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“Tive raiva disso, Harry.”

Dumbledore confessou abertamente, friamente. Olhava agora por cima da cabeça de Harry, para longe.

— Eu era talentoso, era brilhante. Queria fugir. Queria brilhar. Queria a glória.

“Não me entenda mal”, disse ele, e a dor perpassou o seu semblante, fazendo-o parecer novamente muito idoso. “Eu os amava. Amava meus pais. Amava meu irmão e minha irmã, mas era egoísta, Harry, mais egoísta do que você, que é uma pessoa extraordinariamente generosa, poderia imaginar.

“Então, quando minha mãe morreu, e me deixou a responsabilidade de uma irmã incapacitada e um irmão rebelde, voltei para minha aldeia enraivecido e amargurado. Preso e desperdiçado, pensei! Então, naturalmente, ele chegou...”

Dumbledore tornou a fitar Harry nos olhos.

— Grindelwald. Você não pode imaginar como as suas idéias me contagiaram, Harry, me inflamaram. Trouxas forçados à submissão. Nós, bruxos, vitoriosos. Grindelwald e eu, os jovens líderes gloriosos da revolução.

“Ah, eu tinha alguns escrúpulos. Aliviava a minha consciência com palavras vãs. Tudo seria para o bem maior, e qualquer dano causado seria compensado cem vezes em benefícios para os bruxos. Se eu sabia, no fundo do meu coração, quem era Gerardo Grindelwald’ Acho que sim, mas fechei os olhos. Se os planos que estávamos fazendo viessem a frutificar, todos os meus sonhos se concretizariam.

“E, no cerne dos nossos projetos, as Relíquias da Morte! Como elas o fascinavam, como fascinavam a nós dois! A varinha invencível, a arma que nos conduziria ao poder! A Pedra da Ressurreição significava para ele, embora eu fingisse não saber, um exército de Inferi! Para mim, confesso, significava o retorno dos meus pais e a remoção de toda a responsabilidade dos meus ombros.

“E a Capa da Invisibilidade... por alguma razão, nunca a discutimos muito, Harry. Nós dois éramos capazes de nos ocultar muito bem sem a capa, cuja magia, naturalmente, é poder ser usada para proteger e escudar outros, além do seu dono. Pensei que, se algum dia a encontrássemos, ela poderia ser útil para ocultar Ariana, mas o nosso interesse na capa era apenas completar o trio, porque, dizia a lenda, o homem que reunisse os três objetos seria verdadeiramente o senhor da Morte, e, para nós, invencível.

“Senhores invencíveis da morte, Grindelwald e Dumbledore! Dois meses de insanidade, de sonhos cruéis e descaso com os dois únicos membros da família que me restavam.

“Então... você sabe o que aconteceu. A realidade retornou, na forma do meu irmão rude, iletrado e infinitamente mais admirável. Eu não quis ouvir as verdades que ele atirou na minha cara. Não quis ouvir que não poderia partir em busca das Relíquias levando comigo uma irmã frágil e instável.

“A discussão virou uma briga. Grindelwald se descontrolou. Aquilo que eu sempre percebera nele, embora fingisse não existir, revelou-se de um modo terrível. E Ariana... depois de todo o cuidado e a cautela de minha mãe... jazia morta no chão.”

Dumbledore ofegou e começou a chorar profusamente. Harry estendeu a mão, e ficou contente de constatar que podia tocá-lo: apertou seu braço com força, e Dumbledore gradualmente recobrou o controle.

— Bem, Grindelwald fugiu, como todo o mundo, exceto eu, poderia ter previsto. Sumiu com os seus planos de tomar o poder e seus projetos de torturar trouxas, e seus sonhos com as Relíquias da Morte, sonhos em que eu o encorajara e ajudara. Ele fugiu, me deixando sozinho para enterrar minha irmã e aprender a viver com a minha culpa e o meu terrível pesar, o preço da minha vergonha.

“Os anos passaram. Correram boatos a respeito dele. Diziam que obtivera uma varinha de imenso poder. Entrementes, me ofereceram o posto de ministro da Magia, não uma, mas várias vezes. Naturalmente, recusei. Aprendera que não seria confiável se tivesse o poder em minhas mãos.”

— Mas o senhor teria sido melhor, muito melhor do que o Fudge ou o Scrimgeour! — exclamou Harry.

— Teria? — perguntou Dumbledore, abatido. — Não estou muito seguro. Na adolescência, eu tinha comprovado que o poder era a minha fraqueza e a minha tentação. É uma coisa curiosa, Harry, mas talvez os que têm maior talento para o poder sejam os que nunca o buscaram. Pessoas, como você, a quem empurram a liderança e que aceitam o manto do poder porque devem, e descobrem, para sua surpresa, que lhes cai bem.

“Eu estava mais seguro em Hogwarts. Acho que fui um bom professor...”

— O senhor foi o melhor...

— É muita bondade sua, Harry. Mas, enquanto eu me ocupava com o ensino de jovens bruxos, Grindelwald estava reunindo um exército. Diziam que tinha medo de mim, e talvez fosse verdade, mas teria menos do que eu tinha dele...

“Ah, não de morrer”, explicou Dumbledore em resposta ao olhar indagador de Harry. “Não do que ele pudesse me fazer usando a magia. Eu sabia que nos equiparávamos, talvez eu fosse até um tantinho mais talentoso. Eu temia a verdade. Entende, eu nunca soube qual de nós, naquela última luta horrenda, havia realmente lançado o feitiço que matara minha irmã. Você pode me chamar de covarde: e teria razão. Harry, eu temia mais que tudo o conhecimento de que fora eu o causador de sua morte, não apenas por causa da minha arrogância e estupidez, mas que eu, de fato, tivesse dado o golpe que lhe tirara a vida.

“Acho que ele sabia disso, acho que sabia o que me apavorava. Adiei o confronto com ele até que finalmente fosse demasiado vergonhoso resistir por mais tempo. As pessoas estavam morrendo, e ele parecia irrefreável, e tive que fazer o que pude.

“Bem, você sabe o que aconteceu a seguir. Ganhei o duelo. Ganhei a varinha.”

Novo silêncio. Harry não perguntou se algum dia Dumbledore havia descoberto quem matara Ariana. Não queria saber, e menos ainda que o diretor se visse obrigado a lhe dizer. E, finalmente, ele soube o que Dumbledore teria visto no Espelho de Ojesed, e por que compreendera tão bem a fascinação que o objeto exercia sobre Harry.

Eles se sentaram em silêncio por muito tempo, e o choro da criatura às suas costas praticamente deixou de incomodar Harry.

Por fim, o garoto disse:

— Grindelwald tentou impedir que Voldemort fosse atrás da varinha. Mentiu, sabe, fingindo que nunca a tivera em seu poder.

Dumbledore assentiu, olhando para o colo, as lágrimas brilhando em seu nariz torto.

— Dizem que ele demonstrou remorso nos últimos anos, sozinho em sua cela em Nurmengard. Espero que seja verdade. Gostaria de pensar que ele percebeu o horror e a vergonha do que tinha feito. Talvez aquela mentira a Voldemort fosse a sua tentativa de compensar... de impedir que Voldemort se apossasse da Relíquia...

— ... ou violasse o seu túmulo, talvez? — arriscou Harry, e Dumbledore secou as lágrimas.

Após mais um breve intervalo, Harry disse:

— O senhor tentou usar a Pedra da Ressurreição. Dumbledore fez que sim.

— Quando a descobri, depois de tantos anos, enterrada na casa abandonada dos Gaunt, a Relíquia mais desejável de todas, embora na minha juventude eu a quisesse possuir por razões muito diversas, perdi a cabeça, Harry. Esqueci que fora transformada em Horcrux, que o anel certamente carregaria um feitiço. Apanhei-o e coloquei-o no dedo, e, por um segundo, imaginei que estava prestes a ver Ariana, minha mãe e meu pai e lhes dizer o muito que eu lamentava...

“Fui muito tolo, Harry. Depois de tantos anos, eu não aprendera nada. Eu era indigno de unir as Relíquias da Morte, evidenciara isso repetidamente, e ali estava a prova final.”

— Por quê? Era natural! Queria rever sua família. Que há de errado nisso?

— Talvez um homem em um milhão possa unir as Relíquias, Harry. Eu só merecia possuir a mais mesquinha delas, a menos extraordinária. Eu merecia possuir a Varinha das Varinhas, e não me gabar disso, e não usá-la para matar. Tinha permissão de domar e usar a varinha, porque a conquistara, não para meu ganho pessoal, mas para salvar outros do seu poder.

“Mas a capa, eu a tomei por mera curiosidade, por isso nunca poderia ter funcionado para mim como funciona para você, seu verdadeiro dono. A pedra, eu a teria usado na tentativa de trazer de volta aqueles que estão em paz, e não para permitir o sacrifício da minha vida, como você fez. Você é o digno possuidor das Relíquias.”