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— Acho que Harry está certo — disse Hermione em voz baixa.

— A varinha não vale a confusão que provoca — respondeu Harry. — Sinceramente — deu as costas aos retratos, pensando na cama de dossel à sua espera na Torre da Grifinória, e imaginando se Monstro lhe levaria um sanduíche lá em cima —, já tive problemas suficientes para a vida inteira.

Dezenove anos depois

O outono pareceu chegar de repente naquele ano. A manhã do dia primeiro de setembro estava revigorante e dourada como uma maçã, e, quando a pequena família atravessou saltitante a rua, em direção à grande estação encardida, a fumaça que os carros expeliam e a respiração dos pedestres cintilavam como teias de aranha no ar frio. Duas grandes gaiolas sacudiam em cima dos carrinhos cheios que os pais empurravam; as corujas dentro delas piavam indignadas, e a menina ruiva acompanhava chorosa os irmãos, agarrada à mão do pai.

— Não vai demorar muito, e você também irá — disse-lhe Harry.

— Dois anos — fungou Lílian. — Quero ir agora!

Os passageiros olharam curiosos para as corujas quando a família se encaminhou em ziguezague para a barreira entre as plataformas nove e dez. A voz de Alvo chegou aos ouvidos de Harry apesar do barulho reinante; seus dois filhos tinham retomado a discussão começada no carro.

Não quero ir! Não quero ir para Sonserina!

— Tiago, dá um tempo! — pediu Gina.

— Eu só disse que ele talvez fosse — defendeu-se Tiago, rindo do irmão mais novo. — Não vejo problema nisso. Ele talvez vá para Sonse...

Tiago, porém, viu o olhar da mãe e se calou. Os cinco Potter se aproximaram da barreira. Lançando ao irmão um olhar ligeiramente arrogante por cima do ombro, Tiago apanhou o carrinho que a mãe levava e saiu correndo. Um instante depois tinha desaparecido.

— Vocês vão escrever para mim, não vão? — perguntou Alvo aos pais, capitalizando imediatamente a ausência momentânea do irmão.

— Todo dia, se você quiser — respondeu Gina.

Todo dia não — replicou Alvo, depressa. — O Tiago diz que a maioria dos alunos recebe carta de casa mais ou menos uma vez por mês.

— Escrevemos para Tiago três vezes por semana no ano passado — contestou Gina.

— E você não acredite em tudo que ele lhe disser sobre Hogwarts — acrescentou Harry. — Ele gosta de brincar, o seu irmão.

Lado a lado, eles empurraram o segundo carrinho e ganharam velocidade. Ao alcançarem a barreira, Alvo fez uma careta, mas a colisão não ocorreu. Em vez disso, a família emergiu na plataforma nove e meia, que estava encoberta pela densa fumaça clara que saía do Expresso de Hogwarts. Vultos indistintos pululavam na névoa, em que Tiago já desaparecera.

— Onde eles estão? — perguntou Alvo, ansioso, espiando os vultos brumosos pelos quais passavam ao avançar pela plataforma.

— Nós os acharemos — tranqüilizou-o Gina.

Mas o vapor era denso, e estava difícil distinguir os rostos das pessoas. Separadas dos donos, as vozes ecoavam anormalmente altas. Harry pensou ter ouvido Percy discursar sonoramente sobre o regulamento para uso de vassouras, e ficou feliz de ter um pretexto para não parar e cumprimentar...

— Acho que são eles, Al — disse Gina, de repente.

Um grupo de quatro pessoas que estava parado ao lado do último vagão emergiu da névoa. Seus rostos só entraram em foco quando Harry, Gina, Lílian e Alvo estavam quase em cima deles.

— Oi — disse Alvo, parecendo imensamente aliviado.

Rosa, que já estava usando as vestes de Hogwarts recém-compradas, deu-lhe um grande sorriso.

— Afinal, conseguiu estacionar direito? — perguntou Rony a Harry. — Eu consegui. Hermione não acreditou que eu pudesse passar no exame de motorista dos trouxas, não é mesmo? Achou que eu ia precisar confundir o examinador.

— Não pensei, não — replicou Hermione —, fiz a maior fé em você.

— Pois eu o confundi, mesmo — sussurrou Rony para Harry, quando, juntos, embarcaram o malão e a coruja de Alvo no trem. -Só me esqueci de olhar pelo retrovisor externo, e, cá entre nós, posso usar um Feitiço Supersensorial para isso.

De volta à plataforma, eles encontraram Lílian e Hugo, o irmão mais novo de Rosa, entretidos em uma animada discussão sobre a Casa para a qual seriam selecionados, quando finalmente fossem para Hogwarts.

— Se você não for para a Grifinória, nós o deserdaremos — ameaçou Rony —, mas não estou pressionando ninguém.

— Rony!

Lílian e Hugo riram, mas Alvo e Rosa ficaram muito preocupados.

— Ele não está falando sério — disseram Hermione e Gina, mas Rony já não estava prestando atenção. Atraindo o olhar de Harry, ele acenou discretamente com a cabeça para um ponto a uns cinqüenta metros. O vapor tinha rareado por um momento, e três pessoas estavam paradas destacando-se contra a névoa em movimento.

— Veja só quem está ali.

Draco Malfoy estava parado com a mulher e o filho, um sobretudo escuro abotoado até o pescoço. Seus cabelos já revelavam entradas que salientavam o seu queixo fino. O novo aluno parecia com Draco tanto quanto Alvo parecia com Harry. Draco viu Harry, Rony, Hermione e Gina olhando para ele, deu um breve aceno com a cabeça e se afastou.

— Então aquele é o pequeno Escórpio — comentou Rony em voz baixa. — Não deixe de superá-lo em todos os exames, Rosinha. Graças a Deus você herdou a inteligência da sua mãe.

— Rony, pelo amor de Deus. — O tom de Hermione mesclava seriedade e vontade de rir. — Não tente indispor os dois antes mesmo de entrarem para a escola!

— Você tem razão, desculpe — mas, incapaz de se conter, ele acrescentou —, mas não fique muito amiga dele, Rosinha. Vovô Weasley nunca perdoaria se você casasse com um sangue-puro.

— Ei!

Tiago reaparecera; tinha se livrado do malão, da coruja e do carrinho e, evidentemente, estava fervilhando de novidades.

— Teddy está lá atrás — disse ele, sem fôlego, apontando por cima do ombro para as gordas nuvens de vapor. — Acabei de ver! E adivinhe o que ele está fazendo? Se agarrando com a Victoire!

Ele ergueu os olhos para os adultos, visivelmente desapontado com a falta de reação.

— O nosso Teddy! Teddy Lupin! Agarrando a nossa Victoire! Nossa prima! E perguntei a Teddy que é que ele estava fazendo...

— Você interrompeu os dois? — indagou Gina. — Você é igualzinho ao Rony...

— ... e ele disse que tinha vindo se despedir dela! E depois me disse para dar o fora. Ele está agarrando ela! — acrescentou Tiago, preocupado que não tivesse sido suficientemente claro.

— Ah, seria ótimo se os dois se casassem! — sussurrou Lílian enlevada. — Então o Teddy ia realmente fazer parte da nossa família!

— Ele já aparece para jantar quatro vezes por semana — disse Harry. — Por que não o convidamos para morar de uma vez conosco?

— É! — concordou Tiago, entusiasmado. — Eu não me importo de dividir o quarto com o Alvo... Teddy poderia ficar com o meu!

— Não — disse Harry, com firmeza —, você e Al só dividirão um quarto quando eu quiser ter a casa demolida.

Ele consultou o velho relógio arranhado que, no passado, tinha pertencido a Fábio Prewett.

— São quase onze horas, é melhor embarcar.

— Não se esqueça de transmitir a Neville o nosso carinho! — recomendou Gina a Tiago ao abraçá-lo.

— Mamãe! Não posso transmitir carinho a um professor!

— Mas você conhece Neville...

Tiago girou os olhos para o alto.

— Aqui fora, sim, mas, na escola, ele é o professor Longbottom, não é? Não posso entrar na aula de Herbologia falando em carinho...