-Melina, sabes que todos os dias o mundo consome todo o combustível fóssil que levou anos a criar?
-Não, Spyros.
-Vai haver uma grande procura de petróleo no futuro, e não vai haver petroleiros em número suficiente para transportá-lo.
-Tu vais construir alguns?
Ele fez um sinal afirmativo com a cabeça.
-Mas não apenas os petroleiros vulgares. Terão o dobro do tamanho dos actuais. -A sua voz estava cheia de entusiasmo. -Passei meses a analisar os números. Ouve isto. Um galão de petróleo de Grude transportado do golfo Pérsico para um porto da costa oriental dos Estados Unidos custa sete cêntimos. Mas num grande petroleiro 0 custo baixaria para três cêntimos o galão. Tens alguma ideia do que isso pode significar?
-Spyros, onde é que tu vais arranjar dinheiro para construiruma frota como essa?
Ele sorriu.
-Mas essa é a melhor parte do meu plano. Não me vai custar um tostão.
-0 quê?
Ele inclinou-se para a frente.
-Vou à América no mês que vem falar com os chefes das grandes companhias petrolíferas. Com estes petroleiros, posso transportar o petróleo deles por metade do preço.
-Mas... tu não tens nenhum petroleiro desses. Ele deu um sorriso largo.
-Mas se eu conseguir contratos de aluguer a longo prazo com as companhias de petróleo, os bancos emprestam-me o dinheiro de que preciso para os construir. 0 que é que achas?
-Acho que tu és um génio. É um plano brilhante.
Melina estava tão excitada com a ideia do irmão que se referiu a ela quando falava com Demiris nessa noite ao jantar.
Quando a acabara de explicar, Melina disse: -Não é uma ideia maravilhosa?
Constantin Demiris manteve-se em silêncio por um momento.
- O teu irmão é um sonhador, Isso nunca resultaria. Melina olhou para ele surpresa.
-Porque não, Costa?
-Porque é um esquema leviano. Em primeiro lugar, não vai haver essa procura tão grande de petróleo, de forma que esses míticos petroleiros vão circular vazios. Em segundo lugar, as companhias petrolíferas não vão entregar o seu precioso petróleo a uma frota fantasma que nem sequer existe. E em terceiro, esses banqueiros a quem ele se dirigir vão ridicularizá-lo dos escritórios para fora.
0 rosto de Melina enublou-se de desapontamento.
- 0 Spyros estava tão entusiástico. Importavas-te de discutir o assunto com ele?
Demiris sacudiu a cabeça.
- Deixam sonhar, Melina. Seria melhor que ele nem soubesse desta nossa conversa.
-Está bem, Costa. Como queiras.
Logo pela manhã do dia seguinte, Constantin Demiris estava a caminho dos Estados Unidos para tratar de grandes petroleiros. Ele estava consciente de que as reservas de petróleo mundiais fora dos Estados Unidos e dos territórios do bloco soviético estavam controladas pelas sete congéneres: a Standard Oil Company de Nova Jérsia, a Standard Oil Company da Califórnia, a Gulf0il, a Texas Company, a Socony Vacuum, a Royal Dutch-Shell e a Anglo-Iranian. Ele sabia que se pudesse conseguir convencer uma delas as outras certamente iriam atrás. A primeira visita de Constantin Demiris foi aos escritórios executivos da Standard Oil de Nova Jérsia. Tinha uma reunião com Owen Curtis, quarto vice-presidente.
- 0 que posso fazer por si, senhor Demiris?
- Tenho uma ideia que acho poder vir a ser de grande benefício financeiro para a sua companhia.
-Sim, você disse isso ao telefone. -Curtis olhou de relance para o relógio de pulso. -Tenho uma reunião dentro de alguns minutos. Se pudesse ser breve...
- Serei muito breve. Os senhores pagam sete cêntimos para transportar um galão de petróleo de Grude do golfo Pérsico até à costa oriental dos Estados Unidos.
-Isso é verdade.
-0 que diria se eu lhe dissesse que lhe posso garantir o transporte do vosso petróleo por três cêntimos o galão?
Curtis sorriu protectoramente.
-E como é que conseguiria esse milagre? Demiris disse calmamente.
-Construindo uma frota de petroleiros que terão o dobro da capacidade de transporte dos actuais. Posso transportar todo o seu petróleo tão depressa quanto o bombeia do solo.
Curtis estudava-o, o seu rosto pensativo.
- Onde é que ia arranjar uma frota de grandes petroleiros? -Vou construí-los.
- Lamento. Nós não estaríamos interessados em investir em.., Demiris interrompeu.
-Não lhes custará um tostão. Tudo o que lhes peço é um contrato de longo prazo para transportar o vosso petróleo por metade do preço que pagam agora, Arranjarei o meu financiamento junto dos bancos.
Houve um longo e significativo silêncio. Owen Curtis aclarou a voz.
- Acho que devo levé-lo lá acima para conhecer o nosso presidente.
Foi o começo. As outras companhias de petróleo ficaram exactamente tão ansiosas para fazer contratos com os novos petroleiros de Constantin Demiris. Quando Spyros Lambrou soube o que estava a acontecer, era demasiado tarde. Voou para os Estados Unidos e conseguiu fazer alguns contratos com algumas companhias independentes, mas Demiris tinha extraído a melhor parte do mercado.
- Ele é teu marido - Lambrou esbracejava -, mas eu juro-te, Melina, que herde fazê-lo pagar pelo que fez.
Melina estava infelicíssima com o sucedido. Sentiu que traíra o irmão. Mas quando confrontou o marido ele encolheu os ombros.
-Eu não fui ter com eles, Melina. Eles é que vieram ter comigo. Como é que eu os podia recusar?
Mas as considerações comerciais não eram nada ao pé do que Lambrou sentia pela forma como Demies tratava Melina. Ele podia ter ignorado o facto de que Constantin Demiris era um namoradeiro infame-afinal de contas, umhomem tinha de ter o seu prazer. Mas o facto de Demies ser tão espalhafatoso era um insulto não só para Melina, mas para toda a família Lambrou. 0 caso de Demirs com a actriz Noelle Page fora o caso mais insigne. Provocara títulos em jornais de todo o mundo. «Um dia», pensou Spyros Lambrou. «Um dia... Nikos Ventos, o assistente de Lambrou, entrou no gabinete. Veritos trabalhava com Spyros Lambrouhavia quinze anos. Era umhomem competente mas sem imaginação, sem futuro, cinzento e sem rosto. A rivalidade entre os dois cunhados dava a Ventos aquilo que ele considerava uma oportunidade dourada. Ele apostava na vitória de ConstantinDemirs, e de vez em quando passava-lhe informações confidenciais, esperando uma recompensa apropriada. Ventos aproximou-se de Lambrou.
- Desculpe. Está lá fora um senhor Anthony Rizzoli que quer vê-lo.
Lambrou suspirou.
-Vamos lá a isso -disse Lambrou. - Mandem entrar. Anthony Rizzoli aparentava quarenta e tal anos. Tinha cabelo preto, um nariz fino e aquilino e olhos castanhos fundos. Movimentava-se com a elegância de um pugilista treinado. Trazia um fato bege, caro e feito por medida, uma camisa de seda amarela e sapatos de calfe. Era de falas mansas e polido, e no entanto havia nele algo de ameaçador.
-Prazer em conhecê-lo, senhor Lambrou. -Sente-se, senhor Rizzoli.
Rizzoli sentou-se.