Voldemort agora duelava com McGonagall, Slughorn e Kingsley ao mesmo tempo, e seu rosto transparecia um ódio frio ao vê-los trançar e se proteger ao seu redor, incapazes de acabar com ele...
Belatriz também continuava a lutar, a uns cinqüenta metros de Voldemort e, como seu senhor, ela duelava com três de uma vez: Hermione, Gina e Luna, todas empenhadas ao máximo, mas Belatriz valia por todas juntas, e a atenção de Harry foi desviada quando uma Maldição da Morte passou tão perto de Gina que por menos de três centímetros não a matou...
Ele mudou de rumo, avançando para Belatriz em lugar de Voldemort, mas dera apenas alguns passos quando foi empurrado para o lado.
— A MINHA FILHA NÃO, SUA VACA!
A sra. Weasley atirou sua capa para longe enquanto corria, deixando os braços livres. Belatriz girou nos calcanhares, às gargalhadas, ao ver quem era sua nova desafiante.
— SAIAM DO MEU CAMINHO! — gritou a sra. Weasley às três garotas, e, fazendo um gesto largo com a varinha, começou a duelar. Harry observou com terror e animação a varinha de Molly Weasley golpear e girar, e o sorriso de Belatriz Lestrange vacilar e se transformar em um esgar. Jorros de luz voavam de ambas as varinhas, o chão em torno dos pés das bruxas esquentou e fendeu; as duas mulheres travavam uma luta mortal.
— Não! — gritou a sra. Weasley quando alguns estudantes correram, em seu auxílio. — Para trás! Para trás! Ela é minha!
Centenas de pessoas agora se encostaram às paredes observando as duas lutas, Voldemort e seus três oponentes, e Belatriz e Molly, e Harry parado, invisível, dilacerado entre as duas, querendo atacar e ao mesmo tempo proteger, incapaz de garantir que não iria atingir um inocente.
— Que vai acontecer com seus filhos depois que eu matar você? — provocou Belatriz, tão desvairada como o seu senhor, saltando para evitar os feitiços de Molly que dançavam ao seu redor. — Quando a mamãe for pelo mesmo caminho que o Fredinho?
— Você... nunca... mais... tocará... em... nossos... filhos! — gritou a sra. Weasley.
Belatriz deu uma gargalhada, a mesma gargalhada exultante que seu primo Sirius dera ao tombar para trás e atravessar o véu, e de repente Harry previu o que ia acontecer.
O feitiço de Molly voou por baixo do braço esticado de Belatriz e atingiu-a no peito, diretamente sobre o coração.
A risada triunfante de Belatriz congelou, seus olhos pareceram saltar das órbitas: por uma mínima fração de tempo, ela percebeu o que ocorrera e, então, desmontou, e a multidão que assistia bradou, e Voldemort deu um grito.
Harry sentiu como se estivesse virando em câmara lenta; viu McGonagall, Kingsley e Slughorn serem arremessados para trás, debatendo-se e contorcendo-se no ar, quando a fúria de Voldemort, face à queda de sua última e melhor tenente, explodiu com a força de uma bomba. Voldemort ergueu a varinha e apontou-a para Molly Weasley.
— Protego! — berrou Harry, e o Feitiço Escudo expandiu-se no meio do Salão Principal, e Voldemort olhou admirado ao redor, procurando de onde viera, ao mesmo tempo que Harry despia, finalmente, a Capa da Invisibilidade.
O berro de choque, os vivas, os gritos de todos os lados de “HARRY!”, “ELE ESTÁ VIVO!” foram imediatamente sufocados. A multidão se amedrontou, e o silêncio caiu brusca e completamente quando Voldemort e Harry se encararam e começaram no mesmo instante a se rodear.
— Não quero que mais ninguém tente ajudar — disse Harry em voz alta e, no silêncio total, sua voz ecoou como o toque de uma trompa. — Tem que ser assim. Tem que ser eu.
Voldemort sibilou.
— Potter não está falando sério — disse ele, arregalando os olhos vermelhos. — Não é assim que ele age, é? Quem você vai usar como escudo hoje, Potter?
— Ninguém — respondeu Harry, com simplicidade. — Não há mais Horcruxes. Só você e eu. Nenhum poderá viver enquanto o outro sobreviver, e um de nós está prestes a partir para sempre...
— Um de nós? — caçoou Voldemort, e todo o seu corpo estava tenso e seus olhos vermelhos atentos, uma cobra armando o bote. -Você acha que vai ser você, não é, o garoto que sobreviveu por acaso e porque Dumbledore estava puxando os cordões?
— Acaso, foi? Quando minha mãe morreu para me salvar? -desafiou Harry. Eles continuaram a se movimentar de lado, os dois, em um círculo perfeito, mantendo a mesma distância entre si, e para Harry só existia um rosto, o de Voldemort. — Acaso, quando decidi lutar naquele cemitério? Acaso, quando não me defendi hoje à noite e, ainda assim, sobrevivi e retornei para lutar?
— Acasos! — berrou Voldemort, mas ainda assim não atacou, e os circunstantes permaneceram imóveis como se estivessem petrificados, e, das centenas de pessoas no salão, ninguém parecia respirar, exceto os dois. — Acaso e sorte e o fato de você ter se escondido e choramingado atrás das saias de homens e mulheres superiores a você, e me permitido matá-los em seu lugar!
— Você não matará mais ninguém hoje à noite — disse Harry, enquanto se rodeavam e se encaravam nos olhos, verdes e vermelhos. — Você não será capaz de matar nenhum deles, nunca mais. Você não está entendendo? Eu estive disposto a morrer para impedir que você ferisse essas pessoas...
— Mas você não morreu!
— ... mas tive intenção, e foi isso que fez a diferença. Fiz o que minha mãe fez. Protegi-os de você. Você não reparou que nenhum dos feitiços que lançou neles são duradouros? Você não pode torturá-los. Você não pode atingi-los. Você não aprende com os seus erros, Riddle, não é?
— Você se atreve...
— Me atrevo, sim. Sei coisas que você ignora, Tom Riddle. Sei muitas coisas importantes que você ignora. Quer ouvir algumas, antes de cometer outro grande erro?
Voldemort não respondeu, continuou a rondá-lo em círculo, e Harry percebeu que o mantivera temporariamente hipnotizado e acuado, detido pela tênue possibilidade de que Harry pudesse, de fato, conhecer o segredo final...
— É o amor de novo? — disse Voldemort, a zombaria em seu rosto ofídico. — A solução favorita de Dumbledore, amor, que ele alegava conquistar a morte, embora o amor não o tivesse impedido de cair da Torre e se quebrar como uma velha estátua de cera? Amor, que não me impediu de matar sua mãe sangue-ruim como uma barata, Potter; e ninguém parece amá-lo o suficiente para se apresentar desta vez e receber a minha maldição. Então, o que vai impedir que você morra agora quando eu atacar?
— Só uma coisa — respondeu Harry, e eles continuavam a se rodear, absortos um no outro, separados apenas por aquele último segredo.
— Se não for o amor que irá salvá-lo desta vez — retrucou Voldemort —, você deve acreditar que é dotado de uma magia que não tenho, ou, então, de uma arma mais poderosa do que a minha?
— Creio que as duas coisas — replicou Harry, e observou o choque perpassar aquele rosto de cobra e instantaneamente se dispersar; Voldemort começou a rir, e o som era mais apavorante do que os seus gritos; desprovido de humor e sanidade, o riso ecoou pelo salão silencioso.
— Você acha que conhece mais magia do que eu? Do que eu, do que Lord Voldemort, capaz de magia com que o próprio Dumbledore jamais sonhou?
— Ah, ele sonhou, sim, mas sabia mais do que você, sabia o suficiente para não fazer o que você fez.
— Você quer dizer que ele era fraco! — berrou Voldemort. — Fraco demais para ousar, fraco demais para se apoderar do que poderia ser dele, do que será meu!
— Não, ele era mais inteligente do que você, um bruxo melhor e um homem melhor.
— Eu causei a morte de Alvo Dumbledore!
— Você pensa que causou, mas se enganou.
Pela primeira vez a multidão que assistia se moveu quando as centenas de pessoas em torno das paredes unanimemente prenderam o fôlego.