-Se quiseres. Mas primeiro um rapaz.
No dia em que Melina soube que estava grávida Constantin ficou em extâse.
-Ele vai tomar conta do meu império - declarou ele, feliz.
No terceiro mês, Melina abortou. Constantin Demiris estava fora do país quando isto aconteceu. Quando regressou e soube da notícia, reagiu como um louco.
- 0 que é que tu fizeste?- gritou ele. -Como é que pôde acontecer?
- Costa, eu... -Tufoste descuidada! - Não, juro...
Ele respirou fundo.
-Pronto. 0 que está feito está feito. Teremos outro filho.
-Não.., não posso. -Ela não conseguia encará-lo de frente. 0 que é que estás a dizer?
- Sofri uma intervenção cirúrgica. Não posso ter mais filhos. Ele ficou ali, gelado, depois virou-se e saiu a largos passos sem uma palavra.
Apartir desse momento, avida de Melina tornou-se num inferno. Constantin Demiris agia como se a mulher tivesse matado o filho deliberadamente. Ignorava-a, e começou a procurar outras mulheres. Melina podia ter tolerado isso, mas o que tornava a humilhação tão dolorosa era o prazer que ele tinha em alardear publicamente as suas ligações. Tinha abertamente casos com estrelas de cinema, cantoras de ópera e mulheres de alguns dos amigos. Levava as amantes para Psara, a ilha privada que possuía perto de Chios, em cruzeiros no seu iate e a cerimónias públicas. Aimprensa narrava com júbilo as aventuras românticas de Constantin Demiris, Encontravam-se num jantar em casa de um proeminente banqueiro.
-Você e a Melina têm de vir-dissera o banqueiro. -Tenho um novo chefe oriental que faz a melhor comida oriental do mundo.
A lista de convidados era prestigiosa. À mesa do jantar estava um fascinante agrupamento de artistas, políticos e industriais. A comida era de facto maravilhosa. 0 chefe havia preparado uma sopa de barbatana de tubarão, rolos de camaão, carne de porco mu shu, pato de Pequim, costeletas de porco magras, macarrão de Cantão e uma dúzia de outros pratos. Melina estava sentada perto do anfitrião a uma das cabeceiras da mesa, o marido perto da anfïtriã na outra extremidade. À direita de Demiris, sentava-se uma jovem e bela estrela de cinema. Demiris tinha os olhos nela, ignorando todos os outros que estavam à mesa. Melina conseguia ouvir fragmentos da conversa dele.
-Quando acabar o filme, tem de vir dar um passeio no meu iate. Terumas belas férias. Faremos um cruzeiro pela costa da Dalmácia... Melina tentou não escutar, mas era impossível. Demiris não fazia nenhum esforço para baixar a voz,
-Nunca esteve em Psara, pois não? É uma ilhota adorável, completamente isolada. Vai gostar.-Melina sentiu vontade de se enfiar debaixo da mesa. Mas o pior estava ainda para vir.
Tinham acabado de comer o prato das costeletas, e os mordomos traziam taças de prata para lavar os dedos. Ao ser colocada uma taça diante da jovem actriz, Demiris disse: -Você não precisa disso. -E, com um sorriso largo, ergueu as mãos dela com as suas e começou a lamber lentamente o molho que corria nos dedos dela, um a um. Os outros convidados desviaram o olhar. Melina pôs-se de pé e virou-se para a anfitriã.
-Peço desculpa, mas estou ... estou com dores de cabeça.
Os convidados seguiram-na com o olhar enquanto ela saía da sala a toda a pressa. Demiris não foi a casa nessa noite, nem na seguinte.
Quando Spyros soube do incidente, ficou lívido.
-Diz-me só que aprovas. -0 irmão de Melina estava enfurecido -, e eu mato esse filho da puta.
-Ele não consegue evitar-defendeu-o Melina. -Ele é assim mesmo.
- Assim mesmo? Ele é um animal! Ele deve ser morto. -Por que não te divorcias dele?
Era uma pergunta que Melina se perguntara a si própria muitas vezes na quietude das noites longas e solitárias que passava sozinha. E chegava sempre à mesma resposta: «Eu amo-o».
Às cinco e meia da manhã, Catherine foi acordada por uma criada apologética.
-Bom dia, menina...
Catherine abriu os olhos e olhou em volta confusa. Em vez da minúscula cela do convento, estava num belo quarto em... Amemória veio em catadupa. «A viagem para Atenas...Você é Catherine Douglas... Eles foram executados pelo governo...»
-Menina... - Sim?
-0 senhor Demiris perguntou se quer tomar o pequeno-almoço com ele no terraço.
Catherine olhou para ela sonolentamente. Estivera acordada até às quatro horas, o seu pensamento num turbilhão.
-Obrigada. Diga ao senhor Demiris que eu já vou.
Vinte minutas depois um mordomo acompanhava Catherine até um terraço enorme que estava defronte do mar. Havia um muro de pedra baixo que dava para os jardins cinco metros abaixo. Constantin Demiris estava sentado a uma mesa, à espera. Estudava Catherine enquanto ela caminhava na sua direcção. Havia nela uma inocência excitante. Ele ia agarrá-la, possuí-la, torná-la sua. Imaginou-a nua na cama dele, ajudando-o a castigar Noelle e Larry, de novo. Demiris ergueu-se.
-Bom dia. Desculpe-me acordá-la tão cedo, mas tenho de partir para o meu escritório dentro de alguns minutos, e queria ter a oportunidade para uma pequena conversa consigo primeiro.
- Sim, claro -disse Catherine.
Ela sentou-se à enorme mesa de mármore diante dele. 0 sol estava a erguer-se, banhando o mar com mil fulgores.
-0 que é que deseja para o seu pequeno-almoço? Ela abanou a cabeça.
- Estou sem fome.
- Um pouco de café talvez? - Obrigada.
0 mordomo estava a servir o café quente numa chávena de porcelana Belleek.
- Bem, Catherine - começou Demiris. - Pensou na nossa conversa?
Catherine não pensara noutra coisa toda a noite. Não havia nada que a prendesse em Atenas, e ela não tinha outro lugar para onde ir. «Não voltarei para o convento», ela jurou. 0 convite para trabalhar para Constantin Demiris em Londres parecia tentador. «De facto», Catherine admitiu a si própria, «parece excitante. Pode ser o começo de uma nova vida.»
-Sim-disse Catherine-, pensei. - E então?
-Acho ... acho que gostava de tentar. Constantin Demiris conseguiu disfarçar o alívio.
- Fico encantado. Já alguma vez esteve em Londres?
-Não. Isso ... acho que não. -«Porque é que eu não sei ao certo?» Ainda havia tantas lacunas na sua memória. «Quantas surpresas ainda vou ter?»
-É uma das poucas cidades civilizadas que ainda há no mundo. Tenho a certeza de que irá gostar muito.
Catherine hesitou.
- Senhor Demiris, porque é que se está a maçar tanto comigo? -Digamos apenas que sinto um sentido de responsabilidade. - Fezuma pausa. -Fui eu que apresentei o seu marido a Noelle Page. -Ah-Catherine disse lentamente. «Noelle Page.» 0 nome causou-lhe um pequeno arrepio. Os dois haviam morrido um pelo outro. «0 Larry deve tê-la amado tanto»
Catherine esforçou-se para fazer uma pergunta que a atormentara toda a noite.
-Como... como é que eles foram executados? Houve uma pequena pausa.
- Eles foram mortos por um esquadrão de fuzilamento.
-Oh. - Pôde sentir as balas rasgarem a carne de Larry, dilacerando o corpo do homem que ela amara tanto. Arrependeu-se de ter perguntado.
-Deixe-me dar-lhe um conselho. Não pense no passado. Só pode magoá-la. Tem de jogar tudo para trás das costas.
Catherine disse lentamente. - Tem razão. Vou tentar.
- Óptimo. Por acaso tenho um avião que parte para Londres hoje de manhã, Catherine. É capaz de ficar pronta para partir daqui a pouco?
Catherine pensou em todas as viagens que fizera com Larry, os preparativos excitados, o fazer as malas, a antecipação.
Desta vez, não haveria com quem ir, haveria pouco para emalar e nenhuns preparativos.
- Sim. Consigo ficar pronta.
-Óptimo. A propósito-disse Demiris casualmente-,agora que recuperou a memória, talvez haja alguém que gostaria de ver, alguém do seu passado a quem quisesse informar que se encontra bem.
0 nome que nesse instante lhe saltou para amente foi o de William Fraser. Eraaúnicapessoanomundoquerestavado seupassado. Mas ela sabia que não estava pronta para enfrentá-lo agora. ~<Quando eu estiver estabilizada», pensou Catherine. «Quando começar a trabalhar outra vez, entrarei em contacto com ele.» Constantin Demiris observava-a, aguardando a resposta dela. -Não - disse Catherine finalmente. - Não há ninguém.