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- Em que lhe posso ser útil?

-Bem, como expliquei aqui ao senhor Ventos, gostaria de fretar um dos seus cargueiros. Sabe, eu tenho uma fábrica em Marselha e quero enviar uma maquinara pesada para os Estados Unidos. Se chegarmos a um acordo, posso vir a fazer muitos negócios consigo no futuro. Spyros Lambrou recostou-se na cadeira e estudou o homem que se sentava diante de si. «Repugante

-É s6 isso que tenciona enviar, senhor Rizzoli? Tony Rizzoli franziu o sobrolho.

-0 quê? Não estou a perceber.

-Acho que está-disse Lambrou: -Os meus navios não estão à sua disposição.

- Por que não? De que é que o senhor está a falar?

- Drogas, senhor Rizzoli. 0 senhor é um traficante de drogas. Os olhos de Rizzoli contraíram-se.

- 0 senhor está louco! Anda a ouvir muitos boatos.

Mas eram mais do que boatos. Spyros Lambrou informara-se cuidadosamente sobre o homem. TonyRizzoli era um dos principais traficantes de drogas da Europa. Ele era da Mafia, parte da organização, e dizia-se que os meios de transporte de Rizzolihaviam acabado. Era por isso que estava tão ansioso para fazer um acordo.

-Receio que tenha de ir bater a outra porta.

Tony Rizzoli deixou-se ficar sentado a olhar fixamente para ele, o olhar frio. Por fim abanou a cabeça.

-Muito bem, -Tirou um cartão comercial do bolso e atirou para cima da secretária. -Se mudar de ideias, eis onde me pode encontrar. -Pôs-se de pé e pouco depois partiu.

Spyros Lambrou apanhou o cartão. Dizia «Anthony Rizzoli Import-Export», Havia uma morada de um hotel de Atenas e um número de telefone no fundo do cartão. Nikos Veritos permanecera ali, de olhos arregalados, escutando a conversa. Quando Tony Rizzoli saiu a porta, disse:

-Ele é mesmo...?

-Sim, 0 senhor Rizzoli negoceia com heroína. Se permitíssemos que ele usasse um dos nossos navios, o governo podia cancelar a actividade de toda a nossa frota.

TonyRizzoli saiu do escritório de Lambrou numa fúria. «0 cabrão do grego a tratar-me como se eu fosse um labrego da rua! E como é que ele soubera das drogas? 0 envio era invulgarmente grande, com um valor de rua de pelo menos dez milhões de dólares. Mas o problemaestava em fazê-lo chegar a Nova Iorque. Os malditos agentes do combate à droga estão a invadir Atenas. Tenho que fazer um telefonema para a Itália e procurar ganhar tempo. Tony Rizzoli nunca perdera um envio e não tencionava perder este. Achava-se um vencedor nato. Crescera na Cozinha do Inferno em Nova Iorque. Geograficamente estava localizada no West Side de Manhattan, entre a Oitava Avenida e o Rio Hudson, e as suas fronteiras a norte e a sul iam das ruas Vinte e Três e Cinquenta e Nove. Mas psicológica e emocionalmente a Cozinha do Inferno era uma cidade dentro da cidade, um conclave armado. As ruas eram governadas por grupos. Havia os Gophers, o Parlor Mob, os Gorillas e o Rhodes Gang. Os contratos para matar eram vendidos a retalho por cem dólares, com acção violenta por um pouco menos. A primeira lembrança de Tony Rizzoli foi de ser atirado ao chão e terem-lhe roubado o dinheiro do leite. Tinha sete anos. Os rapazes mais velhos e maiores eram uma ameaça constante. 0 percurso para a escola era terra de ninguém, e a própria escola era um campo de batalha. Quando tinha quinze anos, Rizzoli desenvolvera um corpo forte e uma considerável aptidão como lutador. Adorava lutar, e porque era bom nisso o facto dava-lhe um sentimento de superioridade. Ele e os amigos organizavam desafios de boxe no Ginásio de Stillman. De tempos a tempos, apareciam uns membros das quadrilhas de criminosos para manter debaixo de olho os lutadores que possuíam. Frank Costello apareciaumaou duas vezes por mês, acompanhado de Joe Adonis e Lucky Luciano. Divertiam-se com os desafios de boxe que os miúdos organizavam, e em jeito de diversão começaram a fazer apostar nos combates. Tony Rizzoli vencia sempre, e logo se tornou num favorito dos chefes das quadrilhas. Um dia, enquanto Rizzoli mudava de roupa no vestiário, o jovem ouviu por acaso uma conversa entre Frank Costello e Lucky Luciano, -0 puto é uma mina de ouro-dizia Luciano,-Ganhei cinco mil com ele a semana passada.

-Vais apostar no combate dele com o Lou Domenic? - Claro. Vou apostar dez notas grandes.

- Que hipóteses tens para apostar?

-Dez para um. Mas qual é o problema? 0 Rizzoli é um vencedor à partida.

Tony Rizzoli não estava certo do significado da conversa. Foi ter com o irmão mais velho, Gino, e contou-lhe.

-Puxa!-exclamou o irmão. -Esses tipos estão a apostar muita massa em ti.

- Mas porquê? Eu não sou profissional. Gino pensou durante um momento.

-Tu nunca perdeste nenhum combate, pois não, Tony?

-Não.

- 0 que provavelmente aconteceu é que eles fizeram umas apostazitas de brincadeira, e depois quando viram o que tu conseguias fazer começaram a apostar para valer.

0 rapaz mais novo encolheu os ombros. -Isso para mim não significa nada. Gino tomou-lhe o braço e disse com empenho.

-Podia significar muito. Para nós dois. Presta atenção, criança...

0 combate com Lou Domenic realizou-se no Ginásio de Stillman numa tarde de sexta-feira, e todos os rapazes estavam lá -Frank Costello, JoeAdonis, AlbertAnastasi, LuckyLuciano e MeyerLansky. Gostaram de ver os rapazes combater, mas do que gostaram ainda mais foi o facto de terem achado uma maneira de ganhar dinheiro à custa dos miúdos. Lou Domenic tinha dezassete anos, era um ano mais velho que Tony e pesava mais dois quilos. Mas não era parceiro para enfrentar a aptidão para o boxe e o instinto assassino que Rizzoli possuía.

0 combate teve cinco rounds.0 primeiro assalto foi facilmente ganho pelo jovem Tony. 0 segundo assalto também foi para ele. E o terceiro. Os chefes de quadrilha já faziam contas.

- 0 miúdo vai ser um campeão mundial - exultou Lucky Luciano. - Quanto é que apostaste nele?

-Dez mil-respondeuFrank Costello.-As melhores diferenças que consegui foi de quinze para um. 0 miúdo já tem fama.

E repentinamente, o inesperado aconteceu. A meio do quinto assalto, Lou Domenic pôs Tony Rizzoli fora de combate com um soco de baixo para cima. 0 juiz começou a contar... muito lentamente, olhando apreensivamente para o público de rostos petrificados,

-Põe-te de pé, meu sacaninha-gritou Joe Adonis. -Levanta-te e luta!

A contagem prosseguiu, e, mesmo a esse ritmo lento, chegou finalmente aos dez. Tony Rizzoli estava ainda no tapete, derrotada e frio. - Cabrão de merda. Um murro de sorte.

Os homens começaram a somar os prejuízos. Eram substanciais. Tony Rizzoli foi levado para um dos vestiários por Gino. Tony mantinha os olhos ligeiramente fechados, com receio de que pudessem descobrir que estava consciente e lhe fizessem algo de terrível. Só quando estava em segurança em casa é que começou a relaxar. -Conseguimos! -gritou o irmão excitadamente.-Sabes quanto dinheiro fizemos? Quase mil dólares.

-Não percebo, Eu...

-Eu pedi dinheiro emprestado aos usurários para apostar no Domenico e consegui diferenças de quinze para um. Estamos ricos. - Eles não vão aos arames? - perguntou Tony.

Gino sorriu. -Nunca saberão.

No dia seguinte quando Tony Rizzoli saiu da escola uma enorme limusina preta estava à espera na curva. Lucky Luciano estava no banco traseiro. Fez sinal ao rapaz para que viesse até ao carro.

- Entra.

0 coração de Tony começou a bater com força.

- Não posso, senhor Luciano, Estou atrasado para... -Entra.

Tony Rizzoli entrou na limusina. Lucky Luciano disse ao motorista:

- Dê uma volta ao quarteirão.

Graças a Deus que não o levavam para um passeio! Luciano virou-se para o rapaz,

-Tu simulaste um knock out.-disse ele categoricamente. Rizzoli corou.

-Não, senhor, eu...

-Não me venhas com tretas. Quanto é que tu ganhaste no combate?

-Nada, senhor Luciano. Eu...

-Vou perguntar-te mais uma vez. Quanto é que tu ganhaste por teres simulado knock out?

0 rapaz hesitou. -Mil dólares. Lucky Luciano riu-se.

-Isso é deitar água a pintas. Mas acho que para um.., que idade tens?