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-Vamos ter companhia esta noite. Uns executivos da sede. Quero que faças o papel de anfitriã.

Havia tanto tempo que ela desempenhara as funções de anfitriã para o marido. Melina sentiu-se animada. Talvez isto altere as coisas. 0 jantar dessa noite não modificou nada. Chegaram três homens, jantaram e partiram. 0 jantar foi uma névoa. Melina foi superficialmente apresentada aos homens e permaneceu sentada enquanto 0 marido os fascinava. Ela quase se esquecera do carisma de Costa. Ele contou histórias divertidas e elogiou-os profusamente, o que muito lhes agradou. Estavam na presença de um grande homem e mostraram que estavam conscientes do facto. Melina não teve uma oportunidade para falar. De todas as vezes que começava a dizer alguma coisa, Costa interrompia-a, até que por fim permaneceu em silêncio. «Porque quis ele a minha presença?•~ Melina interrogou-se. No fim da noite, quando os homens saíam, Demiris disse: -Vocês partem para Londres logo de manhã. Tenho a certeza de que se encarregarão de tudo o que precisa de ser feito. E partiram. A delegação chegou a Londres na manhã seguinte. Eram três, todos de nacionalidades diferentes. 0 americano, Jerry Haley, era um homem alto e musculoso, com um rosto amistoso e franco e uns olhos cinzento-azulados. Tinha as maioresmãos que Catherine já algumavez vira. Ficoufascinada com elas. Pareciam ter vida própria, constantemente em movimento, contorcendo-se e virando-se, como se estivessem ansiosas porter algumacoisa para fazer. 0 francês, Yves Renard, era um contraste agudo, Era baixo e corpulento. Tinha um ar atormentado, e uns olhos frios e penetrantes que pareciam atravessar Catherine. Parecia reservado e de poucas palavras. Cauteloso foi a palavra que veio à mente de Catherine. «Mas cauteloso com quê?p Catherine interrogou-se. 0 terceiro membro da delegação era Dino Mattusi. Era italiano, cordial e insinuante, transpirando encanto por todos os poros.

- 0 senhor Demiris tem-na em alta conta -disse Mattusi. -Isso é muito lisonjeador.

- Ele disse que você vai tomar conta de nós em Londres.

- Olhe, trouxe-lhe uma pequena lembrança. - Entregou a Catherine um embrulho com uma etiqueta da Hermes. No interior havia um belo cachecol de seda,

- Obrigada - disse Catherine. - Foi muito atencioso da sua parte. -Olhou para os outros. -Permitam que lhes mostre os seus gabinetes.

Atrás deleshouve um estrondo enorme. Todos se viraram. Era um rapazinho, a olhar consternado para um pacote que deixara cair. Trazia três malas. 0 rapaz aparentava uns quinze anos e era baixo para a idade que tinha. Tinha cabelo castanho encaracolado e uns olhos verdes brilhantes, e tinha um aspecto frágil.

-Que raio -disse Renard bruscamente. -Toma cuidado com essas coisas!

-Perdão-disse o rapaz nervosamente.-Peço desculpa. Onde é que eu ponho as malas?

Renard disse impacientemente.

- Em qualquer sítio. Nós depois vamos buscá-las.

Catherine olhou para o rapaz interrogadoramente. Evelyn explicou.

- Ele deixou o trabalho de paquete que tinha em Atenas. -Nós precisávamos de outro paquete aqui.

- Como é que te chamas? - perguntou Catherine. -Atanas Stavich, senhora. -Estava quase a chorar.

-Olha, Atanas, há um quarto nas traseiras onde podes arrumar as malas. Eu depois encarrego-me delas.

0 rapaz disse agradecidamente: -Obrigado, senhora.

Catherine voltou-se para os homens.

- 0 senhor Demiris disse-me que os senhores vêm analisar a nossa operação aqui.

-Estou à vossa inteira disposição. Tentarei satisfazê-los em tudo o que venham a precisar. Agora, se me querem acompanhar-me, vou apresentá-los ao Wim e ao resto do pessoal.

Enquanto percorriam o corredor, Catherine parava para fazer as apresentações.

Chegaram à sala de Wim.

-Wim, esta é a delegação enviada pelo senhor Demiris. Yves Renard, Dino Mattusi e Jerry Haley, Acabam de chegar da Grécia. Wim lançou-lhes um olhar penetrante.

-A Grécia tem umapopulação de apenas sete milhões, seiscentos e trinta mil habitantes. -Os homens entreolharam-se, intrigados. Catherine sorriu para si própria. Eles estavam a ter exactamente a mesma reacção que ela teve quando conheceu Wim.

-Mandei preparar os seus gabinetes-disse Catherine aos homens. - Queiram seguir-me.

Quando já se encontravam no corredor, Jerry Haley perguntou:

- Que diabo era aquilo? Disseram que ele era importante por estas bandas.

- E é - assegurou-lhe Catherine. - 0 Wim está a par das finanças de todas as várias divisões.

-Eu não deixaria que ele tomasse conta do meu gato -Hamilton riu-se com desdém.

-Quando o conhecerem melhor...

-Eu não desejo conhecê-lo melhor-murmurou o francês. -Já tratei do alojamento-disse Catherine ao grupo. -Reparei que querem ficarem hotéis diferentes.

- É verdade -replicou Mattusi.

Catherine iafazer um comentário, depois decidiunão fazê-lo. Não tinha nada a ver com o facto de eles terem decidido hospedar-se em hotéis diferentes. Ele observava Catherine, pensando. HEIa é muito mais bonita do que estava à espera. Isso tornará a coisa mais interessante. E já sofreu a dor. Posso ver nos olhos dela. Vou-lhe ensinar como a dor pode ser requintada. Vamos desfrutar juntos. E, quando tiver acabado com ela, voumandá-la paraum lugar onde nãohá dor. Vaipara o Céu ou para o Inferno. Vou gostar disto. Vou gostar muitíssimo disto. Catherine levou os homens às suas respectivas salas, e, depois de eles estarem instalados, ela deuinício ao regresso à sua secretária. Do corredor, Catherine ouviu o francês berrar com o rapazinho.

- Esta pasta está errada, seu estúpido. A minha é a castanha. Castanha! Não sabes inglês?

-Está bem, senhor. Perdão, senhor. -A sua voz estava tomada de pânico.

«Vou ter de fazer alguma coisa em relação a isto, pensou Catherine.

Evelyn Kaye disse:

- Se precisares de ajuda para este grupo, conta comigo. -Agradeço, Evelyn. Não me esquecerei.

Alguns minutos depois, Atanas Stavich passou à frente do gabinete de Catherine. Ela chamou.

-Importas-te de entrar por um momento?

0 rapaz olhou para ela com uma expressão assustada.

-Está bem, minha senhora. -Ele entrou com o ar de quem estava à espera de ser chicoteado.

- Fecha a porta, por favor. - Sim, senhora.

- Puxa uma cadeira, Atanas. Manas, não ? -É, sim, senhora.

Ela tentava pô-lo à vontade, mas não estava a consegui-lo. -Não há motivo para estares com medo.

-Não, minha senhora.

Catherine pôs-se a estudá-lo, imaginando que coisas terríveis lhe haviam sido feitas para torná-lo tão medroso. Decidiu que ia tentar saber mais do seu passado.

-Atanas, se alguém aqui te incomodar ou for mau para ti, quero que venhas ter comigo. Percebes?

Ele engoliu. -Sim, senhora. Mas ela duvidou de que ele teria coragem suficiente para vir ter com ela. Alguém, algures, havia reprimido a sua personalidade. -Falaremos mais tarde-disse Catherine. Os resumos da delegação mostravam que eles trabalharam em várias divisões do extenso império de Constantin Demiris, de forma que todos haviam tido experiência dentro da organização. Quem mais intrigava Catherine era o afável italiano, Dino Mattusi. Bombardeava Catherine com perguntas para as quais ele devia ter sabido as respostas, e não pareciamuito interessado em inteirar-se das operações de Londres. De facto, parecia menos interessado na companhia do que ná vida pessoal de Catherine.

- E casada? - perguntou Mattusi. -Não.

-Mas já foi casada? -Já.

-Divorciada?

Ela queria pôr fim à conversa. - Sou viúva.

Mattusi deu-lhe um sorriso enorme.

-Aposto como tem um amigo. Entende o que eu quero dizer?

-Sim, entendo o que quer dizer-disse Catherine rispidamente. - E não é nada que lhe diga respeito. Você é casada?

- Sim, sou. Tenho mulher e quatro belos bambini. Têm muitas saudades minhas quando estou longe de casa.

-Viaja muito, senhor Mattusi? Ele pareceu ofendido.