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— Há maneiras de se recuperar lembranças, e tenho certeza de que Rita Skeeter conhece todas. Mas, mesmo que Batilda esteja completamente lelé, tenho certeza de que ainda guarda velhas fotos e talvez até cartas. Conheceu os Dumbledore durante anos... o que valeria uma viagem a Godric’s Hollow, na minha opinião.

Harry, que estivera bebericando sua cerveja amanteigada, se engasgou. Doge deu-lhe palmadas nas costas enquanto o garoto tossia, olhando para tia Muriel com os olhos cheios de lágrimas. Quando recuperou a voz, perguntou:

— Batilda Bagshot mora em Godric’s Hollow?

— Ah, sim, há uma eternidade! Os Dumbledore se mudaram para lá depois que Percival foi preso, e ela foi vizinha da família.

— Os Dumbledore moraram em Godric’s Hollow?

— Sim, Barry, foi o que acabei de dizer — respondeu tia Muriel irritada.

Harry se sentiu esgotado, vazio. Nem uma vez, naqueles seis anos, Dumbledore lhe contara que os dois tinham morado e perdido familiares queridos em Godric’s Hollow. Por quê? Seus pais teriam sido enterrados perto da mãe e da irmã de Dumbledore? Dumbledore teria visitado seus túmulos e, talvez, passado pelos de Lílian e Tiago a caminho? E jamais contara a Harry... jamais se preocupara em dizer...

E por que era tão importante, Harry não sabia explicar nem para si mesmo, contudo sentia que equivalia a uma mentira não ter mencionado que tinham aquele lugar e aquelas experiências em comum. O garoto ficou olhando duro em frente, mal notando o que estava acontecendo ao seu redor, e não percebeu que Hermione se destacara da multidão de convidados, até ela puxar uma cadeira e sentar ao seu lado.

— Simplesmente não consigo dançar mais — ofegou, tirando um dos sapatos e esfregando a sola de um pé. — Rony foi buscar mais cerveja amanteigada. Que coisa estranha, acabei de ver Vítor se afastando enfurecido do pai de Luna, parecia que estiveram discutindo... — Ela baixou a voz, olhando-o. — Harry, você está bem?

O garoto não sabia por onde começar, mas não fez diferença. Naquele momento, algo volumoso e prateado atravessou o toldo sobre a pista de dança. Gracioso e reluzente, o lince aterrissou com leveza entre os espantados convidados. Cabeças se viraram, e as pessoas que estavam mais próximas congelaram absurdamente em meio a passos de dança. Então a boca do Patrono se abriu desmesuradamente e ele anunciou na voz alta, grave e lenta de Kingsley Shacklebolt:

— O Ministério caiu. Scrimgeour está morto. Eles estão vindo.

9

Um esconderijo

A cena pareceu imprecisa e lenta. Harry e Hermione saltaram das cadeiras e empunharam suas varinhas. Muita gente começava apenas a entender que algo estranho acontecera; as cabeças se mantinham voltadas para o lince prateado enquanto ele sumia no ar. O silêncio se propagou em ondas frias desde o ponto em que o Patrono aterrissara. Então alguém gritou.

Harry e Hermione se precipitaram para a multidão em pânico. Os convidados disparavam em todas as direções; muitos estavam desaparatando; os feitiços que protegiam A Toca e seus arredores tinham sido anulados.

— Rony! — gritou Hermione. — Cadê você?

À medida que avançavam pela pista de dança, Harry viu vultos de capa e máscara surgirem na multidão; viu também Lupin e Tonks de varinhas erguidas, e ouviu ambos gritarem: “Protego!”, um grito que ecoou por todos os lados...

— Rony! Rony! — chamava Hermione, quase soluçando, enquanto ela e Harry eram empurrados pelos convidados aterrorizados; o garoto agarrou a mão dela para garantir que não se separassem, ao mesmo tempo que um raio de luz passou por cima de suas cabeças; se era um feitiço de proteção ou algo mais sinistro eles não sabiam dizer...

Então Rony apareceu. Segurou o braço livre de Hermione, e Harry sentiu-a girar no mesmo lugar; visão e audição se extinguiram quando ele foi engolido pela escuridão; sua única sensação era a mão de Hermione ao ser comprimido no espaço e no tempo, distanciando-se d’A Toca, distanciando-se dos Comensais da Morte que desciam, talvez do próprio Voldemort...

— Onde estamos? — perguntou a voz de Rony.

Harry abriu os olhos. Por um momento pensou nem ter deixado o local do casamento: continuavam cercados de pessoas.

— Rua Tottenham Court — ofegou Hermione. — Ande, apenas ande, precisamos encontrar um lugar para você se trocar.

Harry obedeceu. Eles meio que andavam, meio que corriam pela larga rua escura, apinhada de gente que se divertia na noite, ladeada por lojas fechadas, as estrelas brilhando lá no alto. Um ônibus de dois andares passou, barulhento, e um alegre grupo de boêmios ficou olhando das janelas para eles; Harry e Rony ainda usavam vestes a rigor.

— Hermione, não temos roupas para trocar — comentou Rony, quando uma jovem caiu na risada ao vê-los.

— Por que não verifiquei se tinha trazido comigo a Capa da Invisibilidade? — perguntou Harry, xingando mentalmente a própria burrice. — Carreguei-a durante todo o ano passado e...

— Tudo bem, eu trouxe a capa, trouxe roupas para vocês dois -disse Hermione. — Tentem apenas agir com naturalidade até... aqui vai dar.

Ela os levou a uma rua lateral, e dali ao refúgio de uma travessa escura.

— Quando você diz que trouxe a capa e as roupas... — Harry começou a dizer, franzindo a testa para a amiga, que não levava nada nas mãos, exceto a bolsinha de contas, em cujo interior ela agora remexia.

— Isso mesmo, estão aqui — respondeu ela e, para espanto dos dois garotos, tirou da bolsa um jeans, uma camiseta, meias marrons e, finalmente, a Capa da Invisibilidade prateada.

— Caraça, como foi...?

— Feitiço Indetectável de Extensão — respondeu Hermione. — Complicado, mas acho que o executei corretamente; enfim, consegui enfiar aqui dentro tudo que precisamos. — Ela deu uma sacudidela na bolsinha frágil que ressoou como um porão de carga, quando dentro rolaram vários objetos pesados. — Ah, droga, devem ser os livros — disse Hermione dando uma espiada —, eu tinha empilhado todos por assunto... ah, bom... Harry, é melhor ficar com a Capa da Invisibilidade. Rony, depressa, se troca logo...

— Quando foi que você fez tudo isso? — perguntou Harry, enquanto Rony despia as vestes.

— Eu lhe falei n’A Toca que tinha empacotado o essencial, lembra, caso a gente precisasse sair correndo. Arrumei a sua mochila hoje de manhã, Harry, depois que você se trocou, e guardei tudo aqui... tive um pressentimento...

— Você é um assombro, só é! — exclamou Rony, lhe entregando as vestes enroladas.

— Obrigada — disse Hermione, se esforçando para sorrir ao guardar as vestes na bolsinha. — Por favor, Harry, cubra-se com a capa!

Harry atirou a capa sobre os ombros e puxou-a para a cabeça, desaparecendo de vista. Começava, enfim, a avaliar o que acontecera.

— Os outros... todo o mundo no casamento...

— Não podemos nos preocupar com isso agora — sussurrou Hermione. — É atrás de você que eles estão, Harry, e deixaremos todos em maior perigo se voltarmos.

— Ela tem razão — confirmou Rony, que pareceu perceber que Harry ia contra-argumentar, ainda que não pudesse ver o rosto do amigo. — A maior parte dos membros da Ordem estava presente, eles cuidarão de todos.

Harry assentiu, mas lembrou que os outros não podiam vê-lo e acrescentou:

— É. — Pensou, porém, em Gina, e o medo borbulhou como um ácido em seu estômago.

— Vamos, acho que temos de continuar andando — disse Hermione.

Os três tornaram a sair da rua lateral e entrar na principal, onde um grupo de homens cantava e acenava da calçada oposta.

— Só por curiosidade, por que a rua Tottenham Court? — perguntou Rony a Hermione.

— Não faço idéia, o nome simplesmente me ocorreu, mas tenho certeza de que estaremos mais seguros no mundo dos trouxas, não é onde eles esperam que estejamos.

— Verdade — concordou Rony, olhando para os lados —, mas você não se sente um pouco... exposta?