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-Vou a St. Moritz para a semana-disse Kirk Reynolds a Catherine. -Já te decidiste?

Catherine pensara muito no assunto. Tinha a certeza de que Kirk Reynolds estava apaixonado por ela.

«E eu amo-o», pensou Catherine. «Mas amar e estar apaixonada são duas coisas bem diferentes, não são? Ou serei eu apenas uma romântica parva? De que ando eu à procura-de outro Lorry?-de alguém que me deixe empolgada, se apaixone por outra mulher e me tente matar? Kirk Reynolds poderia ser um marido maravilhoso. Porque é que eu hesito?»

Nessa noite Catherine e Kirk jantaram no Mirabelle's e, durante a sobremesa, Kirk disse:

-Catherine, caso não saibas, estou apaixonado por ti. Quero casar-me contigo.

Ela sentiu um pânico repentino.

- Kirk... - E não estava certa do que ia dizer. «As minhas próximaspalavras», pensou Catherine, «vão mudar a minhavida. Seria tão simples dizer que sim. 0 que é que me impede? É o medo do passado? Vou viver o resto da minha vida amedrontada? Não posso deixar que isso aconteça.» , -Cathy...

- Kirk.., por que não vamos os dois a St. Moritz? 0 rosto de Kirk iluminou-se.

-Isso quer dizer,..?

-Veremos. Quando me vires a esquiar, provavelmente não vais querer casar comigo.

-Kirk riu-se. -Nada no mundo me poderia impedir de querer casar contigo. Tu fizeste de mim uma pessoa muito feliz. -Vamos no dia cinco de Novembro-no Dia de Guy Fawkes. - 0 que é o Dia de Guy Fawkes?

- É uma história fascinante. 0 rei James impôs uma rigorosa política anticatólica, deforma que um grupo de proeminentes católicos romanos conspiraram o derrube do governo. Um soldado chamado Guy Fawkes foi trazido de Espanha para encabeçar a conspiração. Arranjou uma tonelada de pólvora, distribuída por sessenta e seis barris, que seria escondida na cave da Casa dos Lordes. Mas, na manhã em que iam explodir a Casa dos Lordes, um dos conspiradores denunciou-os e eles foram todos presos. Guy Fawkes foi torturado, mas não quis confessar. Os homens foram todos executados. Agora, todos os anos na Inglaterra, o dia da descoberta da conspiração é celebrado com fogueiras e fogo-de-artifício, e os miúdos fazem efígies do Guy. Catherine sacudiu a cabeça.

-É um feriado bastante desagradável. Ele sorriu e disse ternamente:

-Prometo que o nosso não vai ser desagradável.

Na noite da véspera da partida, Cather ne lavou a cabeça, fez e desfez a mala duas vezes e sentiu-se agitada pela excitação. Na vida apenas conhecera carnalmente dois homens: William Fraser e o marido. «Ainda se usam palavras como carnalmente?» Catherine interrogou-se. «Meu Deus, espero não me ter esquecido. Dizem que é como andar de bicicleta; assim que se experimente, nunca mais se esquece. Talvez vá ficar desapontado comigo na cama. Talvez eu deva deixar-me de preocupar com isso e dormir.»

- Senhor Demiris ? - Sim.

-A Catherine Alexander partiu esta manhã para St. Moritz. Houve um silêncio.

- St. Moritz ? -Sim, senhor. -Foi sozinha? -Não, senhor. Foi com o Kirk Reynolds.

Desta vez o silêncio foi mais longo. - Obrigado, Evelyn. Kirk Reynolds! Era impossível. Que poderia ela ver nele? «Esperei tempo de mais. Devia ter agido mais depressa. Terei de fazer qualquer coisa. Não posso permitir que ela...» A secretária tocou a campainha.

- Senhor Demiris, está aqui um senhor Tony Rizzoli que deseja vê-lo. Não tem hora marcada e...

- Então porque é que você me está a incomodar? - Demiris perguntou. Desligou o intercomunicador repentinamente,

Tornou a tocar.

-Peço desculpa por incomdaá-lo. 0 senhor Rizzoli diz que traz um recado para si do senhor Lambrou. Diz que é muito importante. «Um recado?» Estranho. Por que não vinha o próprio cunhado dar o recado?

-Ele que entre. - Sim, senhor.

Tony Rizzoli foi conduzido ao gabinete de Constantin Demiris. Percorreu os olhos pelo gabinete apreciativamente. Era ainda mais pródigo que os gabinetes de Spyros Lambrou,

-Foi simpático de sua parte receber-me, senhor Demiris. Tem dois minutos.

-Quem me mandou vir cá foi o Spyros. Ele é da opinião de que eu e o senhor temos de conversar.

- Não me diga? E vamos falar de quê? -Importa-se que eu me sente?

- Não acho que vá ficar aqui tempo suficiente para isso.

Tony Rizzoli instalou-se numa cadeira de frente para Demiris. -Eu tenho uma fábrica de manufactura, senhor Demiris. Envio coisas para várias partes do mundo.

-Estou a ver. E quer fretar um dos meus navios. -Exactamente.

-Porque é que o Spyros o mandou vir ter comigo? Porque é que não freta um dos navios dele? Ele por acaso até tem dois parados neste momento.

Tony Rizzoli encolheu os ombros.

-Parece-me que ele não gosta do que eu envio. -Não entendo. 0 que é que você envia?

- Drogas - disse Tony Rizzoli delicadamente. -Heroína. Constantin Demiris fitava-o sem acreditar.

-E você espera que eu...? Ponha-se daqui para fora antes que eu chame a polícia.

Rizzoli fez um movimento com a cabeça na direcção do telefone. -Não demore.

Observou Demiris a alcançar o telefone.

-Eu também gostava de falar com eles. Gostava de lhes contar sobre o julgamento de Noelle Page e Lorry Douglas.

Constantin Demiris ficou paralisado. - De que é que está a falar?

- Estou a falar de duas pessoas que foram executadas pelo homicídio de uma mulher que ainda está viva.

0 rosto de Constantin Demiris empalidecera.

- Acha que a polícia venha a mostrar-se interessada por essa história, senhor Demiris? Se não se mostrar, talvez a imprensa, não? Já estou a ver os títulos, e o senhor? Posso tratá-lo por Costa? 0 Spyros disse-me que todos os seus amigos o tratam por Costa, e eu acho que nós os dois vamos ser bons amigos. Sabe porquê? Porque os bons amigos não se traem uns aos outros. Vamos fazer dessa presazita de que o senhor foi autor o nosso segredo, está bem?

Constantin Demiris estava sentado rígido na cadeira. -Quando falou, foi com uma voz rouca. -0 que é que você quer? -Já lhe disse. Quero fretar um dos seus barcos... e, como somas bons amigos, acho que não me vai cobrar nada pelofrete, pois não?Digamos que se trata de um favor em troca de outro favor.