudo, ainda restava no garoto certa vontade de desafiar.

— Não vou eliminar as pessoas só porque estão no meu caminho. Esse é o ofício de Voldemort.