-Verdade ?
-Infelizmente tenho muito que fazer, de forma que se não te... -É sobre Constantin Demiris. -As palavras saíram com dificuldade.-Tenho um grande amigo que é padre. Ele ouviu a confissão de um homem que morreu pouco depois num acidente de viação, e o que o homem lhe disse tem a ver com Constantin Demiris. 0 senhor Demiris fez uma coisa terrível. Realmente terrível. Podia ir parar à prisão por causa disso. Mas se o senhor não está interessado...
Spyros Lambrou viu-se repentinamente muito interessado. - Senta-te... Como é que te chamas?
- Lato, senhor. Georgios Lato.
-Muito bem, Lato. E se começasses pelo princípio...?
0 casamento de Constantin Demiris e Melina andava em fase de desagregação havia anos, mas nunca houvera qualquer violência física até recentemente. Começara amgo de uma discussão acalorada por causa de umaligação que Constantin Demiris mantinha com a amiga mais chegada de Melina.
-Tufazes detodas as mulheres umas putas-gritouela.-Tudo aquilo em que tu tocas se transforma em porcaria.
-Skaseh! Cala-me essa boca horrorosa.
-Tu não me podes obrigar-disse Melina desafiadoramente. - Vou dizer a toda a gente o pousti que tu és.
- 0 meu irmão é que estava certo. Tu és um monstro.
Demiris levantou o braço e esbofeteou o rosto de Melina com força. Ela fugiu do quarto.
Na semana seguinte voltaram a discutir, e Constantin bateu-lhe de novo. Melina fez as malas e apanhou um avião para Atticos, a ilha particular que era propriedade do irmão. Ficou por lá uma semana, infeliz e sozinha. Sentiu saudades do marido e começou a arranjar desculpas para o que ele fizera. «A culpa foi minha», pensou Melina. «Eu não devia ter contrariado o Costa.» E: «Ele não me queria bater. Só que perdeu a cabeça e não sabia o que estava a fazer.» E: «Se o Costa não se preocupasse tanto comigo, não me teria batido, pois não?» Mas no fundo Melina sabia que eram apenas desculpas, porque ela não conseguia suportar a ideia de acabar com o casamento. No domingo seguinte estava de volta a casa. Demiris estava na biblioteca. Ergueu o olhar quando Melina entrou. -Então decidiste voltar.
-Esta é a minha casa, Costa. Tu és o meu marido, e eu amo-te.
Mas quero dizer-te uma coisa. Se voltas a tocar-me, eu mato-te. E ele olhou-a nos olhos e viu que ela estava a falar a sério.
De umaforma estranha o casamento deles pareceumelhorar após este episódio. Durante muito tempo depois, Constantin tomou o cuidado de nunca perder a cabeça com Melina. Continuava a ter as suas ligações, e Melina estava orgulhosa de mais para lhe pedir que parasse. «Um dia ele vai fartar-se dessas cabras todas», pensou Melina, «e compreender que só precisa de mim,»
Num sábado à noite, Constantin Demiris vestia um «smoking>, preparando-se para sair. Melina entrou no quarto.
-Aonde é que vais? -Tenho um compromisso. -Já te esqueceste? Hoje vamos jantar à casa do Spyros. - Não me esqueci. Surgiu uma coisa mais importante. Melina ficou a olhar para ele, furiosa.
-E eu sei o que é ... a tua poulaki! E tu vais ter com uma das tuas putas para te satisfazeres.
-Devias ter cuidado com a língua. Estás a ficar uma mulher desbocada, Melina, -Demiris examinou-se ao espelho.
-Não consentirei que faças isto! -0 que ele lhe fazia a ela era bastante mau, mas insultar deliberadamente o irmão dela depois de tudo o que se passara era de mais. Ela tinha de achar uma forma de ofendê-lo, e só conhecia uma maneira.
-Devíamos ficar os dois em casa esta noite -disse Melina. -Não me digas. -perguntou ele indiferentemente.-E porquê? -Não sabes que dia é hoje? - ela escarneceu dele.
-Não.
- Faz hoje anos que matei o teu filho, Costa. Eu fiz um aborto. Ele ficou imóvel como um cepo, e ela viu as pupilas dos seus olhos escurecerem.
-Eu disse aos médicos que fizessem que eu nunca mais pudesse ter um filho teu - mentiu ela.
Ele ficou completamente descontrolado:
-Skaseh! -E deu-lhe um soco no rosto, continuando a bater-lhe.
Melina gritou e virou-se e correu pelo corredor, Constantin correu atrás dela. Agarrou-a no cimo das escadas.
-Vou matar-te pelo que fizeste-rugiu ele. Quando ele lhe batia de novo, Melina perdeu o equilíbrio e caiu, espalhando-se pela longa escadaria.
Ela jazia em baixo, choramingando de dor. -Oh, Deus. Ajuda-me. Parti qualquer coisa.
Demiris deixou-se ficar, olhando-a fixamente, com um olhar frio. -Vou mandar uma das criadas chamar um médico. Não quero chegar tarde ao meu compromisso. A chamada telefónica surgiu pouco antes da hora do jantar. -Senhor Lambrou? Fala o doutor Metaxis. A sua irmã pediu-me que lhe telefonasse. Ela encontra-se aqui nomeuhospital particular. Lamento muito, mas ela sofreu um acidente... Quando Spyros Lambrou entrou no quarto de Melina, foi até à cama dela e olhou fixamente para ela, estarrecido. Melina tinha um braço partido, uma comoçâo e o rosto estava bastante inchado. Spyros Lambrou disse uma palavra. -Constantin. -A sua voz tremia de raiva. Os olhos de Melina encheram-se de lágrimas. -Ele não fez por mal - sussurrou ela.
- Eu vou destruí-lo. Juro. - Spyros Lambrou nunca tinha sentido tanta raiva.
Ele não conseguia suportar aquilo que Constantin Demiris andava a fazer a Melina. Tinha de haver uma maneira de detê-lo, mas como? Tinha de haver uma maneira. Estava desesperado. Precisava de conselhos. Como acontecera muitas vezes no passado, Spyros LambroudecidiuconsultarMadamePiris. Talvez ela pudesse ajudá-lo de algum modo. Quando ia a caminho, Lambrou pensou de modo estranho: «Os meus amigos fariam pouco de mim se soubessem que eu ia consultar uma medium,u Mas a verdade era que no passado Madame Piris lhe dissera coisas extraordinárias que vieram a acontecer. «Tem de me ajudar agora. Estavam sentados a uma mesa num canto escuro do café vai gamente iluminado. Ela parecia mais velha desde a última vez que a vira. Ali estava ela sentada, os olhos presos nele.
-Preciso de ajuda, Madame Piris-disse Lambrou. Ela abanou a cabeça com um sinal afirmativo.
-Por onde começar?-Houve um julgamento por assassínio aqui há coisa de ano e meio. Uma mulher de nome Catherine Douglas foi... A expressão no rosto de Madame Piris alterou-se.
- Não, gemeu ela.
Spyros Lambrou olhou para ela, intrigado. - Ela foi assassinada por ... Madame Piris pôs-se de pé.
-Não! Os espíritos disseram-me que ela iria morrer! Spyros Lambrou estava confuso.
- Ela morreu - disse ele. -Ela foi morta por..: -Ela está viva!
Ele ficou completamente espantado.
-Não pode ser. Ela esteve aqui. Veio ver-me há três meses. Estava num convento.
Ele olhava para ela, totalmente imóvel. E repentinamente todas as peças se encaixaram. Eles mantinham-na num convento. Um dos actos caridosos de Demiris era dar dinheiro ao convento de Janina, a cidade onde se pensava que Catherine Douglas tivesse sido assassinada. A informação que Spyros recebera de Georgios Lato encaixava perfeitamente. Demiris mandara matar duas pessoas inocentes pelo assassínio de Catherine, embora ela estivesse bem viva, escondida pelas freiras. E Lambrou sabia como iria destruir Constantin Demiris. Tony Rizzoli. Os problemas de Tony Rizzoli multiplicavam-se. Tudo o que podia correr mal estava a correr mal. 0 que acontecera não fora certamente culpa sua, mas ele sabia que a Família o responsabilizaria a ele. Eles não toleravam desculpas. 0 que tornava o caso particularmente frustrante foi que a primeira parte da operação da droga decorrera perfeitamente. Ele tinhafeitopassar clandestinamente o envio em Atenas sem nenhuns problemas e arrecadou-a num armazém temporariamente. Subornara um comissário de bordo para que a fizesse seguir num voo de Atenas para Nova Iorque. E depois, exactamente vinte e quatro horas antes do voo, o idiota fora preso por conduzir bêbado e a companhia aérea tinham despedido. Tony Rizzoli virara-se para um plano alternativo, Arranjara um otário-neste caso, uma turista de setenta anos chamada Sara Murchison que viera visitar a filha em Atenas-para lhe levar a mala de volta para Nova Iorque. Ela não tinha ideia do que iria transportar. São algumas lembranças que prometi enviar à minha mãe explicou Tony Rizzoli-, e, como a senhora está a ser muito simpática ao fazer-me este favor, quero pagar a sua passagem.