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Revelara-se uma das decisões mais compensadoras que jamais tomara. Gostava tremendamente do que fazia. Em certo sentido, achava ainda mais satisfatório trazer pacientes que viviam no desespero de volta à vida normal do que ocupar-se do seu bem-estar físico. A sua reputação crescera rapidamente, e durante os três últimos anos fora forçado a rejeitar novos doentes. Concordara em receber Catherine só para lhe recomendar outro médico. Mas algo nela o deixara sensibilizado. «Tenho de ajudá-la Quando Catherine regressou ao escritório depois da consulta com o doutor Alan Hamilton, foi ver Wim.

-Fui hoje ao doutor Hamilton-disse Catherine.

-Ai sim? No reajustamento sócio-psiquiátrico, a escala classificativa pela morte do cônjuge é de cem, divórcio setenta e três, separação marital de um parceiro sessenta e cinco, detenção numa prisão sessenta e trës, morte de um parente chegado sessenta e três, ferimento pessoal ou doença cinquenta e três, casamento cinquenta, despedimento quarenta e sete...

Catherine ficou a ouvir. «Como é que será», interrogou-se ela, «pensar nas coisas só em termos matemáticos? Não conhecer outra pessoa como um ser humano, não ter um amigo verdadeiro. Eu sinto-mecomo se tivesse encontrado um novo amigo», pensou Catherine. «Gostava de saber há quanto tempo ele é casado.» «Tu tentaste destruir-me. Falhaste. Prometo-te que teria sido melhor para ti se tivesses conseguido. Mas primeiro vou destruir a tua irmã.» As palavras de Constantin Demiris ainda soavam nos ouvidos de Lambrou. Não tinha dúvida de que Demiris tentaria levar por diante a sua ameaça. 0 que é que em nome de Deus pôde ter corrido mal com Rizzoli? Tudo fora tão cuidadosamente planeado. Mas não havia tempo para especular sobre o que acontecera. 0 que importava agora era precaver a irmã. A secretária de Lambrou entrou no gabinete.

- 0 seu compromisso das dez horas está à espera. Quer que mande...?

- Não. Cancele todos os meus compromissos. Não voltarei esta manhã.

Pegou no telefone, e cinco minutos depois ia a caminho do encontro com Melina. Ela aguardavam no jardim da villa.

-Spyros. Parecias tão preocupado ao telefone! 0 que é que se passa?

-Temosde conversar.-Levou-apara umbanco que ficava nùm miradouro coberto de videiras. Ficou a olhar para ela e pensou. «Que mulher tão encantadora. Trouxe sempre afelicidade a todos quantos a sua vida tocou. Não fez nada para merecer isto.»

- Não me vais dizer o que se passa? Lambrou respirou fundo.

-Vai ser muito doloroso, querida. -Estás a começar a preocupar-me.

-É essa a minha intenção. A tua vida está em perigo. - 0 quê? Ameaçada por quem?

Ele mediu as palavras cuidadosamente. -Penso que o Costa vai tentar matar-te. Melina olhava-o fixamente, boquiaberta, -Estás a brincar.

-Não, Melina, é a sério.

- Querido, o Costa pode ser muita coisa, mas não é um assassino. Ele não poderia...

-Estás enganada. Ele já matou. 0 rosto dela empalidecera.

- 0 que é que estás a dizer?

-Oh, ele não o faz com as próprias mãos. Contrata pessoas para matarem em vez dele, mas...

-Não acredito em ti.

-Lembras-te da Catherine Alexander? - A mulher que foi assassinada...

- Ela não foi assassinada. Está viva. Melina sacudiu a cabeça.

- Ela... não pode estar. Quer dizer.., as pessoas que a mataram foram executadas.

Lambrou tomou a mão da irmã na sua.

-Melina, o Larry Douglas e a Noelle Page não mataram a Catherine. Durante todo o julgamento, o Demiris manteve-a escondida. Melina estava espantada, muda, lembrando-se da mulher que vira de relance na casa.

«Quem é a mulher que eu vi no hall?» «E uma amiga de um sócio. Vai trabalhar para mim em Londres.» «Eu vi-a de relance. Ela faz-me lembrar alguém. Faz-me lembrar a mulher do piloto que trabalhava para ti. Mas isso é impossível, claro. Eles mataram-na.» «É verdade, eles mataram-na,~ Tornou a falar.

-Ela esteve cá em casa, Spyros. 0 Costa mentiu-me sobre ela. -Ele é louco. Quero que faças as malas e saias deste lugar. Ela olhou para ele e disse lentamente:

-Não, esta é a minha casa.

-Melina, eu não conseguiria aguentar se te acontecesse alguma coisa.

Havia algo na voz dela.

- Não te preocupes. Nada me irá acontecer. 0 Costa não é nenhum idiota. Ele sabe que se fizesse alguma coisa para me prejudicar iria pagar bem caro por isso.

-Ele é teu marido, mas tu não o conheces. Receio pelo que te possa acontecer.

-Eu sei encarregar-me dele, Spyros.

Olhou para ela e sabia que não havia maneira de persuadi-la a mudar de ideias.

-Se não quiseres ir embora, faz-me um favor. Promete que não ficarás sozinha com ele.

Ela bateu-lhe ao de leve na face. - Prometo.

Melina não fazia tenções de manter essa promessa.

Quando ConstantinDemiris chegou acasa nessanoite, Melina estava à espera dele. Ele fez-lhe um sinal com a cabeça e seguiu para o quarto dele.

Melina seguiu.

-Acho que devíamos ter uma conversa-disse Melina. Demiris olhou para o relógio.

-SÓ disponho de uns minutos. Tenho um compromisso. -Tens? Estás a planear matar alguém esta noite?

Ele voltou-se para ela.

-Que delírio é esse que estás para aí a ter? - 0 Spyros veio ver-me hoje de manhã.

-Vou ter de avisar o teu irmão para que se afaste da minha casa. -Também é a minha casa -disse Melina em tom de desafio. - Tivemos uma conversa interessantíssima.

- Realmente? Sobre o quê?

- Sobre ti, Catherine Douglas e Noelle Page. Conseguira a atenção toda dele agora. -Isso é história antiga.

-É? 0 Spyros diz que tu mataste duas pessoas inocentes, Costa. - 0 Spyros Lambrou é um idiota.

-Eu vi a rapariga aqui, nesta casa.

- Ninguém vai acreditar em ti. Não voltarás a vê-la. -Arranjei uma pessoa para me livrar dela.

E Melina de repente lembrou-se dos três homens que vieram jantar. «Vocês partem para Londres logo de manhã. Tenho a certeza de que tudo será resolvido.» Ele aproximou-se de Melina e disse suavemente:

-Sabes, estou a ficar farto de ti e do teu irmão. -Agarrou-a por um braço e apertou-o com força. - 0 Spyros Lambrou tentou arruinar-me. Eledeviater-memorto.-Apertoucommaisforça.-Vocês os dois vãa desejar que ele o tivesse feito.

- Pára com isso, estás-me a magoar.

- Minha querida esposa, tu não sabes o que é a dor. Mas vais aprender. - Largou-lhe o braço. - Vou ~íivorciar-me. Quero uma mulher a sério. Mas não sairei da tuavida. Oh, não. Tenho planas maravilhosos para ti e para o teu querido irmão. Bem, já conversámos. Se me dás licença, vou-me mudar. Não é boa educação fazer uma senhora esperar. Virou-se e entrou no quarto de vestir. Melina deixou-se ficar, o coração aos pulos. 0 Spyros Lambrou tem razão. «Ele é louco.» Ela sentiu-se completamente desamparada, mas não temia pela própriavida. «Que coisame prende àvida?», Melinapensavaamargamente. 0 marido despojara-a de toda a dignidade e fizera-a descer ao seu nível. Pensou em todas as vezes que ele a humilhara, a maltratara em público. Ela sabia que era objecto de pena entre os seus amigos. Não, já não se preocupava consigo própria. «Estou disposta a morrer», pensou, «mas não posso consentir que faça mal ao Spyros.» E no entanto que podia ela fazer para impedi-lo? Spyros era poderoso, mas o marido era mais poderoso. Melina sabia com uma certeza terrível que se ela o deixasse o marido cumpriria a sua ameaça. «Tenho de impedi-lo de alguma forma. Mas como? Como...?» Adelegação dos executivos de Atenas mantinha Catherine ocupada. Elamarcava-lhes reuniões com executivos de outras companhias e informavas das operações de Londres. Eles estavam maravilhados com a sua eficiência. Ela conhecia todas as fases da transacção, e eles estavam impressionados. Os diasde Catherine estavam cheios, e as distracções mantinham-lhe o pensamento afastado dos seus próprios problemas. Ela foi conhecendo cada um dos homens um pouco melhor. Jerry Haley era a ovelha negra da família. 0 pai fora um abastado homem do petróleo, e o avô, um juiz respeitado. Quando Jerry Haley tinha vinte e um anos, cumprira já três anos em centros de detenção juvenil por roubo de automóveis, assalto e invasão, e violação. A família enviara-o por fim para a Europa para se ver livre dele.