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— Não precisam fazer cara de sapos empalhados! Antes de se tornar respeitado e respeitável e toda essa baboseira, correram boatos bem esquisitos sobre o Alvo!

— Calúnias sem fundamento — replicou Doge, ficando outra vez cor de rabanete.

— É bem o que você diria, Elifas — cacarejou tia Muriel. — Notei como você pulou os pontos controvertidos naquele seu obituário!

— Lamento que pense assim — disse Doge, com a maior frieza. -Posso lhe assegurar que escrevi com o coração.

— Ah, todo o mundo sabe que você venerava Dumbledore; ouso dizer que continuará a achá-lo um santo, mesmo se revelarem que ele matou aquela bruxa abortada que era a irmã dele.

Muriel! — exclamou Doge.

Uma frialdade que não se devia ao champanhe gelado começou a invadir o peito de Harry.

— Como assim? — perguntou ele a Muriel. — Quem disse que a irmã dele era uma bruxa abortada? Pensei que fosse doente, não?

— Pois pensou errado, não foi, Barry?! — exclamou tia Muriel, parecendo satisfeita com o efeito que causara. — Enfim, como você poderia saber alguma coisa sobre isso? Aconteceu há muitos anos, antes mesmo que você fosse cogitado, meu caro, e a verdade é que nós que estávamos vivos à época nunca soubemos o que realmente aconteceu. É por isso que mal posso esperar para ler o que Skeeter desenterrou! Dumbledore guardou silêncio sobre aquela irmã por tempo demais!

— Não é verdade — chiou Doge. — Absolutamente não é verdade.

— Ele nunca me disse que teve uma irmã que era um aborto — disse Harry sem pensar, ainda frio por dentro.

— E por que lhe diria isso? — esganiçou-se Muriel, oscilando um pouco na cadeira, tentando focalizar Harry.

— A razão por que Alvo nunca falava em Ariana — começou Elifas, com a voz emocionada — é, imagino, muito clara. Ficou arrasado com a morte da irmã...

— Por que ninguém nunca a via, Elifas? — grasnou Muriel. — Por que metade de nós sequer soube que ela existia, até o caixão sair da casa para os funerais? Onde estava o santo Dumbledore, enquanto Ariana viveu trancada no porão? Estava brilhando em Hogwarts sem se importar com o que acontecia em sua própria casa!

— Como assim “trancada no porão”? — perguntou Harry. — Que quer dizer com isso?

Doge era a imagem da infelicidade. Tia Muriel tornou a responder a Harry com sua voz aguda.

— A mãe de Dumbledore era uma mulher apavorante, simplesmente apavorante. Nasceu trouxa, embora tenham me dito que ela fingia não ser...

— Ela nunca fingiu nada! Kendra era uma excelente mulher! -sussurrou Doge angustiado, mas tia Muriel não lhe deu atenção.

— ... orgulhosa e muito dominadora, o tipo de bruxa que se sentiria mortificada de produzir um aborto da natureza...

— Ariana não era um aborto da natureza! — chiou Doge.

— É o que você diz, Elifas, mas me explique, então, por que ela nunca freqüentou Hogwarts! — E, voltando-se para Harry. — No nosso tempo, era comum as famílias esconderem os bruxos abortados. Embora chegar ao extremo de trancafiar uma menininha em casa e fingir que ela não existia...

— Estou lhe afirmando que não foi o que aconteceu! — retorquiu Doge, mas tia Muriel passou de rolo compressor e continuou a se dirigir a Harry.

— Os bruxos abortados normalmente iam para escolas de trouxas e eram incentivados a se integrarem na comunidade trouxa... muito mais caridoso do que tentar encontrar um lugar para eles no mundo bruxo, onde seriam sempre considerados inferiores; mas naturalmente Kendra Dumbledore não sonharia em deixar a filha freqüentar uma escola trouxa.

— Ariana era delicada! — argumentou Doge desesperado. — A saúde dela sempre foi precária demais para lhe permitir...

— Permitir sair de casa? — cacarejou Muriel. — No entanto, ela jamais foi levada ao St. Mungus e nenhum curandeiro jamais foi chamado para atendê-la!

— Francamente, Muriel, como é possível você saber se...

— Para sua informação, Elifas, meu primo Lancelote era curandeiro no St. Mungus naquela época e contou à minha família, em confiança, que Ariana nunca fora vista por lá. Tudo muito suspeito, era o que o Lancelote pensava!

Doge parecia à beira das lágrimas. Tia Muriel, que parecia estar se divertindo imensamente, estalou os dedos para que lhe trouxessem mais champanhe. Sem sentir, Harry pensou nos Dursley e como, no passado, o tinham calado, trancado e mantido fora de vista, tudo pelo crime de ser bruxo. A irmã de Dumbledore teria sofrido o reverso do mesmo destino? Presa por lhe faltar magia? E Dumbledore teria realmente deixado a irmã entregue à própria sorte enquanto partia para Hogwarts, para provar sua genialidade e talento?

— Agora, se Kendra não tivesse morrido primeiro — retomou Muriel —, eu diria que foi ela quem liquidou Ariana...

— Como pode dizer isso, Muriel? — gemeu Doge. — Uma mãe matar a própria filha? Pense no que está dizendo!

— Se a mãe em questão fosse capaz de manter a filha presa durante anos, por que não? — retrucou Muriel sacudindo os ombros. -Mas, como digo, a história não se encaixa, porque Kendra morreu antes de Ariana, portanto, ninguém jamais soube direito...

— Ah, com certeza Ariana assassinou a mãe — replicou Doge, tentando corajosamente desdenhar. — Por que não?

— É, Ariana talvez tenha feito uma desesperada tentativa para se libertar e, no esforço, matou Kendra — concluiu tia Muriel, pensativa. — Pode balançar a cabeça o quanto quiser, Elifas! Você esteve nos funerais de Ariana, não esteve?

— Estive — confirmou Doge, com os lábios trêmulos. — E não me lembro de ocasião mais desesperadamente triste. Alvo estava com o coração despedaçado...

— E não era só o coração. Aberforth não quebrou o nariz de Dumbledore durante a encomendação do corpo?

Se Doge parecera horrorizado antes, não se comparava ao que demonstrava agora. Era como se Muriel o tivesse esfaqueado. A bruxa riu alto e tomou mais um gole de champanhe, que escorreu pelo seu queixo.

— Como você...?! — exclamou Doge rouco.

— Minha mãe era amiga da velha Batilda Bagshot — disse ela, alegre. — Batilda contou tudo a minha mãe, e eu ouvi atrás da porta. Uma briga ao lado do caixão. Pelo que Batilda descreveu, Aberforth gritou que era culpa de Alvo que Ariana tivesse morrido e, em seguida, deu-lhe um murro na cara. Ela contou ainda que Alvo nem sequer se defendeu, o que é estranho, porque poderia ter acabado com o irmão em um duelo com as mãos amarradas nas costas.

Muriel continuou bebendo champanhe. A enumeração desses velhos escândalos parecia animá-la tanto quanto horrorizava Doge. Harry não sabia o que pensar, em que acreditar: queria a verdade, contudo, Doge não reagia, apenas balia debilmente que Ariana adoecera. Harry não conseguia acreditar que Dumbledore não tivesse intervindo se estivesse ocorrendo uma crueldade daquelas em sua própria casa, mas, sem dúvida, havia alguma coisa estranha na história toda.

— E vou lhe dizer mais — continuou Muriel, com um leve soluço, baixando sua taça. — Acho que Batilda deu com a língua nos dentes para Rita Skeeter. Aquelas insinuações que ela fez na entrevista sobre uma importante fonte chegada aos Dumbledore... todos sabem que Batilda presenciou o que aconteceu com Ariana, e se encaixaria perfeitamente!

— Batilda jamais falaria com Rita Skeeter! — murmurou Doge.

— Batilda Bagshot? — indagou Harry. — A autora de História da magia?

O nome estava impresso na capa de um de seus livros de escola, embora o garoto reconhecesse que não era um dos que ele tivesse lido com muita atenção.

— É — confirmou Doge, agarrando-se à pergunta de Harry como um afogado se agarra a uma bóia. — Uma talentosa historiadora da magia e uma velha amiga de Alvo.

— E ultimamente bem gagá, segundo ouvi dizer — acrescentou tia Muriel animada.

— Se isso é verdade, foi ainda mais desonroso Skeeter ter se aproveitado dela — disse Doge —, e ninguém pode confiar em nada que Batilda possa ter dito!