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- E daí?

-Soubemos que o senhor Demiris deu ordens para que o navio fizesse um desvio para Atenas. Irá atracar lá domingo de manhã e parte domingo à noite. 0 Constantin Demiris pretende estar a bordo quando ele partir.

- 0 quê?

- Ele está a fugir. -Mas nós temos um...

-0 senhor Lambrou disse para o informar de que o Demiris está a pensar esconder-se nos Estados Unidos até achar uma maneira de se ver livre de si.

- 0 filho da puta quer fugir! - Estou a ver. Agradeça ao senhor Lambrou em meu nome. Diga-lhe que fico muito agradecido.

-0 prazer é dele.

Rizzoli pousou o auscultador.

- Está tudo bem, senhor Rizzoli?

- 0 quê? Claro. Está tudo bem. - E estava.

Quanto mais Rizzoli pensava no telefonema mais satisfeito ficava. Ele fez que Constantin Demiris fugisse de medo. Isso iria facilitar-lhe o controlo do outro. Domingo. Tinha dois dias para fazer os seus planos. Rizzoli sabia que tinha de ser cuidadoso. Estava a ser seguido fosse para onde fosse. <~Sacanas dos polícias do Keystone~, pensou Rizzoli desdenhosamente. «Quando chegar a hora, vou desembaraçar-me deles.» Logo na manhã seguinte, Rizzolifoi até à cabina telefónica daRua Kifissias e marcou o número do Museu Nacional de Atenas. No reflexo de vidro Rizzoli via um homem que fingia estar a olhar para uma montra, e do outro lado da rua um outro homem que conversava com uma florista. Os dois homens faziam parte da equipa que o vigiava. NDesejo-lhes boa sorte», pensou Rizzoli.

- Gabinete do conservador. Tenha a bondade de dizer. -Victor? É o Tony.

-Passa-se alguma coisa? -Houve um pânico repentino na voz de Korontzis.

-Não-disse Rizzoli num tom brando. -Está tudo bem. Victor, estás a ver aquele vaso bonito com figuras vermelhas?

-A ânfora Ka.

- Essa mesmo. Vou buscá-la aí hoje à noite. Houve uma longa pausa.

-Hoje à noite? Não... não sei, Tony.-Avoz de Korontzis tremia. - Se alguma coisa correr mal...

-Pronto, pá, esqueça. Eu estava a tentar fazer-lhe um favor. DiI ga ao Sal Prizzi que não tem o dinheiro, e ele que faça o que bem lhe... -Não, Tony. Espere. Eu... eu... -Houve outra pausa.

- Está bem.

-Tem a certeza de que está tudo bem, Victor? Porque se não quer fazê-lo, basta dizer, e eu volto para os Estados Unidos, onde não tenho problemas destes. Não tenho necessidade de passar por todo este aborrecimento, sabe. Eu posso...

-Não, não. Reconheço tudo o que está a fazer por mim, Tony. A sério, Hoje à noite estará muito bem.

- Óptimo. Quando o museu fechar, só tem que substituir o vaso verdadeiro por uma cópia.

-Os guardas inspeccionam todos os embrulhos que saem daqui. - E depois? Os guardas são alguns peritos em arte?

-Não. Claro que não, mas...

-Tudo bem, Victor, ouça-me. Arranje uma facturapara uma das cópias e ponha-a com o original num saco de papel. Percebe?

- Sim. Eu... entendo. Onde é que nos encontramos?

-Nós não nos vamos encontrar. Saia do museu às seis horas. Vai estar um táxi à frente. Traga o embrulho consigo. Diga ao motorista que o leve ao Hotel Grande Bretagne. Diga-lhe que espere por si, Deixe o embrulho no carro. Entre no hotel e tome uma bebida. Depois disso, vá para casa. Mas o embrulho...

- Não se preocupe. Alguém se encarregará dele. Victor Korontzis suava.

-Nunca me meti numa coisa destas, Tony, Nunca roubei nada. Toda a minha vida...

- Eu sei - disse Rizzoli num tom brando. - Eu também não. Lembre-se, Victor, de que quem está a correr todos os riscos sou eu, e não ganho nada com isso.

A voz de Korontzis interrompeu.

-Você é um grande amigo, Tony. 0 melhor amigo que já tive. - Contorcia as mãos. -Faz alguma ideia de quando é que eu recebo 0 meu dinheiro?

- Muito em breve - Rizzoli assegurou-lhe. - Quando isto chegar ao fim, você não vai ter mais preocupações, -«E eu também não», pensou Rizzoli exultantemente. «Nunca mais.»

Dois navios cruzeiro fundearam no porto de Piraeus nessa tarde, e consequentemente o museu estava cheio de turistas. Geralmente Victor Korontzis gastava de estudá-los, tentando adivinhar como eram as suas vidas. Havia americanos e ingleses, e visitantes de uma dúzia de outros países. Desta vez Korontzis estava demasiado assustado para pensar neles. Olhou para os dois mostruários onde se vendiam cópias de antiguidades. Havia uma multidão em redor dos mesmos, e as duas vendedoras tentavam atarefadamente dar vencimento aos pedidos. «Talvez esgotem», pensou Korontzis esperançosamente, «e assim não poderei cumprir o plano de Rizzoli.» Mas ele sabia que estava a ser irre.llista. Havia centenas de réplicas armazenadas na cave do museu. íl vaso que Tonylhe pedira para roubar eraum dosgrandes tesouros do museu. Era do século quinze a.C., uma ânfora com figuras mitolóíricasvermelhas pintadas sobre uma base negra. Aúltima vez que Victor lhe tocara fora há quinze anos quando reverentemente a colocara no interior davitrinapara serfechadapara sempre. «E agoravou roubá-la», pensou Korontzis desditosamente. «Que Deus me ajude.» Foi atordoadamente que Korontzis passou a tarde, aterrorizado com o momento em que se tornaria um ladrão, Voltou ao gabinete, fechou a porta e sentou-se à secretária, desesperado. «Não posso fazê -lo», pensou. «Tem de haver outra saída. Mas qual?» Não conseguia pensar noutra maneira de arranjar aquela quantidade de dinheiro. Ainda ouvia a voz de Prizzi. «Ou você me dá o dinheiro hoje à noite ou vai servir de alimento para os peixes. Está a perceber?» 0 homem era um assassino. Não, não tinha outra escolha. Uns minutos antes das seis, Korontzis saiu do gabinete. As duas vendedoras de réplicas de artefactos estavam a começar a arrumar. - Signomi - Korontzis chamou. - Um amigo meu faz anos. Achei que lhe devia oferecer uma coisa aqui do museu. -Caminhou até à vitrina a fingir estudá-la. Havia vasos e bustos, taças, livros e mapas. Olhou em pormenor como se tentasse decidir o que escolher. Por fim, apontou para a cópia da ânfora vermelha.

-Acho que vai gostar desta:

-Tenho a certeza de que vai-disse a mulher. Tirou-a da vitrina e entregou-a a Korontzis.

- Pode passar-me um recibo, por favor?

-Certamente, senhor Korontzis. Quer que embrulhe para oferta? -Não, não-disse Korontzis rapidamente. -Meta-me só num saco.

Viu-a colocar a réplica num saco de papel e meter o recibo. - Obrigado.

-Espero que o seu amigo goste.

-De certo irá gostar. -Pegou no saco, com as mãos a tremer, e regressou ao gabinete.

Trancou a porta, depois retirou o vaso de imitação do saco e colocou-o sobre a secretária. «Ainda não é demasiado tarde», pensou Korontzis, Ainda não cometi nenhum crime. Estava numa agonia de decisão. Uma série de pensamentos aterradores passavam-lhe pela cabeça. «Eu podia fugir para outro país e abandonar a minha mulher e os meus filhos. Ou podia suicidar-me. Podia ir à polícia e dizer-lhes que estou a ser ameaçado. Mas, quando os factos forem descobertos, estarei perdido. Não, não havia saída.» Se não pagasse o dinheiro que devia, sabia que Prizzi o mataria. «Graças a Deus>~, pensou ele, «pelo meu amigo Tony. Sem ele, eu seria um homem morto. Olhoupara o relógio. Horas de avançar. Korontzis pôs-se de pé, as pernas trémulas. Ficou por ali, a respirar fundo, tentando acalmar-se. As mãos estavam húmidas com suor. Limpou-as à camisa. Voltou a pôr a réplica no saco de papel e encaminhou-se para a porta. Havia um guarda parado à porta da rua que saía às seis, depois de o museu fechar, e outro guarda que fazia as rondas, mas tinha meia dúzia de salas para percorrer. Agora devia estar no extremo do museu.

Korontzis saiu do gabinete e deu de frente com o guarda. Ia começar a pedir desculpa.

-Desculpe-me, senhor Korontzis. Não sabia que o senhor ainda cá estava.

- É, eu... estou a preparar-me para sair.

- Sabe - disse o guarda com admiração -, eu invejo o senhor. «Se ele soubesse

- Não me diga. Porquê?

-0 senhor sabe tanto sobre estas coisas bonitas. Eu ando por aqui e olho para elas e para mim são todas peças históricas, não são? Não sei muito sobre elas. Talvez um dia o senhor me possa explicar. Eu realmente...