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“Naturalmente muitas pessoas deduziram o que aconteceu: nos últimos dias houve uma acentuada mudança na diretriz ministerial, e muitos estão murmurando que Voldemort deve estar por trás disso. Contudo, aí reside o problema: murmuram apenas. Não ousam trocar confidências, não sabem em quem confiar; têm medo de se manifestar, porque suas suspeitas podem se confirmar e suas famílias serem atingidas. Sim, Voldemort está fazendo um jogo inteligente. Expor-se poderia ter provocado uma rebelião aberta: nos bastidores, criou confusão, incerteza e medo.”

— E essa mudança acentuada na diretriz ministerial — indagou Harry — inclui alertar o mundo bruxo contra mim e não contra Voldemort?

— Com certeza, e é um golpe de mestre. Agora que Dumbledore morreu, você, O-Menino-Que-Sobreviveu, certamente seria o símbolo e o núcleo de qualquer resistência contra Voldemort. Mas, ao sugerir que você participou na morte do velho herói, ele não só pôs a sua cabeça a prêmio como também semeou a dúvida e o medo entre aqueles que o teriam defendido.

“Nesse meio-tempo, o Ministério saiu em campo contra os nascidos trouxas.”

Lupin apontou para o Profeta Diário.

— Vejam a página dois.

Hermione virou as páginas do jornal com a mesma expressão de nojo com que segurara os Segredos das artes mais tenebrosas. E leu em voz alta:

— Registro para os Nascidos Trouxas

“O Ministério da Magia está procedendo a um censo dos chamados ‘nascidos trouxas’ para melhor compreender como se tornaram detentores de segredos da magia.

“Pesquisas recentes feitas pelo Departamento de Mistérios revelam que a magia só pode ser transmitida de uma pessoa a outra quando os bruxos procriam. Portanto, nos casos em que não há comprovação de ancestralidade bruxa, os chamados nascidos trouxas provavelmente obtiveram seus poderes por meio do roubo ou uso de força.

“O Ministério tomou a decisão de extirpar esses usurpadores da magia e, com essa finalidade, enviou um convite para que se apresentem a uma entrevista com a recém-nomeada Comissão de Registro dos Nascidos Trouxas.”

— As pessoas não vão deixar isso acontecer — disse Rony.

— Já está acontecendo — informou Lupin. — Os nascidos trouxas estão sendo arrebanhados, por assim dizer.

— Mas como supõem que eles possam ter “roubado” a magia? Isso é pura debilidade, se fosse possível roubar magia não haveria bruxos abortados, não acham?

— Concordo — disse Lupin. — Contudo, a não ser que você possa provar que tem, no mínimo, um parente próximo que seja bruxo, concluirão que obteve o seu poder ilegalmente e será passível de punição.

Rony olhou para Hermione e disse:

— E se os sangues-puros e os mestiços jurarem que um nascido trouxa faz parte da família? Eu direi a todo mundo que Hermione é minha prima...

Hermione pôs a mão sobre a mão de Rony e apertou-a.

— Obrigada Rony, mas eu não poderia deixar...

— Você não terá escolha — disse Rony impetuosamente, segurando a mão dela. — Eu a ensino a reconhecer a minha árvore genealógica e você poderá responder às perguntas deles.

Hermione deu uma risada gostosa.

— Rony, como estamos fugindo com Harry, a pessoa mais procurada deste país, acho que isso não tem importância. Se eu fosse voltar para a escola seria diferente. E quais são os planos de Voldemort para Hogwarts? — perguntou ela a Lupin.

— A freqüência agora é obrigatória para todas as crianças bruxas. Anunciaram ontem. É uma mudança, porque antes nunca foi obrigatória. Naturalmente quase todos os bruxos da Grã-Bretanha foram educados em Hogwarts, mas os pais tinham o direito de ensinar-lhes em casa ou mandá-los estudar no exterior, se preferissem. Com isso, Voldemort terá toda a população bruxa sob vigilância desde muito jovem. E é outra maneira de extirpar os nascidos trouxas, porque os alunos devem receber um registro sangüíneo, indicando que provaram ao Ministério sua ascendência bruxa, antes de poderem se matricular.

Harry sentiu repugnância e raiva: naquele momento crianças de onze anos excitadas estariam examinando pilhas de livros de feitiços recém-comprados, sem saber que jamais veriam Hogwarts ou talvez nem as próprias famílias.

— É... é... — murmurou, tentando encontrar palavras que fizessem justiça aos pensamentos horripilantes que lhe passavam pela cabeça, mas Lupin disse-lhe brandamente:

— Eu sei.

O ex-professor hesitou.

— Eu compreenderei se você não puder confirmar, Harry, mas a Ordem está desconfiada de que Dumbledore lhe confiou uma missão.

— Confiou, e Rony e Hermione a conhecem e vão me acompanhar.

— Você pode me contar qual é a missão?

Harry encarou aquele rosto prematuramente enrugado, com a sua moldura de cabelos bastos, mas grisalhos, e desejou que pudesse lhe dar uma resposta diferente.

— Não posso, Remo, lamento. Se Dumbledore não lhe revelou, acho que também não posso.

— Supus que essa seria a sua resposta — disse Lupin, desapontado. — Ainda assim, eu poderia lhe ser útil. Você me conhece e sabe o que sou capaz de fazer. Eu poderia acompanhá-lo para lhe fornecer proteção. Não haveria necessidade de me dizer exatamente o que pretendem.

Harry hesitou. Era uma oferta tentadora, embora ele não conseguisse imaginar como iriam poder guardar segredo se Lupin estivesse com eles todo o tempo.

Hermione, no entanto, pareceu intrigada.

— E Tonks? — perguntou.

— Que tem ela?

— Bem — tornou Hermione, enrugando a testa —, vocês são casados! O que ela está achando dessa sua viagem conosco?

— Tonks estará perfeitamente segura. Na casa dos pais dela.

O tom de Lupin foi estranho; quase frio. Havia algo esquisito na idéia de Tonks ficar escondida na casa dos pais; afinal, ela era membro da Ordem e, pelo que Harry conhecia, a auror provavelmente iria querer participar da ação.

— Remo — perguntou Hermione hesitante —, está tudo bem... entende... entre você e...

— Tudo está ótimo, obrigado — respondeu ele, enfaticamente. Hermione corou.

Houve uma segunda pausa, inoportuna e constrangedora, então Lupin acrescentou com ar de quem era forçado a admitir algo desagradáveclass="underline"

— Tonks vai ter um bebê.

— Ah, que maravilhoso! — guinchou Hermione.

— Excelente! — disse Rony, entusiasmado.

— Parabéns — acrescentou Harry.

Lupin lançou aos garotos um sorriso forçado, mais parecia uma careta, antes de perguntar:

— Então... aceitam a minha oferta? Os três poderão ser quatro? Não acredito que Dumbledore desaprovasse, afinal foi ele que me nomeou professor de Defesa contra as Artes das Trevas. E, confesso, creio que estamos enfrentando uma magia que muitos de nós jamais encontraram ou imaginaram existir.

Rony e Hermione olharam para Harry.

— Só... só para deixar bem claro — disse o garoto. — Você quer deixar Tonks na casa dos pais e nos acompanhar?

— Tonks estará perfeitamente segura, eles cuidarão dela — respondeu Lupin, com uma firmeza que beirava a indiferença. — Harry, tenho certeza que Tiago iria querer que eu estivesse ao seu lado.

— Bem — disse Harry, lentamente —, eu não. Tenho certeza que o meu pai iria querer saber por que você não vai ficar ao lado do seu próprio filho.

A cor sumiu do rosto de Lupin. A temperatura da cozinha parecia ter caído dez graus. Rony correu o olhar pelo aposento como se o tivessem mandado memorizar cada detalhe, enquanto os olhos de Hermione iam e vinham de Harry para Lupin.

— Você não entende — disse Lupin, finalmente.

— Explique, então. Lupin engoliu em seco.

— Cometi um grave erro me casando com Tonks. Agi contrariando o meu bom senso, e tenho me arrependido muito desde então.

— Entendo, então você vai simplesmente abandonar a moça e o filho e fugir conosco?

Lupin se pôs repentinamente de pé: a cadeira tombou para trás e ele encarou os garotos com tanta ferocidade que Harry viu, pela primeira vez na vida, a sombra do lobo em seu rosto humano.