-Henry saiu de novo estamanhã-disse-lhe ela.-Foifazer essa perfuração estúpida-acrescentou maliciosamente. -Ele devia era fazer mais perfuração em casa.
Demiris ficou sem resposta.
- 0 geólogo era um homem importante na hierarquia da companhia, e Demiris não fazia tenções de se envolver com a mulher de Potter e pôr em perigo o seu emprego, No sabia exactamente como, mas tinha a certeza de que de uma maneira ou de outra este trabalho ia ser o seu passaporte para tudo com o que sonhara. 0 petróleo era o futuro e ele estava determinado a ser parte do mesmo.
Era meia-noite quando Sybil Potter mandou chamar Demiris. Ele entrou no complexo onde ela residia e bateu à porta. -Entre.-Sybil traziauma camisa de noitetransparente que infelizmente não escondia nada,
-Eu ... a senhora queria falar comigo?
-Queria, Costa, entre. Este candeeiro da mesinha de cabeceira parece que não funciona.
Demiris desviou o olhar e caminhou até ao candeeiro. Agarrou-o para examiná-lo.
-Não tem lâmpada... -E sentiu o corpo dela contra as suas costas e as mãos a apalpá-lo. - Senhora Potter...
Os lábios dela estavam sobre os dele e começou a empurrá-lo para cima da cama. E ele não teve controlo do que se passou a seguir. Estava nu e a afundar-se dentro dela e ela gritava de satisfação. - Isso mesmo! Oh, isso mesmo! Meu Deus, há tanto tempo! Ela deu um último grito sufocado e estremeceu. -Oh querido, eu amo-te. Demiris estava deitado em pânico. «0 que é que eu fiz? Se o Potter descobre, estou frito •> Como se lesse o seu pensamento, Sybil Potter deu um risinho. -Este vai ser o nosso segredinho, não , querido? 0 segredinho deles manteve-se durante os vários meses que se seguiram. Demiris não conseguia evitá-la e, como o marido se ausentavadurante dias consecutivos nas suas explorações, Demiris no conseguia pensar numa desculpa para evitar ir para a cama com ela. 0 pior era que Sybil Potter se apaixonara loucamente por ele.
-Tu és bom de mais para trabalhares num lugar como este, querido - disse-lhe ela. -Eu e tu vamos voltar para a Inglaterra. -A minha casa é na Grécia.
-Já não . -Ela acariciou o seu carpo longo e magro. -Tu vais regressar comigo. Divorcio-me do Henry e nós casamo-nos. Demiris teve uma sensão repentina de pânico.
-Sybil, eu.., eu não tenho dinheiro. Eu... Ela correu os lábios pelo tronco dele.
-Isso não é problema. Eu sei como é que podes ganhar dinheiro, querido.
- Sabes?
Ela sentou-se na cama.
-A noite passada, o Henry disse-me que tinha descoberto um novo campo de petróleo enorme. Ele é muito bom nisso, sabes. Seja como for, parecia excitadíssimo com o facto. Fez o relatório antes de sair e pediu-me que o enviasse no correio da manhã. Tenho-o aqui. Gostavas de vê-lo? 0 coração de Demiris começou a bater mais depressa. -Sim, Eu ... gostava. Viu-a sair da cama e mover-se pesadamente até uma mesinha danificada situada a um canto. Tirou um grande envelope amarelo e trouxe-o para a cama.
-Abre-o.
Demiris hesitou apenas por um instante. Abriu o envelope e tirou os papéis que estavam lá dentro. Havia cinco folhas. Leu-as rapidamente, depois voltou ao início e leu todas as palavras.
- Essa informação vale alguma coisa?
«Essa informação vale alguma coisa?» Era um relatório sobre um campo novo que poderia possivelmente vir a ser um dos mais ricos campos petrolíferos da história. Demiris engoliu em seco. -Sim. Podia valer.
-Pronto, aí tens-disse Sybil num tom feliz. -Agora temos dinheiro.
Ele suspirou.
-As coisas não são assim tão simples. -Por que não?
Demiris explicou.
-Isto tem valor para qualquer pessoa que possa comprar opções na terra que circunda esta área. Mas isso exige dinheiro. -Ele tinha um saldo de trezentos dólares no banco.
-Oh, não te preocupes com isso. 0 Henry tem dinheiro. Eu passo um cheque. Chegam cinco mil dólares?
Constantin Demiris não podia acreditar no que ouvia. - Sim. Eu... eu não sei o que dizer.
-É para nosso bem, querido. Pelo nosso futuro. Ele sentou-se na cama muito pensativo.
-Sybil, achas que podias aguentar esse relatório por um ou dois dias?
-Claro. Vouguardá-loaté sexta-feira.Isso dá-tetempo, querido? Ele abanou a cabeça lentamente.
-Isso dá-me tempo suficiente.
Com os cinco mil dólares que Sybil lhe deu, «não, não é um presente, é um empréstimo, disse a si próprio», Constantin Demiris comprou opções em hectares da terra em redor da nova descoberta potencial. Alguns meses depois, quando os jorros começaram a sair do campo principal, Constantin Demiris tornou-se, instantaneamente, num milionário. Devolveu a Sybil Potter os cinco mil dólares, enviou-lhe uma camisa de noite nova e regressou à Grécia. Ela nunca mais o viu. Há uma teoria que diz que na natureza nada se perde - que todos os sonsproduzidos, todas aspalavrasproferidas existem aindaalgures no espaço e no tempo e poderão um dia ser lembrados. Antes da invenção da rádio, diz-se, quem teria acreditado que o ar à nossa volta estava cheio de sons de música, de notícias e de vozes de todo o mundo? Um dia seremos capazes de viajar no tempo e ouvir o discurso de Lincoln em Gettysburgo, a voz de Shakespeare, o Sermão da Montanha... Catherine Alexander ouvia vozes do seu passado, mas eram abafadas e fragmentadas, e enchiam-na de confusão...
-Sabes que és uma rapariga muito especial, Cathy? Sentiam desde a primeira vez que te vi...
-Acabou-se. Quero divorciar-me... Amo outra pessoa...
-Eu sei que me tenho comportado mal... Gostava de reparar os meus erros.
-Ele tentou matar-me.
- Quem é que tentou matar-te? - 0 meu marido.
As vozes persistiam. Eram uma tormenta. 0 seu passado tornou-se um caleidoscópio de imagens móveis que se precipitavam continuamente no seu pensamento. 0 convento devia ter sido um abrigo maravilhoso e poeto, mas tornara-se repentinamente uma prisão. <•0 meu lugar não é aqui. Mas onde é o meu lugar?~ Ela não fazia ideia. Não havia espelhos no convento, mashaviaum lago reflector láfora, perto do jardim. Catherine, cautelosamente, evitara, receosa daquilo que ele pudesse revelar-lhe. Mas nestamanhãfoiaté lá, ajoe lhou-se lentamente e olhou para baixo. O lago reflectiu uma mulher
bronzeada de aspecto maravilhoso, de cabelo preto, feições perfeitas e uns solenes olhos cinzentos que pareciam cheios de dor.., mas talvez isso fosse uma mera ilusão da água. Viu uma boca generosa que parecia pronta a sorrir, e um nariz ligeiramente arrebitado -uma mulher bonita com pouco mais de trinta anos. Mas uma mulher sem passado e sem futuro. Uma mulher perdida. HPreciso de alguém que me ajude», pensou Catherine desesperadamente, «alguém com quem eu possa conversar.» Entrou na sala da Irmã Teresa.
-Irmã...
- Sim, minha filha?
-Eu.., acho que gostava de consultar um médico. Alguém que me possa ajudar a descobrir quem eu sou.
A Irmã Teresa olhou para ela durante um longa momento, -Senta-te.
Catherine sentou-se na dura cadeira que se encontrava á frente da velha escrivaninha, marcada pelo tempo.
A Irmã Teresa disse calmamente:
-Minha querida, Deus é o nosso médico. A seu tempo Ele fará com Sue saibas o que Ele te reserva. Além disso, não são permitidos estranhos dentro destas paredes.
Catherine teve um lampejo de memória repentino... uma vaga imagem de um homem que falava com ela no jardim do convento, entregando-lhe qualquer coisa.„ mas depois a lembrança desapareceu. - 0 meu lugar não é aqui.
- Qual o teu lugar? E esse era o problema.
-No estou certa. Ando à procura de algo. Perdoe-me, Irmã Teresa, mas sei que não está aqui.
A Irmã Teresa analisava-a, o seu rosto pensativo. -Eu compreendo. Se saísses daqui, para onde irias? - Não sei.
-Deixa-me pensar no assunto, minha filha. Voltaremos a falar em breve.
-Obrigada, Irmã.
Quando Catherine saiu, a Irmã Teresa permaneceu sentada à secretária durante muito tempo, com o olhar fixo no vazio. Era uma decisão difícil que ela tinha de tomar. Por fim, alcançou um pouco de papel e uma caneta e começou a escrever. «Prezado Senhor», principiou ela. •Aconteceu algo, que sinto o dever de chamar a sua atenção. A nossa amiga comum informou-mede que pretende abandonar o convento. Porfavor diga-me o que devo fazer.» Ele leu o bilhete uma vez, e depois recostou-se na cadeira, analisando as consequências do recado. «Com que então! A Catherine Alexander quer regressar do mundo dos mortos. É pena. Terei de livrar-me dela. Com cautela. Com muita cautela.» Na manhã seguinte, Demiris mandou o motorista levá-lo a Janina.Enquanto atravessava o campo, Constantin Demiris pensava em Catherine Alexander. Lembrava-se de como ela estava bonita quando ele a viu pela primeira vez. Era inteligente, engraçada e alegre, e estava excitada par se encontrar na Grécia. «Ela tivera tudo»,pensou Demiris. E depois os deusesvingaram-se. Catherine fora casadacom um dos seus pilotos, e o casamento deles tornara-se um inferno vivo. Quase da noite para o dia ela envelhecera dez anos e tornara-se uma bêbeda gorda e desgrenhada. Demiris suspirou. NQue desperdício.» Demiris estava sentado na sala da Irmã Teresa.