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A refeição foi soberba, mas Catherine estava nervosa de mais para apreciar. Quando acabaram, Reynolds disse:

- Vamos subir? Arranjei-te uma lição de esqui para logo de manhã.

-Certo. Óptimo. Certo.

Começaram a subir as escadas, e Catherine sentiu que o coração lhe batia depressa no peito. «Ele vai dizer, "Vamos já para a cama". E porque não? Foi para isso que eu vim aqui, não foi? Não posso fazer de conta que vim para aqui esquiar.»

Chegaram à suite, e Reynolds abriu a porta e acendeu as luzes. Foram para o quarto e Catherine fixou o olhar na cama enorme. Parecia ocupar o quarto todo.

Kirk observava-a.

- Catherine... estás preocupada com alguma coisa?

-0 quê?-Uma risadinha oca. -Claro que não. Eu... eu só... -Só o quê?

Ela deu-lhe um sorriso alegre. -Nada. Estou bem.

- Óptimo. Vamos despir-nos para nos deitarmos. HExactamente aquilo que eu sabia que ele ia dizer. Mas será que ele precisava de dizer? Bastava-nos ter seguido em frente e tê-lo feito. Falar disso é tão... tão.., grosseiro.»

- 0 que é que disseste?

Catherine não se apercebera de que falara em voz alta. -Nada.

Catherine chegara-se ao pé da cama. Era a maior que já vira. Era uma cama que tinha sido construída para amantes, só para amantes. Não era uma cama para dormir. Era uma cama para...

-Não te vais despir, querida?

«Vou? Há quanto tempo não durmo com um homem? Há mais de um ano. E ele era meu marido.»

- Cathy..,?

-Sim. Vou despir-me, e vou meter-me na cama, e vou desiludir-te. Não estou apaixonada por ti, Kirk. Não consigo dormir contigo. Kirk...

Ele voltou-se para ela, meio despido. -Sim?

-Kirk, eu... Perdoa-me. Tuvais ficar-me a odiar, mas não... não consigo, Peço imensa desculpa, Deves pensar que sou...

Ela viu o ar de desapontamento no rosto dele. Ele forçou um sorriso.

-Cathy, eu disse-te que teria paciência. Se ainda não estás disposta, eu... entendo. Mesmo assim podemos passar aqui um tempo maravilhoso.

Ela beijou-lhe a face agradecidamente.

- Oh, Kirk. Obrigada. Sinto-me tão ridícula. Não sei o que se passa comigo.

- Não se passa nada contigo - garantiu-lhe. -Eu entendo. Ela abraçou-ó.

-Obrigada. Es um anjo.

-Entretanto - ele suspirou -,fico a dormir no sofá da sala. - Não vais nada - declarou Catherine. - Como a responsável por este problema estúpido sou eu, o mínimo que posso fazer é garantir o teu conforto. Quem dorme no sofá sou eu. Tu ficas com a cama. -De maneira nenhuma. Catherine estava deitada na cama, bem desperta, pensando em Kirk Reynolds. «Serei capaz devoltarafazer amor com outro homem? Ou o Larry extingiu essa chama dentro de mim? Talvez, de certo modo, o Larry tenha mesmo conseguido matar-me» Catherine acabou por adormecer. Kirk Reynolds foi acordado a meio da noite pelos gritos. Sentou-se no sofá, e, como os gritos continuavam, foi a correr para o quarto. Catherine rebolava na cama, os olhos firmemente cerrados.

-Não -gritava ela. -Não! Não! Deixa-me em paz! Reynolds ajoelhou-se, pôs os braços à volta dela e abraçou-a. - Shhh - disse ele. -Pronto. Já passou.

0 corpo de Catherine estava destroçado com soluços, e ele ficou abraçado a ela até passarem.

-Eles... tentaram afogar-me.

-Foi apenas um sonho -disse ele brandamente. -Tiveste um sonho mau.

Catherine abriu os olhos e sentou-se. 0 seu corpo tremia.

- Não, não foi um sonho, Aconteceu. Eles tentaram matar-me. Kirk olhava para ela, intrigado.

- Quem é que te quis matar?

- O meu... o meu marido e a amante dele. Ele sacudiu a cabeça.

-Catherine, tu tiveste um pesadelo, e...

- Estou a dizer a verdade. Eles tentaram matar-me, e foram executados por causa disso.

0 rosto de Kirk estava cheio de incredulidade. -Catherine...

-Eu não te contei antes, porque custa-me muitofalar no assunto. De repente apercebeu-se de que ela falava a sério.

- Que é que aconteceu?

-Eu não quis dar o divórcio ao Lorry, e ele... estava apaixonado por outra mulher, e eles decidiram matar-me.

Kirk estava agora a escutar concentradamente. - Quando é que foi isso?

-Há um ano.

-0 que é que lhes aconteceu? -Foram... foram executados pelo estado. Ele ergueu uma mão.

-Espera um minuto. Eles foram executados por tentativa de homicídio?

- Foram. Reynolds disse:

- Eu não sou nenhum perito em direito grego, mas estou disposto a apostar que não há sentença de morte por tentativa de assassínio. Deve haver algum engano. Conheço um advogado em Atenas. Por acaso ele até trabalha no Ministério da Justiça. Vou telefonar-lhe amanhã de manhã e esclarecer isto. 0 nome dele é Peter Demonides.

Catherine estava ainda a dormir quando Kirk Reynolds acordou. Vestiu-se em silêncio e foi até ao quarto. Ficou lá um momento, a olhar para Catherine. «Amo-a tanto. Tenho de descobrir o que aconteceu e afastar as sombras que a perseguem.» Kirk Reynolds foi até ao salão do hotel e pediu uma chamada paraAtenas.-Gostaria que fosse pessoal, telefonista. Quero falar com Peter Demonides. A chamada chegou meia hora depois.

- Senhor Demonides? Aqui fala Kirk Reynolds. Não sei se está lembrado de mim, mas...

- Claro que sim. Você trabalha para o Constantin Demiris. - Exacto.

- Que posso fazer por sim. Senhor Reynolds?

- Perdoe-me estar a incomodá-lo, mas é que fiquei um tanto espantado com uma coisa que acabei de ouvir. Tem a ver com um ponto da lei grega.

- Sei um pouco de lei grega - disse Demonides jovialmente. - Terei prazer em ajudá-lo.

-Há alguma coisa na vossa lei que permita a execução de uma pessoa por tentativa de homicídio?

Houve um longo silêncio no outro lado da linha.

- Posso perguntar-lhe por que está a querer saber isso? -Estou com uma mulher de nome Catherine Alexander. Parece que ela pensa que o marido e a amante foram executados pelo estado por tentarem matá-la. Não parece lógico. Percebe o que eu quero dizer?

-Percebo.-Avoz de Demonides era atenciosa.-Entendo o que quer dizer. Onde é que se encontra, senhor Reynolds?

-Estou hospedado no Hotel Palace em St. Moritz. -Deixe-me só fazer uma consulta, e já lhe volto a ligar. - Ficaria muito agradecido. A verdade é que penso que a Catherine está a imaginar coisas, e eu gostava de esclarecer isto para tranquilizá-la.

-Entendo. Vai ter notícias minhas. Prometo-lhe.

0 ar estava brilhante e revigoraste, e a beleza dos arredores de Catherine disseminava os seus terrores da noite anterior. Os dois tomaram o pequeno-almoço na aldeia, e quando acabaram, Reynolds disse:

-Vamos até à descida da neve e fazer de ti uma coelhinha de neve.

Ele levou Catherine até à descida dos principiantes e contratou um instrutor para ela.

Catherine enfiou os esquis e levantou-se. Olhou para os pés.

- Isto é ridículo. Se Deus quisesse que tivéssemos este aspecto, os nossos pais teriam sido àrvores.

-0 quê? -Nada, Kirk. 0 instrutor sorriu.

-Não se preocupe. Daqui a nada, estará a esquiar como uma profissional. Vamos começar na Corviglia Sass Ronsol. É a descida dos principiantes.

- Vais ficar surpreendida pela rapidez com que vais adquirir o jeito -Reynolds garantiu a Catherine.

Ele olhou para a pista de esqui ao longe e virou-se para o instrutor.

-Acho que vou tentar a Fuorcla Grischa hoje.

-Parece delicioso. Vou pedir a minha grelhada-disse Catherine.

Nem um sorriso.

-É uma pista de esqui, querida.

-Oh. -Catherine sentiu-se embaraçada para lhe dizer que era uma piada. «Não devo fazer isso com ele, pensou Catherine.

0 instrutor disse:

-A Grischa é uma óptima pista íngreme. Pode começar na Corviglia Standard Marguns para aquecer, senhor Reynolds.

-Boa ideia. Vou fazer isso. Catherine, encontramo-nos no hotel à hora do almoço.

- Está bem.

Reynolds acenou e afastou-se.