Выбрать главу

— Nós acordamos e não sabíamos onde você estava — disse ofegante. Virando-se, gritou por cima do ombro: — Rony! Encontrei ele!

A voz aborrecida de Rony ressoou a distância de vários andares abaixo.

— Ótimo! Então diga por mim que ele é um bobalhão!

— Harry, não desapareça assim, por favor, ficamos aterrorizados! Afinal, por que veio aqui em cima? — Ela percorreu com o olhar o quarto saqueado. — Que andou fazendo?

— Olhe o que acabei de encontrar.

E estendeu-lhe a carta de sua mãe. Hermione apanhou-a e leu-a observada pelo garoto. Quando chegou ao fim da folha, olhou para ele.

— Ah, Harry...

— E tem mais isso.

Entregou a foto rasgada, e Hermione sorriu para o bebê que entrava e saía montado na vassoura de brinquedo.

— Estive procurando o resto da carta — disse Harry —, mas não está aqui.

A amiga correu o olhar pelo quarto.

— Você fez essa bagunça toda, ou uma parte dela já estava feita quando você entrou?

— Alguém revistou o quarto antes de mim.

— Foi o que pensei. Todos os cômodos em que olhei a caminho daqui foram revirados. Que acha que estavam procurando?

— Informações sobre a Ordem, se foi o Snape.

— Mas seria de pensar que ele já tivesse tudo que precisava, quero dizer, ele fazia parte da Ordem, não é?

— Bem, então — disse Harry, ansioso para discutir sua teoria —, informações sobre Dumbledore? A segunda folha desta carta, por exemplo. Sabe essa Batilda que minha mãe menciona, sabe quem ela é?

— Quem?

— Batilda Bagshot, a autora de...

História da magia — completou Hermione, mostrando interesse. -Então os seus pais a conheciam? Ela foi uma incrível historiadora da magia.

— E ainda está viva, e mora em Godric’s Hollow, a tia Muriel, do Rony, esteve falando sobre ela no casamento. Ela conheceu a família de Dumbledore também. Seria bem interessante conversar com ela, não?

Para o gosto de Harry, houve um excesso de compreensão no sorriso de Hermione. Ele tirou a carta e a foto de suas mãos e guardou-as na bolsa pendurada ao pescoço, para não precisar olhar para a amiga e se trair.

— Eu entendo por que você gostaria de conversar com ela sobre sua mãe e seu pai, e Dumbledore também — disse Hermione. — Mas isto não iria realmente nos ajudar a achar as Horcruxes, não é? -Harry não respondeu e ela prosseguiu: — Harry, eu sei que você realmente quer ir a Godric’s Hollow, mas estou com medo... estou com medo da facilidade com que aqueles Comensais da Morte nos encontraram ontem. Mais que nunca, isso me faz sentir que devemos evitar o lugar onde seus pais estão enterrados. Tenho certeza que estarão esperando a sua visita.

— Não é só isso — respondeu Harry, ainda evitando olhar para a amiga. — Muriel disse umas coisas sobre Dumbledore no casamento. E quero saber a verdade...

Ele contou, então, a Hermione tudo que Muriel dissera. Quando terminou, a garota comentou:

— É claro que entendo por que isso o perturbou, Harry...

— Não estou perturbado — mentiu. — Eu só gostaria de saber se é ou não verdade ou...

— Harry, você acha mesmo que vai chegar à verdade ouvindo fofocas maliciosas de uma velhota como a Muriel, ou de Rita Skeeter? Como pode acreditar nelas? Você conheceu Dumbledore!

— Pensei que conhecia — murmurou o garoto.

— Mas você sabe o quanto havia de verdade em tudo que a Rita escreveu sobre você! Doge está certo, como pode deixar essa gente macular as lembranças que você tem de Dumbledore?

Harry desviou o olhar, tentando não revelar o rancor que sentia. Ali estava outra vez o impasse: escolher no que acreditar. Ele queria a verdade. Por que estavam todos tão decididos a convencê-lo de que não devia procurá-la?

— Vamos descer para a cozinha? — sugeriu Hermione após uma breve pausa. — Arranjar alguma coisa para comer?

Ele concordou, mas de má vontade, e seguiu-a ao corredor onde passaram em frente a uma segunda porta. Harry notou que havia fundos arranhões na tinta sob um pequeno aviso que tinha passado despercebido no escuro. Parou, então, no alto da escada para lê-lo. Era um aviso breve e pomposo, caprichosamente escrito à mão, o tipo de coisa que Percy Weasley poderia ter colado na porta do próprio quarto.

Não entre

sem a expressa permissão de

Régulo Arturo Black

A agitação foi se infiltrando em Harry, mas ele não teve imediatamente certeza do porquê. Tornou a ler o aviso. Hermione já estava um lance de escada abaixo.

— Hermione — disse ele, surpreso que sua voz estivesse tão calma. — Volta aqui em cima.

— Que foi?

— R.A.B. Acho que o encontrei.

Ouviu-se uma exclamação, e Hermione correu escada acima.

— Na carta de sua mãe? Mas não vi...

Harry balançou a cabeça, apontando para o aviso na porta de Regulo. A garota leu-o e apertou o braço de Harry com tanta força que ele fez uma careta de dor.

— O irmão de Sirius? — sussurrou.

— Ele foi um Comensal da Morte, Sirius me contou a história dele, Regulo se alistou quando ainda era muito moço e depois se acovardou e tentou sair; então, eles o mataram.

— Isso faz sentido! — exclamou Hermione. — Se ele foi um Comensal da Morte, teve acesso a Voldemort, e quando se desencantou deve ter querido derrubar Voldemort!

Ela largou Harry, debruçou-se no corrimão da escada e berrou:

— Rony! RONY! Vem aqui em cima, depressa!

O garoto apareceu, ofegante, um minuto depois, empunhando a varinha.

— Que aconteceu? Se é outro ataque maciço de aranhas, eu quero o meu café da manhã antes de...

Ele franziu a testa ao ver o aviso na porta do quarto, para o qual Hermione apontava silenciosamente.

— Quê? Esse era o irmão de Sirius, não era? Régulo Arturo... Régulo... R. A. B! O medalhão... você acha... ?

— Vamos descobrir — disse Harry. Ele empurrou a porta; estava trancada à chave. Hermione apontou a varinha para a maçaneta e disse: — Alorromora! — Ouviu-se um clique e a porta abriu.

Eles cruzaram o portal juntos, olhando para os lados. O quarto de Régulo era ligeiramente menor que o de Sirius, embora transmitisse a mesma sensação de antigo esplendor. Enquanto o irmão tinha procurado anunciar sua dessemelhança com o resto da família, Régulo tinha se esforçado para ressaltar o oposto. As cores da Sonserina, verde e prata estavam por toda parte, guarnecendo a cama, as paredes e janelas. O brasão da família Black fora laboriosamente pintado por cima da cama com a divisa Toujours Pur. Abaixo uma coleção de recortes de jornal, presos uns aos outros formando uma colagem irregular. Hermione atravessou o quarto para examiná-los.

— São todos sobre Voldemort — disse ela. — Pelo visto, Régulo já era fã dele anos antes de se reunir aos Comensais da Morte...

Uma nuvenzinha de pó se ergueu da colcha da cama quando Hermione se sentou para ler os recortes. Nesse intervalo, Harry tinha reparado em uma foto: um time de quadribol de Hogwarts sorria e acenava do espaço emoldurado. Ele se aproximou mais um pouco e viu as serpentes nos brasões no peito dos garotos: Sonserinos. Régulo era instantaneamente reconhecível como o garoto que estava sentado no centro da primeira fileira: tinha os mesmos cabelos escuros e o ar ligeiramente arrogante do irmão, embora fosse menor, mais franzino e menos bonito do que Sirius.

— Ele jogava na posição de apanhador — comentou Harry.

— Quê?! — exclamou Hermione distraída; ela continuava absorta nos recortes sobre Voldemort.

— Ele está sentado no centro da primeira fila, é onde o apanhador... ah, esquece — falou Harry ao perceber que ninguém lhe prestava atenção; Rony estava de quatro procurando alguma coisa embaixo do armário. Harry olhou ao seu redor, procurando esconderijos prováveis, e se aproximou da escrivaninha. Mais uma vez, alguém já a revistara. O conteúdo das gavetas tinha sido revirado recentemente, a poeira deslocada, mas não havia nada de valor ali: penas velhas, livros de escola antiquados que exibiam os vestígios dos maus-tratos, um tinteiro recentemente quebrado, seu resíduo pegajoso derramado sobre os objetos na gaveta.