-0 material já deviater sido enviado, Pete-queixou-se um dos homens. -Qual é o problema?
-Não tenho a certeza. 0 problema pode ser o Tony Rizzoli. -Nós nunca tivemos nenhum problema com o Tony.
- Eu sei... mas às vezes as pessoas ficam gananciosas. Acho melhor mandarmos alguém a Atenas para ver o que se passa. -É pena. Eu sempre gostei do Tony.
No número 10 da Rua Stadiou, o estado-maior da polícia situado na baixa de Atenas, realizava-se uma conferência. Na sala estavam o chefe da polícia Livreri Dmitri, o inspector Tinou, e um americano, o tenente Walt Kelly, um agente da Divisão de Costumes do Departamento do Tesouro dos Estados Unidos. -Chegou às nossas mãos a informação-dizia Kelly-de que se prepara um grande negócio de droga. 0 embarque sairá de Atenas. 0 Tony Rizzoli está envolvido. 0 inspector Tinou permanecia em silêncio. 0 departamento da polícia grega não via com bons olhos a interferência de outros países nos seus assuntos. Particularmente de americanos. nEles são sempre too-sou, tão seguros de si próprios.»
0 chefe da polícia falou.
-Já estamos a trabalhar nisso, tenente. 0 Tony Rizzoli fez uma chamada telefónica para Palermo há pouco tempo. Estamos já a investigar o número. Quando conseguirmos, teremos a fonte dele.
0 telefone que estava sobre a secretária tocou. -Conseguiste?-Escutou por um momento, o rosto inexpressivo, depois voltou a colocar o auscultador.
- Então?
- Eles já deram com o número. -E então?
-A chamada foifeita por uma cabina pública da praça da cidade. -Garroto!
- 0 nosso senhor Rizzoli é muito inch eskipnos. Walt Kelly disse impacientemente:
-Eu não falo grego.
-Desculpe, tenente. Significa astuto.
Kelly disse:
- Gostava que aumentasse a vigilância sobre ele. «Aarrogância do homem.» 0 chefe Dmitrivoltou-se para o inspector Tinou.
- Nós de facto não temos provas suficientes para fazer mais, temos?
-Não, senhor. Apenas fortes suspeitas.
0 Chefe Dmitri voltou-se para Walt Kelly.
-Infelizmente não posso dispensar homens em número suficiente para seguir toda a gente que suspeitamos estar envolvida em narcóticos.
-Mas o Rizzoli,..
- Asseguro-lhe que temos as nossas próprias fontes, senhor Kelly. Se conseguirmos mais informações, sabemos onde contacté-lo. Walt Kelly olhou-o fixamente, frustrado.
-Não espere muito tempo - disse ele, - Ou então esse embarque ainda se vai embora.
A uilla em Rafina estava pronta. 0 corretor de imóveis dissera a Constantin Demiris:
-Sei que o senhor a comprou mobilada, mas se eu lhe puder sugerir algum mobiliário...
-Não. Quero que tudo fique exactamente como está. Exactamente como estava quando a sua infiel Noelle e o amante, Lorry, estiveram lá atraiçoando-o. Atravessou a sala de visitas. «Fizeram amor aqui no meio do chão? No gabinete privado? Na cozinha?» Demiris entrou no quarto, Havia uma cama grande no canto. A cama deles. Onde Douglas acariciara o corpo nu de Noelle, onde roubara o que pertencia a Demiris. Douglas pagara pela sua traição e agora ia pagar de novo. Demiris olhou para a cama. «Primeiro farei amor com a Catherine aqui», pensou Demiris. ~~Depois nos outros quartos. Em todos eles.» Telefonou da afina para Catherine.
- Estou?
-Tenho pensado em si.
Tony Rizzoli teve duas visitas inesperadas da Si cffia. Entraram no quarto sem ser anunciados, e Rizzoli sentiu logo que havia problema. Alfredo Mancuso era grande. Gino Laveri era maior. Mancuso foi logo directo ao assunto. -Viemos a mando do Pete Lucca. Rizzoli tentou parecer informal. -Isso é óptimo. Bem-vindos a Atenas. Em que posso ajudá-los? -Deixe-se dessas parvoíces, Rizzoli-disse Mancuso.
-0 Pete quer saber qual é o seu jogo.
-Jogo? De que é que vocês estão a falar? Eu já lhe expliquei que estou com um pequeno problema.
- É por isso que estamos aqui. Para o ajudar a resolvê-lo. -Esperem um pouco, companheiros-protestou Rizzoli.
- Tenho a mala em lugar seguro, e ela está em lugar seguro. Quando...
-0 Pete não a querguardada em lugar seguro. Ele investiumuito dinheiro nela. - Laveri encostou o punho ao peito de Rizzoli e atirou-o para uma cadeira.
-Deixe-me explicar-lhe como é que . Se o material estivesse nas ruas de Nova Iorque como devia estar, o Pete podia receber o dinheiro, lavá-lo e pô-lo a circular nas ruas. Percebe o que eu quero dizer?
«Eu podia atacar estes dois gorilas», pensou Rizzoli. Mas ele sabia que não estaria a lutar com eles; estaria a lutar com Pete Lucca. -Claro, percebo exactamente o que está a dizer-disse Rizzoli brandamente. -Mas já não é tão fácil como antigamente. A polícia grega está em todo o sítio, e agora têm lá um agente dos narcóticos de Washington. Eu tenho um plano...
- 0 Pete também - Laveri interrompeu. -Sabe qual é o plano dele? Ele quer que vocë saiba que se o material não seguir para a semana quem vai entrar com o dinheiro é você.
- Eh! - protestou Rizzoli. - Eu não tenho esse dinheiro todo. Eu...
-0 Pete pensou que talvez você não tivesse. Deforma que nos disse que achássemos outras maneiras de o fazer pagar.
Tony Rizzoli encheu o peito de ar.
-Tudo bem. Digam-lhe apenas que está tudo sob controlo. - Claro. Entretanto vamos ficar por aqui. Tem uma semana.
Tony Rizzoli fazia ponto de honra nunca beber antes do meio-dia, mas quando os dois homens saíram abriu uma garrafa de uísque e tomou dois gales. Sentiu o calor do uísque invadi-lo, mas não ajudou. «Nada vai ajuda», pensou. «Como é que o velho se pôde virar assim contra mim? Eu tenho sido como um filho para ele, e ele dá-me uma semana para eu achar uma saída. Preciso de um otário, urgente. 0 casino~>, concluiu ele. «Lá é que vou encontrar um. Às dez horas dessa noite, Rizzoli dirigiu-se para Loutraki, o popular casino situado a cinquenta milhas a oeste de Atenas. Vagueou pela enorme sala de joga, a observar o ambiente. Havia sempre muitos perdedores, dispostos a fazerem qualquer coisa para continuarem a jogar. Rizzolilocalizouo seu alvo quase de imediato numa mesa de roleta. Era um homenzinho irrequieto, de cabelo grisalho, na casa dos cinquenta, que passava o tempo a limpar a testa com um lenço. Quanto mais perdia, mais transpirava.
Rizzoli observava-o com interesse. Já conhecia os sintomas. Era um caso clássico de um jogador compulsivo que perdia mais do que permitiam os seus meios. Quando as fichas que tinha ã frente de si acabaram, disse ao banqueiro:
- Eu... eu queria requisitar mais uma série de fichas.
0 banqueiro voltou-se para olhar o lugar reservado ao patrão. -Dá-lha. Será a última.
Tony Rizzoli gostava de saber quanto é que o trouxa já devia. Sentou-se ao lado do homem e entrou no jogo. Aroleta era um jogo para simplórios, mas Rizzoli sabia como jogar, e o seu monte de fichas crescia enquanto o do homem do lado diminuía. 0 perdedor espalhavafichas portoda a mesa, jogando nos números, nas corese até fazendo apostas pares e ímpares. «Ele não faz ideia nenhuma do que está a fazer, pensou Rizzoli.
As últimas fichas desapareceram. 0 estranho deixou-se ficar, rígido.
Ergueu o olhar para o banqueiro esperançosamente. - Será que eu podia...?
0 banqueiro sacudiu a cabeça. -Lamento. 0 homem suspirou e pôs-de de pé. Rizzoli levantou-se ao mesmo tempo.
-Azar-disse ele solidariamente. -Eu tive um pouco de sorte. Deixe-me pagar-lhe uma bebida.
0 homem pestanejou. A sua voz vibrou. -É muito amável de sua parte.
«Encontrei o meu otário, pensou Rizzoli. Era óbvio que o homem precisava de dinheiro. Provavelmente não deixaria fugir a oportunidade de levarde avião uma encomenda para Nova Iorque por uns cem dólares e uma viagem grátis para os Estados Unidos.
- 0 meu nome é Tony Rizzoli. -Victor Korontzis.
Rizzoli levou Korontzis até ao bar. - 0 que é que vai tomar?
- Sinto muito, mas fiquei sem dinheiro. Tony Rizzoli acenou uma mão expansiva. -Não se preocupe com isso.
-Então tomo uma retsina, obrigado. Rizzoli virou-se para o empregado. -E um Chivas Regal com muito gelo.