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— Espere aí — disse Rony, franzindo a testa. — O pedacinho de alma naquele diário estava possuindo a Gina, não? Como é isso, então?

— Enquanto o objeto mágico continuar intacto, o pedacinho de alma nele pode entrar em uma pessoa e tornar a sair se ela chegar muito perto do objeto. Não precisa segurá-lo muito tempo, não é o toque que importa — acrescentou ela, antes que Rony pudesse falar. — É a proximidade emocional. Gina abriu o coração para o diário, tornando-se, assim, incrivelmente vulnerável. A pessoa se mete em apuros quando se apega demais ou passa a depender de uma Horcrux.

— Fico imaginando como foi que Dumbledore destruiu o anel -disse Harry. — Por que não perguntei a ele? Realmente nunca...

Sua voz foi morrendo: pensou nas muitas coisas que deveria ter perguntado a Dumbledore e como, desde sua morte, lhe parecia que tinha desperdiçado tantas oportunidades, enquanto o diretor era vivo, para descobrir mais... descobrir tudo...

O silêncio foi quebrado quando a porta do quarto se escancarou, produzindo um estrondo de sacudir as paredes. Hermione gritou e deixou cair O Segredos das artes mais tenebrosas; Bichento disparou para baixo da cama, bufando indignado. Rony pulou da cama, escorregou em uma embalagem velha de sapos de chocolate e bateu a cabeça na parede oposta, e Harry, instintivamente, se jogou para apanhar sua varinha antes de perceber que estava vendo a sra. Weasley, que tinha os cabelos revoltos e o rosto contorcido de raiva.

— Lamento interromper essa reuniãozinha íntima — vociferou ela, com a voz trêmula. — Tenho certeza de que vocês precisam de descanso... mas há presentes de casamento empilhados no meu quarto que precisam ser separados, e tive a impressão de que vocês concordaram em ajudar.

— Ah, sim — respondeu Hermione aterrorizada, levantando-se depressa e fazendo os livros voarem para todos os lados. — Ajudaremos... pedimos desculpas...

Com um olhar aflito para Harry e Rony, a garota saiu correndo do quarto atrás da sra. Weasley.

— É como se a gente fosse um elfo doméstico — queixou-se Rony em voz baixa, ainda massageando a cabeça e saindo com Harry atrás das duas. — Só que sem a satisfação no trabalho. Quanto mais cedo esse casamento terminar, mais feliz eu vou ficar.

— É — concordou Harry —, então não teremos mais nada para fazer exceto procurar Horcruxes... vai parecer até que estamos de férias, não é?

Rony começou a rir, mas, ao ver a enorme pilha de presentes de casamento que os esperava no quarto da sra. Weasley, parou no ato.

Os Delacour chegaram na manhã seguinte às onze horas. A essa altura, Harry, Rony, Hermione e Gina já estavam sentindo certa raiva da família de Fleur; foi de má vontade que Rony subiu as escadas batendo os pés para calçar meias iguais e Harry tentou baixar os cabelos. Quando foram considerados bem arrumados, os garotos saíram em fila para esperar as visitas no quintal batido de sol.

Harry nunca vira a casa tão arrumada. Os caldeirões enferrujados e as botas velhas que, em geral, coalhavam a escada para a porta dos fundos tinham desaparecido e sido substituídos por dois grandes vasos com arbustos tremulantes a cada lado da porta; embora não houvesse brisa, as folhas balançavam preguiçosamente, produzindo um belo efeito ondulante. As galinhas tinham sido trancadas no galinheiro, o quintal varrido e o jardim anexo fora despojado das folhas velhas, podado e, de um modo geral, cuidado, embora Harry, que o preferia sem trato, achasse que o jardim parecia abandonado sem o seu contingente normal de gnomos saltitantes.

O garoto perdera a noção da quantidade de feitiços de segurança que tinham sido lançados sobre A Toca, tanto pela Ordem quanto pelo Ministério; só sabia que tinham inviabilizado a possibilidade de alguém viajar por magia até ali. O sr. Weasley, portanto, fora esperar os Delacour no alto de um morro próximo, onde a família chegaria por Chave de Portal. O primeiro sinal de sua aproximação foi uma gargalhada anormalmente aguda, dada pelo sr. Weasley, soube-se depois, que apareceu ao portão em seguida, carregado de malas à frente de uma bela loura de longas vestes verde-folha, que só poderia ser a mãe de Fleur.

Maman! — exclamou Fleur, correndo para abraçá-la. — Papa!

O sr. Delacour não era nem de longe atraente como sua mulher; era uma cabeça mais baixo que ela, além de extremamente gordo, e usava uma barbicha pontuda e preta. Parecia, contudo, uma pessoa bem-humorada. Sacudindo-se nas botas de salto em direção à sra. Weasley, ele lhe aplicou dois beijos em cada bochecha, deixando-a perturbada.

Vocês tiverram tante trrabalhe — disse ele com sua voz grave. — Fleur nos contou qu’andarram trrabalhando muite mesme.

— Ah, não foi nada, absolutamente nada! — gorjeou a sra. Weasley. — Não foi trabalho algum!

Rony aliviou sua frustração mirando um pontapé em um gnomo que estava espiando atrás de um dos vasos com arbustos tremulantes.

Minhe carra senhorra! — replicou o sr. Delacour, ainda segurando a mão da sra. Weasley entre as suas, muito gorduchas, e dando-lhe um radiante sorriso. — Nos sentimes muite honrrrades com a eminente união de nosses famílies! Deixe-me arpresentarr-lhe minhe mulherr, Apolline.

Madame Delacour adiantou-se como se deslizasse e se curvou para beijar a sra. Weasley também.

Enchantée — disse ela. — Se marrido esteve me contanto histórrias muite diverrtidas!

O sr. Weasley soltou uma risada exagerada; a sra. Weasley lançou-lhe um olhar que o fez calar-se imediatamente e assumir uma expressão mais apropriada a uma visita a um amigo doente no hospital.

E, naturralmente, já conhecem minhe filhinea Gabrrielle! — disse Monsieur Delacour. Gabrielle era uma Fleur em miniatura; onze anos, cabelos louros platinados, a garota dirigiu um sorriso ofuscante à sra. Weasley, abraçou-a e, pestanejando, lançou um olhar intenso a Harry. Gina pigarreou alto.

— Então, entrem, por favor! — convidou a sra. Weasley animada, levando os hóspedes para dentro, depois de muitos “Não, por favor!” e “Primeiro os senhores!” e “De maneira alguma!”.

Os Delacour, eles não tardaram a perceber, eram hóspedes prestativos e agradáveis. Mostravam-se satisfeitos com tudo e desejosos de ajudar nos preparativos do casamento. Monsieur Delacour considerou tudo, desde a distribuição de lugares até os sapatos das damas de honra, “charmant!”. Madame Delacour era muito talentosa com feitiços domésticos e deixou o forno limpo em segundos; Gabrielle seguia a irmã mais velha pela casa, tentando ajudar no que pudesse, tagarelando em um francês muito rápido.

Embaixo, A Toca não fora construída para acomodar tanta gente. O casal Weasley agora estava dormindo na sala de visitas depois de calar os protestos de Monsieur e Madame Delacour e insistir que os dois ocupassem seu quarto. Gabrielle ia dormir com Fleur no antigo quarto de Percy e Gui dividiria o quarto com Carlinhos, seu padrinho de casamento, quando ele chegasse da Romênia. As oportunidades de se reunirem para fazer planos praticamente deixaram de existir, e foi por desespero que Harry, Rony e Hermione passaram a se oferecer para dar comida às galinhas só para fugir da casa demasiado cheia.

— Nem assim ela vai nos deixar em paz! — reclamou Rony quando a segunda tentativa de se encontrarem no quintal foi frustrada pelo aparecimento da sra. Weasley, carregando um grande cesto de roupa lavada nos braços.

— Ah, ótimo, vocês já alimentaram as galinhas — disse ao se aproximar. — É melhor prendê-las outra vez no galinheiro antes que os homens cheguem amanhã... para armar a tenda para o casamento -explicou, parando e se apoiando à parede da casa. Ela parecia exausta. — Tendas Mágicas Millamant... eles são muito bons. Gui vai acompanhá-los... é melhor você não sair de casa enquanto estiverem aqui, Harry. Devo confessar que complica bastante organizar um casamento, com tantos feitiços de segurança pela propriedade.