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- Oh, era, sim. A senhora Savalas adora plantas e flores. 0 juiz-presidente disse impacientemente:

- Senhor Demonides, o tribunal não sente que esta linha de interrogatório seja pertinente. Queira mudar de assunto, ou...

-Se o tribunal permitir que eu termine, Meritíssimo, esta testemunha tem um ponto de vista muito importante sobre o caso.

0 juiz-presidente olhou para Napoleon Chotas.

-Senhor Chotas, tem alguma objecção a fazer quanto a esta linha de interrogatório?

Napoleon Chotas ergueu o olhar e pestanejou. - 0 quê? Não, Meritíssimo.

0 juiz-presidente fitou-o frustrado e depois voltou-se para Peter Demonides.

-Muito bem. Pode prosseguir.

- Senhor Mentakis, a senhora Savalas procurou-o um dia em Dezembro e disse-lhe que algumas plantas lhe estavam a dar problemas?

- Sim, senhor. É verdade.

-Não é verdade que ela disse que uma infestação de insectos lhe estava a destruir as plantas?

-Disse, sim.

-E não lhe pediu algo que pusesse fim a isso? -Pediu, sim. Sim, senhor.

-Importava-se de dizer ao tribunal do que se tratava? -Vendi-lhe um pouco de antimónio.

-E importa-se de dizer ao tribunal exactamente o que é isso? -Um veneno, como o arsénico.

Houve um tumulto na sala de audiências.

0 juiz-presidente bateu o seu martelo com força.

-Em caso de nova desordem, mandarei o oficial de justiça evacuar a sala. -Voltou-se para Peter Demonides. -Pode continuar com o interrogatório.

-Portanto, vendeu-lhe uma quantidade de antimónio. - Foi, sim.

- E diz o senhor que se trata de um veneno mortal? -Comparou-o ao arsénico.

- Oh, é, sim. É mesmo mortal.

-E deu baixa da venda no livro de registos, como manda a lei sempre que vende qualquer veneno?

- Dei, sim.

- E trouxe esses registos consigo, senhor Mentakis ?

-Sim, trouxe. -Entregou a Peter Demonides um livro-mestre. 0 advogado de acusação caminhou até aos juízes.

- Meritíssimos, gostaria que isto fosse etiquetado como «Prova Ap.

Voltou-se para a testemunha.

-Não tenho mais perguntas. Olhou para Napoleon Chotas. Napoleon Chotas abanou a cabeça. -Não tenho perguntas.

Peler Demonides respirou fundo. Chegou a hora da sua bomba. -Gostaria de mostrar a «Prova B». Virou-se para o fundo da sala e disse a um oficial de justiça que se encontrava junto à porta. - Trazia cá para dentro, por favor?

0 oficial de justiça saiuapressado, e algunsmomentos depois estava de volta com um frasco de xarope numa bandeja.

Faltava uma quantidade apreciável. Os espectadores observavam, fascinados, quando 0 oficial de justiça entregou o frasco ao advogado de acusação. Peler Demonides colocou-a sobre a mesa em frente dos juízes. Senhoras e cavalheiros, estão a olhar para a arma do crime. Esta é a arma que matou George Savalas. Este é o xarope que a senhora Savalas administrou ao marido na noite em que ele morreu. Está cheio de antimónio. Como podem ver, avítima engoliu algum.., e vinte minutos depois estava morto. Napoleon Chotas levantou-se e disse num tom brando: -Protesto. 0 advogado de acusação não tem meios para saber se foi exactamente esse o frasco medicado ao falecido. E Peler Demonides fechou a armadilha.

-Com todo o devido respeito pelo meu douto colega, a senhora Savalas confessou que deu este xarope ao marido na noite em que ele morreu, 0 frasco esteve guardado pela polícia até ser trazido a este tribunal há alguns minutos atrás. 0 médico-legista testemunhou que George Savalas morreu por envenenamento de antimónio. Este xarope contra a tosse está cheio de antimónio. -Olhou para Napoleon Chotas desafiadoramente.

Napoleon Chotas sacudiu a cabeça derrotado. - Então acho que não há dúvida.

Peler Demonides disse triunfantemente.

-Não há nenhuma. Obrigado, senhor Chotas. A acusação dá por encerrada a apresentação de provas,

0 juiz-presidente voltou-se para Napoleon Chotas. -A defesa está pronta para o seu sumário? Napoleon Chotas levantou-se.

- Sim, Meritíssimo. Deixou-se ficar um longo momento. Depois lentamente caminhou em frente. Ficou diante da bancada dos jurados, cofando a cabeça como se estivesse a tentar calcular o que ia dizer. Quando finalmente começou, falou lentamente, buscando as palavras.

-Suponho que alguns dos senhores estejam a interrogar-se da razão por que não contra-interroguei nenhuma das testemunhas. Bem, para lhes dizer a verdade, pensei que o senhor Demonides fez um trabalho tão primoroso que eu não precisava de fazer nenhuma pergunta.

«0 palerma está a defender o meu caso em meu nome», pensou Peler Demonides animadamente. Napoleon Chotas voltou-se para olhar o frasco de xarope durante um momento, depois virou-se de novo para os jurados.

-Todas as testemunhas pareceram muito honestas. Mas de facto não provaram nada, pois não? 0 que eu quero dizer ... - Sacudiu a cabeça. -Bem, se somarmos tudo o que as testemunhas disseram, chegamos a uma só concluso: uma jovem bonita casa-se com um homem velho que provavelmente não conseguia satisfazê-la sexualmente. -Fez um sinal com a cabeça na direcção de Josef Pappas. - Então ela encontrou um homem novo que conseguia. Mas isso nós soubemos pelos jornais, não é verdade? Não há segredos na sua ligação. Todas as pessoas sabiam da sua existência. Tem sido escrita em todas as revistas escabrosas do mundo. Ora, nós podemos não aprovar o comportamento dela, senhoras e cavalheiros, mas Anastasia Savalas não está aqui a ser julgada por adultério. Ela não se encontra neste tribunal porque tem desejos sexuais normais em qualquer mulher nova. Não, ela está a ser julgada neste tribunal por homicídio. Voltou-se para olhar o frasco de novo, como se estivesse fascinado por ele. «Deixem o velho delirar», pensou Peler Demonides. Olhou de relance para o relógio de parede da sala. Faltavam cinco minutos para o meio-dia. Os juízes pediam sempre intervalo ao meio-dia. Nem sequer foi assaz esperto para esperar que o tribunal estivesse suspenso de novo. «Por que tive eu sempre medo dele?» Peler Demonides interrogava-se. Napoleon Chotas divagava.

-Vamos examinar as provas juntos, sim? Algumas plantas da senhora Savalas estavam doentes e ela importava-se o bastante com elas para querer salvá-las.

Procurou o senhor Mentakis, um perito em plantas, que a aconselhou a usar antimónio. De foc~ma que seguiu o conselho que ele lhe deu. E depoishá o depoimento da governanta, que disse que a senhora Savalas mandou todos os criados embora para poder ter um jantar de lua-de-mel com o marido, que ela ia preparar. Bem, o que eu acho é que a governanta estava provavelmente meio apaixonada pelo senhor Savalas. Não se trabalha para um homem durante vinte e cinco anos a não ser que se nutra sentimentos profundos por ele. Ela ressentia-se de Anastasia Savalas. Não viram isso no seu tom? -Chotas tossiu ligeiramente e aclarou a voz. -Portanto, assumamos que a ré, no fundo do coração, amavarealmente o marido, e tentava desesperadamente fazer funcionar o casamento. Como é que uma mulher mostra a um homem que o ama? Bem, uma das maneiras mais básicas, julgo, cozinhar para ele. Não é uma forma de amor? Acho que sim. -Virou-se para olhar o frasco uma vez mais. - E outra não é tratar dele quando está doente.„ na doença e na saúde? 0 relógio da parede indicava que faltava um minuto para as doze horas. Minhas senhoras e meus senhores, eu disse-lhes quando 0 julgamento começou que analisassem o rosto desta mulher. Não é o rosto de uma assassina. Não são os olhos de uma matadora. Peter Demonides observou os jurados quando eles fitaram a ré. Nunca vira uma hostilidade tão declarada. Tinha o júri no bolso.

-Alei é muito clara, senhoras e senhores, Como serão informados pelos nossos Meritíssimos Juízes, para poderem entregar um veredicto de culpa, não devem ter quaisquer dúvidas sobre a culpa da ré. Nenhuma.

Enquanto Napoleon Chotas falava, voltou atossir, puxando um lenço do bolso para tapar a boca. Caminhou até ao frasco de xarope que estava na mesa diante do júri.

-Espremendo bem as coisas, a acusação não provou realmente nada, pois não? Tirando o facto de que este é o frasco que a senhora Savalas entregou ao marido. A verdade é que o estado não tem nenhum caso.