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0 homem começou a abanar a cabeça. -Eu não posso ser incomodado... Rìzzoli puxou de uma nota de cem dólares do bolso. -Isto é para pagar o seu incómodo.

0 homem lambeu os lábios.

- Oh. Bem, claro- disse ele. -Acho que não vai haver problemas. Tenho muito gosto em fazer um favor a um companheiro sofredor.

-É certamente muito amável da sua parte. Sempre que houver uma chamada para mim, basta bater à minha porta. Eu estarei por aqui a maior parte do tempo.

- Certo.

Logo pela manhã do dia seguinte, Rìzzoli foi a uma central de cabinas telefónicas ligar para Ivo Bruggi. Marcou o código 39 da Itália e o indicativo 6 de Roma.

-Signor Bruggi, per piacere. -Non cè in casa.

- Quando arriverà? -Non lo so.

- Ghi dica, per favore, di chiamare il signor Rìzzoli.

-Rìzzoli deu o número do telefone do PBX do hotel e o número do quarto do vizinho. Regressou ao quarto. Ele detestava o quarto. Alguém lhe dissera que a palavra grega parahotel eraxenodochion, que significava um recipiente para forasteiros.

«Mais parece a merda de uma prisão», pensou Rìzzoli. A mobília era feia: um sofá verde e velho, duas mesas de canto gastas com candeeiros,uma pequena escrivaninha com um candeeiro e uma cadeira de escrivaninha, e uma cama concebida por Torquemada. Nos dois dias que se seguiram Tony Rìzzoli ficou no quarto, à espera que batessem à porta, pedindo a um paquete que lhe trouxesse a comida. Ninguém telefonou. NOnde é que pára o Ivo Bruggi?» A equipa de vigilância informava o inspector Nicolino e Walt Kelly.

- 0 Rìzzoli está escondido no hotel. Não arreda pé há quarenta e oito horas.

-Tem a certeza de que ele está lá? -Tenho, sim. As criadas vêem-no de manhã e à noite quando vão arrumar o quarto.

- E quanto a chamadas telefónicas? -Nem uma. Que quer que a gente faça?

-Mantenham o controlo. Ele irá agir mais cedo ou mais tarde. E verifiquem se a escuta do telefone está a funcionar.

No dia seguinte, o telefone do quarto de Rizzoli tocou.

NPorra!» Bruggi não devia ligar para aqui, Deixara recado para o idiota ligar para o quarto do vizinho. Teria de ser cuidadoso. Rizzoli atendeu a telefone.

- Estou? Uma voz disse: - É o Tony Rizzoli?

- Não era a voz de Ivo Bruggi. - Quem fala?

- 0 senhor veio falar comigo ao meu escritório no outro dia com uma proposta de negócio, senhor Rizzoli. Eu recusei. Acho que devemos discuti-la de novo.

TonyRizzoli sentiu uma excitação repentina de exaltação. NSpyros Lambrou! Então o sacana mudou de ideia. Não conseguia acreditar na sorte que estava a ter. Todos os meus problemas estão resolvidos. Posso embarcar a heroína e a velharia ao mesmo tempo.u

- Mas é claro. Terei muito prazer em falar no assunto. - Quando é que poderia encontrar-se comigo?

- Pode ser hoje à tarde?

<~Então ele está morto porfazerum acordo. Os cabrões dosricos são todas a mesma coisa. Nunca estão satisfeitos com o que tëm.»

- Óptimo. Onde?

-Porque é que não vem até ao meu escritório?

-Aí estarei. -Tony Rizzoli voltou a colocar o auscultador, entusiasmado.

No salão do hotel, um detective frustrado informava o quartel-general. - 0 Rizzoli acabou de receber um telefonema. Vai-se encontrar com alguém no escritório dessa pessoa, mas o homem não disse o nome e não podemos localizar a chamada.

- Tudo bem. Sigam-no quando sair do hotel. Informem-me do destino dele.

-Perfeitamente.

Dez minutos depois, Tony Rizzoli saía de gatinhas por uma janela da cave que dava para um beco nas traseiras do hotel. -Mudou de táxi duas vezes para ter a certeza de que não estava a ser seguido e dirigiu-se para o escritório de Spyros Lambrou. Desde o dia em que Spyros Lambrou visitara Melina no hospital, jurara vingar a irmã. Mas fora incapaz de pensar numa punição assaz terrível para Constantin Demiris. Depois, com a visita de Gino Laveri e a notícia sensacional que Madame Piris lhe dera, teve acesso a uma arma que ia destruir o cunhado. A secretária anunciou;

-Está aqui um senhor de nome Anthony Rizzoli que deseja vê-lo. Não tem hora marcada e eu disse-lhe que o senhor não podia... -Mande-o entrar.

-Com certeza.

Spyros Lambrou observou a entrada de Rizzoli, sorridente e confiante.

- Obrigado por ter vindo, senhor Rizzoli.

Tony Rizzoli deu um sorriso largo que lhe mostrou os dentes.

- 0 prazer é meu. Então sempre decidiu fazer negócio comigo, hem?

-Não.

0 sorriso de Tony Rizzoli desvaneceu-se. - Como disse?

-Eu disse que não. Não tenho intenções de fazer negócio consigo. Tony Rizzoli fitou, confundido.

-Então por que diabo me chamou? 0 senhor disse que tinha uma proposta a fazer-me e...

-E tenho. Gostava de usar afrota de navios de ConstantinDemiris?

Tony Rizzoli afundou-se numa cadeira.

- Constantin Demiris? De que é que está a falar? Ele nunca... -Claro que sim. Posso prometer-Ihe que o senhorDemiris ficará muito feliz por lhe dar tudo o que você quiser.

-Porquê? Que ganha ele com isso? -Nada.

-Isso não faz sentido. -Lambrou carregou no botão do intercomunicador. - Traga café, por favor, - Olhou para Tony Rizzoli. - Como é que gosta do seu?

-... puro, sem açúcar.

-Puro, sem açúcar, para o senhor Rizzoli.

Quando o café foi servido e a secretária saiu da sala, Spyros Lambrou disse;

-Vou contar-lhe uma pequena história, senhor Rizzoli. Tony Rizzoli observava-o, desconfiado.

-Vamos a isso.

- Constantin Demiris é casado com a minha irmã. Aqui há uns anos ele arranjou uma amante. Chamava-se Noelle Page.

-A actriz ?

- Sim. Ela enganou com um homem de nome Larry Douglas. Noelle e Douglas foram a julgamento por homicídio da mulher de Douglas, porque ela não lhe quis dar o divórcio. Constantin Demiris contratou um advogado de nome Napoleon Chotas para defender Noelle.

- Lembro-me de ter lido algo sobre o julgamento. -Há algumas coisas que não apareceram nos jornais.

-Sabe, o meuprezado cunhado não tinha intenção de salvar a vida da amante infiel. Queria vingança. Contratou o Napoleon Chotas para garantir a condenação de Noelle. Perto do fim do julgamento, o Napoleon Chotas disse aos réus que tinha feito um acordo com os juízes se eles assumissem a culpa. Era mentira. Eles assumiram a culpa. E foram executados.

- Talvez esse tal Chotas realmente pensasse que... -Deixe-me terminar, por favor, 0 corpo de Catherine nunca foi encontrado. A razão por que nunca foi encontrado, senhor Rizzoli, é porque ela está viva. 0 Constantin Demiris manteve-a escondida. Tony Rizzoli olhava fixamente para ele.

-Espere um minuto. 0 Demiris sabia que ela estava viva e deixou que a amante e o namorado morressem porque a assassinaram? -Exactamente. Não sei ao certo como é a lei, mas estou certo de que, se osfactos fossem conhecidos, o meu cunhado passaria uns bons anos na prisão. No mínimo, ficaria certamente arruinado.

Tony Rizzoli deixou-se ficar ali sentado, pensando no que acabara de ouvir. Havia algo que o intrigava.

-Senhor Lambrou, por que me está a contar tudo isto?

Os lábios de Spyros Lambrou moveram-se num sorriso beatífico. -Porque devo um favor ao meu cunhado. Quero que vá falar com ele. Tenho um pressentimento de que ele com todo o prazer o deixará usar os navios dele. Havia tempestades assolando o seu interior que não conseguia controlar, um centro frio bem no seu fundo, sem memórias quentes para dissolvê-lo. Começaram há um ano com o seu acto de vingança contra Noelle. Ele pensara que isso tinha terminado, que o passado estava enterrado. Nunca lhe ocorrera que pudesse haver repercussões até que, inesperadamente, Catherine Alexander regressara à sua vida. Isso solicitara o afastamento de Frederick Stavros e Napoleon Chotas. Eles haviam encetado um jogo mortal contra ele, e ele vencera. Mas o que surpreendera Constantin Demiris foi o quanto ele gostara do risco, o fio cortante da excitação. Os negócios eram fascinantes, mas em nada se comparavam ao jogo da vida e da morte. <•Eu sou um assassino», pensouDemiris. «Não, não um assassino. Um carrasco.» E, em vez de ficar aterrado pelo facto, ele achavam divertido. Constantin Demiris recebia um relatório semanal das actividades de Catherine Alexander. Até agora, tudo corria perfeitamente. As suas actividades sociais limitavam-se às pessoas com quem ela trabalhava. De acordo com Evelyn, Catherine saía ocasionalmente com Kirk Reynolds. Mas, como Kirk trabalhava para Demiris, isso não apresentava problema. «A pobre rapariga deve estar desesperada», pensou Demiris. Reynolds era um chato. Só sabia falar de leis. Mas isso atévinha a calhar. Quanto mais desesperada Catherine estivesse por ter companhia, mais fácil seria para ele. ~~Devo ao Reynolds um voto de agradecimento.» Catherine encontrava-se com Kirk Reynolds regularmente, e sentia-se cada vez mais atraída por ele. Ele não era bonito, mas era certamente atraente. «Parabonitojá me chegou o Larry», pensou Ca therine com desagrado. «0 velho pravérbio é verdadeiro»: A nobreza de cada provém da sua virtude. Kirk Reynolds era atencioso e de confiança. «E alguém com quem posso contar», pensou Catherine. «Não sinto nenhuma centelha ard nte, mas é provável que nunca mais venha a senti-la. 0 Lorry encarregou-se disso. Tenho a experiência necessária para escolher um homem que eu respeite, que me respeite como companheira, alguém com quem eu possa partilhar uma vida sã e agradável sem estar com a preocupação de que me atirem do cimo duma montanha ou me queimem em grutas escuras.» Foram ao teatro verA Dama náo É para Queimar, de Christopher Fry, e, noutra noite, Mar de Setembro, com Gertrude Lawrence. Iam a clubes nocturnos. Parecia que todas as orquestras só tocavam oTema do Terceiro Homem e La Vie En Rose.