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- Que está para aí a dizer? Você está a sair-se bem, -Não. Eu... eu sinto-me arrasado.

-Arrasado? Não sei o que está a perturbá-lo. Frederick Stavros olhou para ele incredulamente.

-0 que... o que eu e você fizemos ao Noelle Page e ao Lorry Douglas. Não.„ não sente nenhuma culpa?

Os olhos de Chotas contraíram-se. NCuidado.~

-Frederick, porvezes a justiça tem de serfeita de umaforma tortuosa. -Napoleon Chotas sorriu. -Acredite-me, nós não temos que nos recriminar por nada. Eles eram culpados.

-Fomos nós que os condenámos. Nós enganámo-los. Não aguento mais. Lamento. Vim entregar o meu aviso de demissão. Ficarei aqui até ao fim do mês.

-Não aceito a sua demissão-disse Chotasfirmemente. Por que não faz como eu lhe sugeri,.. tire umas férias e...?

- Não. Eu nunca poderia ser feliz aqui, sabendo o que sei. Peço desculpa.

Napoleon Chotas analisou-a, com olhar duro.

-Tem alguma ideia do que está a fazer? Está a deitar fora uma carreira brilhante... a sua vida.

-Não. Estou a salvar a minha vida.

-Então tomou mesmo uma decisão definitiva?

-Tomei. Tenho muita pena, Leon. Mas não precisa de se preocupar, eu nunca falarei.„ do que aconteceu.-Virou-se e saiu do gabinete.

Napoleon Chotas sentou-se à secretária durante muito tempo, perdido em pensamentos. Por fim, tomou uma decisão. Levantou o auscultador e marcou um número.

-Comunique ao senhor Demiris que preciso de vê-lo esta tarde. Diga-lhe que é urgente.

Às quatro horas dessa tarde, Napoleon Chotas estava sentado no gabinete de Constantin Demiris.

-Qual é o problema, Leon?-perguntou Demiris,

- Pode não haver problema - replicou Chotas cuidadosamente-, mas achei que devia dizer-lhe que o Frederick Stavros veio falar comigo esta manhã. Decidiu abandonar a firma.

-Stavros? 0 advogado do Lorry Douglas? E depois? - Parece que a consciência está a pesar-lhe.

Houve um silêncio pesado. -Estou a entender.

-Ele prometeu não falar daquilo... daquilo que ocorreu naquele dia no tribunal.

-Acredita nele?

-Sim. De facto, acredito, Costa, Constantin Demiris sorriu. -Então, está bem. Não temos com que nos preocupar, pois não? Napoleon Chotas levantou-se aliviado.

- Suponho que não. Apenas pensei que devia dizer-lhe.

- Fez bem em dizer-me. Está livre para jantar na semana que vem?

-Claro.

-Eu telefono-lhe, e combinamos qualquer coisa, -Obrigado, Costa.

Na sexta-feira, ao fim da tarde, a velha igreja de Kapnikarea na baixa de Atenas estava repleta com o som do silêncio, tranquilo e abafado, Num canto junto ao altar, Frederick Stavros estava ajoelhado diante do padre Konstantinou. 0 padre colocou um pano sobre a cabeça de Stavros.

-Eu pequei, padre. Não tenho salvação.

-0 grande problema do homem, meu filho, é que ele pensa que é apenas humano. Quais são os seus pecados?

-Sou um assassino.

- Tirou a vida a alguém?

-Sim, padre. Não sei o que fazer para expiar.

- Deus sabe o que irá fazer. Vamos perguntar-Lhe. -Deixei-me desencaminhar, por vaidade e ganância. Aconteceu há um ano. 0 julgamento corria bem. Mas depois o Napoleon Chotas„.

Quando Frederick Stavros deixou a igreja meia hora depois, sentia-se um homem diferente. Foi como se lhe tivessem tirado um tremendo fardo dos ombros. Sentiu-se purificado pelo ritual secular da confissão, Contara tudo ao padre e, pela primeira vez desde aquele dia terrível, sentiu-se de novo completo. «Vou começar uma vida nova. Vou viver noutra cidade e começar tudo de novo. Tentarei de alguma forma compensar a coisa terrível que fiz. Obrigado, Pai, por me dar nova oportunidade. A escuridão caíra sobre a cidade, e o centro da Praça Ermos estava quase deserto. Assim que Frederick Stavros alcançou a esquinada rua, o sinal ficou verde e ele começou a atravessar. Quando estava a meio do cruzamento, uma limusina negra começou a descer a colina com os faróis acesos, vociferando em direcção a ele como um monstro gigantesco e irracional. Stavros arregalou os olhos, gelado.

Era tarde de mais para saltar. Houve um estrondo enorme, e Stavros sentiu o corpo ser esmagado e separado em dois. Houve um instante de dor excruciante, e depois escuridão. Napoleon Chotas era madrugador. Gostava dos momentos de solidão antes que as pressões do dia começassem a devorá-lo. Tomava o pequeno-almoço sempre sozinho e lia os matutinos à refeição. Nesta manhã particular havia vários artigos de interesse. 0 primeiro-ministro Themistocles Sophoulius havia formado um novo governo sustentado por uma coligação de cinco partidos. Asforças comunistas chinesas tinham chegado à margem norte do rio Yangts. Harry Truman e Alben Barkley tomaram posse como presidente e vice-presidente dos Estados Unidos. Napoleon Chotas virou apágina, e o sangue gelou-se-lhe. A notícia que o atraiu dizia o seguinte: 0 senhor Frederick Stavros, sócio da prestigiosa firma de advogados Tritsis e Tritsis, foi atingido e morto a noite passada, por um condutor que se pôs em fuga, quando saia da Igreja de Kapnikarea. De acordo com testemunhas oculares, tratava-se de uma limusina preta sem chapa de matrícula. 0 senhor Stavros foi uma figura importante no sensacional julgamento de Noelle Page e Lorry Douglas. Era o advogado de Lorry Douglas e... Napoleon Chotas parou de ler. Sentou-se na cadeira, rígido, o pequeno-almoço esquecido. Um acidente. Foi um acidente? Constantin Demiris dissera-lhe que não precisava de preocupar-se com nada. Mas muitas pessoashaviam cometido o erro de avaliar Constantin Demiris pelo significado manifesto. Chotas pegou no telefone e ligou para Constantin Demiris. Uma secretária pô-lo em comunicação.

-Já leu o jornal da manhã?-perguntou Chotas. - Não, não li. Porquê?

-Frederick Stavros morreu,

-0 quê?-Foi uma exclamação de surpresa. -0 que é que me está a dizer?

-Foi morto a noite passada por um condutor que se pôs em fuga. - Meu Deus. Sinto muito, Leon, Já apanharam o condutor? -Não, ainda não.

-Talvez eu consiga pressionar um pouco mais a polícia. Ninguém está seguro nos dias de hoje. A propósito, que tal almoçarmos na quinta-feira?

- Óptimo.

-Está combinado.

Napoleon Chocas era um perito a ler nas entrelinhas. «Constantin Demiris ficou genuinamente surpreendido. Não tinha nada a ver com a morte de Stavros», concluiu Chotas. Na manhã seguinte, Napoleon Chotas entrou na garagem privativa do seu edifício de escritórios e estacionou o cano. Quando se dirigia para o elevador, um homem novo surgiu das sombras. -Tem lume? Um alarme assaltou a mente de Chotas. 0 homem era um estranho, e não tinha motivos para estar na garagem.