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-Não lhe incomodava receber o dinheiro do senhor Savalas semana após semana enquanto tinha um caso com a mulher dele?

- Não era apenas um caso.

Peter Demonides engodou a armadilha cuidadosamente. -Não era apenas um caso? Que pretende dizer com isso? Receio não estar a perceber.

-Quero dizer, eu e a Anastasia tínhamos intenção de casar. Houve um murmúrio de surpresa na sala de audiências. Os jurados olhavam fixamente para a ré.

- 0 casamento foi ideia sua ou da senhora Savalas ? - Bem, o desejo era de ambos.

- Quem o sugeriu?

-Acho que foi ela. -Ele olhou para o lugar onde Anastasia Savalas se sentava. Ela devolveu-lhe o olhar sem vacilar.

-Com franqueza, senhor Pappas, estou intrigado. Como é que o senhor esperava casar-se? A senhora Savalasjá tinha marido, não tinha? Tencionava esperar que ele morresse de velhice? Ou tivesse um acidente fatal de alguma espécie? Que tinha em mente ao certo?

As perguntas eram tão excitantes que a acusação e os três juízes olharam na direcção de Napoleon Chotas, aguardando que o mesmo vociferasse um protesto. Mas o advogado de defesa estava entretido afazerdesenhos numa folha de papel, sem prestar atenção. Anastasia Savalas começava também a ficar preocupada. Peter Demonides pressionou a sua vantagem.

- 0 senhor não respondeu à minha pergunta, senhor Pappas. Josef Pappas mexia-se desconfortavelmente na cadeira.

- Não sei ao certo.

A voz de Peter Demonides foi uma chicotada.

- Então deixe-me que lhe diga ao certo. A senhora Savalas planeava matar o marido para afastá-lo do caminho. Ela sabia que o marido ia excluí-la do testamento, e que ela ficaria sem nada. Ela...

-Protesto! -Não veio de Napoleon Chotas, mas do juiz-presidente. -0 senhor está a pedir que a testemunha especule.

Ele olhou para Napoleon Chotas, surpreendido com o silêncio do advogado. 0 velho homem permanecia sentado no banco, os olhos semicerrados.

-Peço desculpa, Meritíssimo, -Mas ele sabia que tinha dito 0 que queria. Peter Demonidesvirou-se para Chotas.-Atestemunha é sua.

Napoleon Chocas levantou-se.

- Obrigado, senhor Demonides. Não tenho perguntas.

Os três juízes viraram-se para se entreolharem, intrigados. Um deles falou:

-Senhor Chotas, está consciente de que esta é a sua única oportunidade para contra-interrogar a testemunha?

Napoleon Chotas pestanejou. -Sim, Meritíssimo.

-Em vista do depoimento que fez, não lhe deseja fazer quaisquer perguntas?

Napoleon Chotas acenou uma mão no ar e disse, vagamente: -Não, Meritíssimo.

0 juiz suspirou.

-Muito bem. A acusação pode chamar a próxima testemunha. A testemunha seguinte era Mihalis Haritonides, um homem corpulento de sessenta e tal anos:

Depois de Haritonides prestar juramento, o advogado de defesa perguntou:

- Queira informar o tribunal da sua ocupação. - Sim, senhor. Sou gerente de hotel. -Diga-nos o nome do hotel,

-Argos.

-E onde fica o hotel? - Em Corfu.

-Vou perguntar-lhe, senhor Haritonides, se alguém que se encontre nesta sala alguma vez se alojou no seu hotel.

Haritonides olhou em volta e disse: -Sim, senhor. Ele e ela.

-Que fique em acta que a testemunha está a apontar para Josef Pappas e Anastasia Savalas. -Voltou-se de novo para a testemunha. - Ficaram no seu hotel mais do que uma vez?

-Oh, sim, senhor. Estiveram lá meia dúzia de vezes, pelo menos. -E passavam as noites lá, juntos, no mesmo quarto? -Passavam, sim. Vinham geralmente passar o fim-de-semana. -Obrigado, senhorHaritonides.-OlhouparaNapoleonChotas. -A testemunha é sua.

-Não tenho perguntas.

0 juiz-presidente virou-se para os outros dois juízes, e entre si sussurraram por uns momentos.

0 juiz-presidente olhou para Napoleon Chotas.

-Não tem perguntas para esta testemunha, senhor Chotas ? -Não, Meritíssimo. Acredito no depoimento que fez. Um belo hotel. Eu próprio já lá me hospedei.

0 juiz-presidente olhou fixamente para Napoleon Chotas durante um longo momento. Depois virou-se para a acusação.

- 0 estado pode chamar a sua próxima testemunha.

- 0 estado gostava de chamar o doutor Vassilis Frangescos. Um homem alto de aspecto distinto levantou-se e caminhou para o banco das testemunhas. Prestou juramento.

-Doutor Vassilis Frangescos, queira ter a bondade de dizer a este tribunal que espécie de medicina pratica.

- Sou médico de clínica geral,

- É o mesmo que médico de família?

- Sim, é uma forma diferente de o expressar. -Há quanto tempo é médico?

-Há quase trinta anos.

-E tem autorização oficial, claro. - Claro.

- Doutor Frangescos, George Savalas foi seu doente? - Foi, sim.

- Por quanto tempo?

-Um pouco mais de dez anos,

- E o senhor andava a tratá-lo de algum problema específico? -Bem, da primeira vez que o vi, ele consultara-me porque tinha a tensão alta.

-E o senhor tratou-o? - Sim.

- Mas o senhor viu-o depois disso?

- Oh, sim. Ele costumava vir à consulta de tempos a tempos, quando tinha bronquite, ou alguma inflamação no fígado... nada de grave.

- Quando foi a última vez que observou o senhor Savalas? - Em Dezembro do ano passado.

- Foi pouco antes de ele ter morrido. -Verdade.

- Ele foi ao seu consultório?

-Não. Eu é que fui vê-lo a sua casa. -Costuma fazer consultas ao domicffio? -Não, geralmente não.

-Mas neste caso fez uma excepção. - Sim.

-Porquê?

0 médico hesitou.

-Bem, ele não estava em condições de se deslocar ao consultório. -Em que condições é que ele estava?

- Tinha dilacerações, umas costelas partidas e uma corrução. -Tinha sofrido algum acidente?

0 doutor. Frangescos hesitou.

- Não. Disse-me que a esposa lhe tinha batido. Houve um arquejo audível na sala de audiëncias. 0 juiz-presidente disse, num tom zangado:

-Senhor Chotas, não vai protestar contra o facto de se registarem em acta testemunhos auriculares?

Napoleon Chotas ergueu o olhar e disse brandamente. -Oh, obrigado, Meritíssimo. Sim, protesto. Mas, claro, o mal já estava feito. Os jurados olhavam agora para a defesa com hostilidade declarada.

-Obrigado, doutor Frangescos. Não tenho mais perguntas. Peter Demonides voltou-se para Chotas e disse presunçosamente:

-A testemunha é sua. -Não tenho perguntas.

Seguiu-se uma torrente contínua de testemunhas: uma criada que depôs que vira a senhora Savalas entrar nos aposentos do motorista em várias ocasiões... um mordomo que depôs que ouvira George Savalas ameaçar divorciar-se da mulher e alterar o seu testamento.., vizinhos que ouviram as discussões barulhentas entre os Savalas. E, no entanto, Napoleon Chotas não teve quaisquer perguntas a fazer às testemunhas. A rede apertava-se rapidamente sobre Anastasia Savalas. Peter Demonides sentia já o brilho da vitória, Na imaginação via os títulos nos jornais. Este ia ser o julgamento de homicídio mais rápido da história. «0 julgamento podia terminar mesmo hoje», pensou ele. «0 famoso Napoleon Chotas é um homem derrotado,»

- Gostaria de chamar o senhor Niko Mentakis a depor. Mentakis era um homem novo, alto e diligente, que se exprimia de uma maneira lenta e cuidadosa.

-Senhor Mentakis, queira dizer a sua ocupação ao tribunal, por favor.

-Sim, senhor. Trabalho num viveiro, -Que cultiva exactamente?

- Temos árvores e flores, e todas as espécies de plantas. -Então o senhor é um entendido ern coisas que se cultivam. - Devo ser. Há muito tempo que faço isso.

-E ao que me parece uma das suas funções é garantir que as plantas que tem à venda se mantenham saudáveis?

-Isso, sim. Tratamo-las muito bem. Nuncavenderíamosplantas doentes aos nossos clientes. A maior parte são regulares.

-Com isso o senhor quer dizer que são sempre os mesmos clientes que o procuram?

- Sim, senhor. -A sua voz estava orgulhosa. -Nós prestamos uma boa assistência.

- Diga-me, senhor Mentakis, a senhora Savalas era uma cliente regular?