A pergunta apanhou-a completamente desprevenida. Kirk aguardava uma resposta.
-Eu... não sei, Kirk.
- Queres pensar no assunto?
- Quero. - 0 corpo tremia-lhe. Lembrou-se de como fora excitante fazer amor com Larry, e interrogava-se se poderia voltar a sentir algo semelhante. -Vou pensar no assunto.
Catherine decidiu apresentar Kirk a Wim. Foram apanhar Wim no apartamento e levaram-no a jantar ao restaurante The Ivy. Durante toda a noite, Wim nem por uma vez olhou de frente para Kirk Reynolds. Parecia completamente retraído. Kirk olhou para Catherine de esguelha. Ela disse num trejeito:
-Fala com ele.
Kirk fez que sim com a cabeça e voltou-se para Wim. - Gosta de Londres, Wim?
- É um lugar agradável.
- Tem uma cidade preferida? -Não.
- Gosta do seu emprego? -É agradável.
Kirk olhou para Catherine, sacudiu a cabeça e encolheu os ombros. Catherine voltou a dizer num trejeito:
-Por favor.
Kirk suspirou e insistiu.
-Vou jogar golfe no domingo, Wim. Joga?
E Wim desfiou de uma assentada todos os tipos de tacos que se usam no golfe. Kirk Reynolds pestanejou.
- Você deve ser muito bom.
-Ele nunca jogou- explicou Catherine. -0 Wirn apenas sabe coisas. É um ás em matemática.
Kirk Reynolds estava farto. Esperara passar uma tarde sozinho com Catherine, mas ela trouxera este chato atrás.
Kirk forçou um sorriso.
-Ah ?-Virou-se para Wim e perguntou inocentemente. -Por acaso sabe a quinquagésima-nona potência de dois?
Wim ficou em silêncio durante trinta segundos a estudar a toalha da mesa, e, quando Kirk se preparava para falar, Wim disse:
- 576, 460, 752, 303, 423, 488.
- Meu Deus! - disse Kirk. -Isso é verdade? Catherine voltou-se para Wim.
-Wim, é capaz de achar a raiz quadrada de... -Ela escolheu um número ao acaso. - 24137 585?
Ficaram ambos a olhar para Wim enquanto ele ali ficava, de rosto inexpressivo. Vinte e cinco segundos depois ele disse: -Dezassete; e o resto são dezasseis.
-Não posso crer-exclamou Kirk. -Pois acredita-disse-lhe Catherine. Kirk olhou para Wim.
- Como é que conseguiu fazer isso? Wim encolheu os ombros. Catherine disse:
-0 Wim é capaz de multiplicar dois números de quatro algarismos em trinta segundos e memorizar cinquenta números de telefone em cinco minutos. Assim que os aprende, nunca mais se esquece.
Kirk Reynolds estava a olhar para Wim Vandeen espantado. -De certeza que o meu escritório precisava de alguém como você -disse ele,
- Eu já tenho emprego - disse Wim asperamente.
Quando Kirk Reynolds deixou Catherine no fim da noite, disse: - Não te vais esquecer de St. Moritz, pois não?
- Não. Não me esquecerei. «Por que não consigo dizer simplesmente que sim?»
Constantin Demiris telefonou tarde nessa noite. Catherine esteve tentada a falar-lhe de Kirk Reynolds, mas no último momento decidiu não fazê-lo.
Atenas
0 padre Konstantinou andava perturbado. Desde o momento em que vira a reportagem do jornal sobre a morte de Frederick Stavros causada por um condutor que se pôs em fuga, sentia-se perseguido pela mesma. 0 padre ouvira centenas de confissões desde que fora ordenado, mas a confissão dramática de Frederick Stavros, à qual se seguiu a sua morte, deixara uma impressão indelável.
-Eh, o que é que te está a incomodar?
0 padre Konstantinou virou-se para olhar para o belo jovem que estava deitado nu a seu lado na cama.
-Nada, amor. -Não te faço feliz? -Sabes que sim, Georgios.
-Então qual é o problema? Comportas-te como se eu não estivesse aqui, pelo amor de Deus.
-Não uses profanidades. - Não gosto de ser ignorado.
-Desculpa-me, querido, É que... um dosmeusparoquiantes morreu num acidente de automóvel.
-Todos nós temos que partir um dia, não ?
- Sim, claro. Mas o homem estava muito perturbado. -Estava doente da cabeça?
- Não. Ele tinha um segredo terrível, e era um fardo pesado de mais para ele aguentar.
-Que espécie de segredo?
0 padre acariciou a coxa do jovem.
-Tu sabes que eu não posso falar sobre isso. Foi-me dito no confessionário.
- Pensei que não havia segredos entre nós. - Não há, Georgios, mas...
-Garroto! Ou há ou não há. De qualquer forma, disseste que o tipo morreu. Que diferença pode isso fazer agora?
- Creio que nenhuma, mas...
Georgios Lato abraçou o companheiro de cama e sussurrou-lhe ao ouvido.
-Estou curioso.
-Estás-me a fazer cócegas no ouvido.
Lato começou a acariciar o corpo do padre Konstantinous. - Oh... não pares...
-Então conta-me.
-Está bem. Acho que não faz mal nenhum agora...
Georgios Lato subira na vida. Nasceu nos bairros da lata de Atenas, e quando tinha doze anos tornou-se prostituto. No início, Lato andava nas ruas, ganhando alguns dólares por prestar serviços a bêbados nos becos e turistas nos seus quartos de hotel. Era dotado de uma beleza morena e de um corpo firme e forte. Quando tinha dezasseis anos, um chulo disse-lhe:
-Tu és um poulaki, Georgios. Estás a deitar fora esse atributo. Possa fazer com que ganhes muito dinheiro,
E cumpriu a promessa. Desse dia em diante, Georgios Lato apenas servia homens ricos e importantes, e era generosamente recompensado.
Quando Lato conheceu Nikos Ventos, o assistente pessoal do grande nababo Spyros Lambrou, a vida de Lato mudou. -Estou apaixonado por ti-disse NikosVentos ao jovem.-Não te quero ver a andar para aí no engate. Tu agora pertences-me. - Certo, Niki. Eu também te amo. Ventos estava constantemente a mimar o rapaz com prendas. Comprava-lhe roupa, pagava-lhe o pequeno apartamento e dava-lhe dinheiro para despesas miúdas. Mas atormentava-se com o que Lato fazia quando se ausentava. Ventos resolveu o problema um dia ao dizer-lhe: -Arranjei-te um emprego na companhia de Spyros Lambrou, onde trabalho.
-Para andares sempre de olho em mim? Eu não...
-Clara que não é isso, coisa doce. Só que gosto de te ter ao pé de mim.
Georgios Lato de início protestara, mas acabou por ceder. Concluiu que realmente gostava de trabalhar naquela firma. Trabalhava na secção de correio como paquete, e isso dava-lhe liberdade de arranjar dinheiro extra de clientes gratos como o padre Konstantinous. Quando Georgios Lato deixou a cama do padre Konstantinous nessa tarde, tinha a mente num turbilhão. 0 segredo que o padre lhe coníïara era uma notícia surpreendente, e o pensamento de Georgios Lato logo se virou para a forma como poderia fazer dinheiro da mesma. Podia tê-la confiado a Nikos Ventos, mas tinha outros planos. «Vou directo ao manda-chuva com isto», disse Lato para si próprio. «Aí é que está a grande recompensa p Na manhã seguinte, Lato entrou na sala de recepção de Spyros Lambrou. A secretária levantou os olhos.
- Oh, o correio hoje chegou cedo, Georgios. Georgios Lato sacudiu a cabeça.
- Não, minha senhora. Preciso de falar com o senhor Lambrou. Ela sorriu.
-É mesmo? Para que é que queres vê-lo?Tens alguma proposta comercial a fazer-lhe?-zombou ela.
Lato disse com um ar sério.
-Não, não é nada disso. Acabo dé receber a notícia de que a minha mãe está à morte, e eu... eu tenho de voltar para a terra. Queria apenas agradecer ao senhor Lambrou o emprego que me deu aqui. Só preciso de um minuto, mas se ele tem muito que fazer... -Preparava-se para sair.
-Espera. Tenho a certeza de que ele não se vai importar.
Dez minutos depois, Georgios Lato estava no gabinte de Spyros Lambrou. Nunca lá entrara antes, e a opulência dominou-o. -Bem, meu jovem. Lamento saber que a tua mãe esteja à morte. Talvez uma pequena gratificação fosse...
-Obrigado, senhor. Mas não é realmente por isso que estou aqui. Lambrou olhou-o de sobrolho franzido.
-Não percebo.
-Senhor Lambrou, tenho uma informação importante que penso ter muito valor para o senhor.
Viu o cepticismo no rosto de Lambrou.