-Custou-me muito maçá-lo por causa disto-desculpou-se a Irmã Teresa -, mas a rapariga não tem para onde ir...
-Tomou adecisão certa-assegurou-lhe ConstantinDemiris.Ela lembra-se de alguma coisa do passado?
A Irmã Teresa abanou a cabeça. -Não.Apobrezinha...-Foiaté àjanela,dondeviuasfreirasque trabalhavam no jardim. - Ela está lá fora agora. Constantin Demirisfoiparajunto dela e olhou parafora dajanela. Havia três freiras de costas para ele. Esperou. Uma delas voltou-se e ele pôde ver-lhe o rosto, e a respiração prendeu-se-lhe na garganta. Ela era bela. Que acontecera àquela mulher gorda e destroçada? -É a do meio - disse a Irmã Teresa. Demiris abanou a cabeça.
-Sim. -As palavras da Irmã Teresa eram mais verdadeiras do que ela pensava.
-Que deseja que eu faça com ela?
Com cautela.
- Deixe-me pensar no caso - disse Demiris. Entrarei em contacto consigo.
É um milagre», pensou Catherine. «Um sonho realizado.» AIrmã Teresa parara junto à sua minúscula cela após as matinas.
- Trago notícias para ti, minha filha. - Sim?
A Irmã Teresa escolhia as palavras cuidadosamente.
-Boas notícias. Escrevi a um amigo do convento a teu respeito, e ele deseja ajudar-te.
Catherine sentia o seu coração a saltar. -Ajudar-me como?
-Isso é algo que tem de ser ele a dizer-te. Mas trata-se de uma pessoa muito amável e generosa. Catherine vais sair do convento. E as palavras causaram um arrepio repentino e inesperado em Catherine. Ia entrar num mundo de que nem conseguia lembrar-se. «E quem era o seu benfeitor?» Tudo o que a Irmã Teresa disse foi; -É um homem muito atencioso. Catherine devias estar agradecida. 0 carro dele virá buscar-te na segunda-feira de manhã.
Catherine não conseguiu dormir durante as duas noites seguintes. A ideia de deixar o convento e entrar no mundo exterior tornou-se de repente assustador. Sentiu-se desamparada e perdida. «Talvez seja melhor eu não saber a minha identidade. Por fa vor, Deus, olha por mim.» Na segunda-feira, a limusina parou diante do portão do convento às sete horas da manhã. Catherine estivera acordada toda a noite a pensar no futuro incerto que se apresentava à sua frente. A Irmã Teresa acompanhou-a até ao portão que se abria para o mundo exterior. -Rezaremos por ti. Lembra-te de uma coisa: se decidires voltar para junto de nós, haverá sempre lugar para ti aqui.
-Obrigada, Irmã. Não me esquecerei,
Mas no seu íntimo Catherine estava certa de que nunca voltaria.
O longo trajecto de Janina até Atenas encheu Catherine com uma série de emoções conflituosas. Era muitíssimo excitante estar do outro lado dos portões do convento, e, no entanto, havia algo sinistro sobre o mundo de que se aproximava. Ia ela saber que coisa horrível acontecera no seu passado? Tinha alguma coisa a ver com o sonho repetitivo em que alguém queria afogá-la? No início da tarde, o campo deu lugar a pequenas aldeias, até que chegaram fïnalmente aos arredores de Atenas e em breve estavam no meio da cidade animada. Parecia tudo estranho e irreal a Catherine - e, no entanto, estranhamente familiar. «Eu já cá estive», pensou Catherine excitadamente. 0 motorista dirigiu-se para leste, e quinze minutos depois chegaram a uma propriedade enorme situada no alto de uma colina. Passaram por um porto alto de ferro e uma casa de pedra à entrada, subiram uma estrada ladeada de ciprestes majestosos e pararam frente de uma enorme ailla mediterrânica branca, emoldurada por meia dúzia de estátuas magníficas. 0 motorista abriu a porta do carro para Catherine sair. Um homem aguardava na porta da frente.
-Kalimehra. -A palavra para bom-dia surgiu nos lábios de Catherine espontaneamente.
-Kalimehra.
- 0 senhor.., o senhor é a pessoa que eu vim ver?
- Oh, não. 0 senhor Demiris está à sua espera na biblioteca, Demiris. Um nome que ela nunca ouvira antes. Por que estava ele interessado em ajudá-la?
Catherine seguiu o homem por uma enorme rotunda, com um telhado em cópula assente em placas de faiançainglesade Wedgewood. Os pisos eram em mármore creme de origem italiana,
0 salão era enorme, com um tecto alto com viga e sofás grandes, baixos e confortáveis e cadeiras por toda a parte. Uma tela enorme, um Coya escuro e soturno, cobria uma parede inteira. Quando se aproximavam da biblioteca, o homem parou.
- 0 senhor Demiris está à sua espera lá dentro.
As paredes da biblioteca eram adornadas de madeira branca e dourada, e as prateleiras alinhadas nas paredes estavam cheias de livros de cabedal gravados em relevo a ouro. Um homem sentava-se atrás de uma secretária enorme. Ergueu o olhar quando Catherine entrou e levantou-se. Procurou um sinal de reconhecimento no rosto dela, mas não houve nenhum.
-Seja bem vinda. Chamo-me Constantin Demiris. Qual é o seu nome?-Ele deu à pergunta um tom informal. «Lembrava-se ela do nome?»
-Catherine Alexander.
Ele não mostrou nenhuma reacção.
-Seja bem vinda, Catherine Alexander. Por favor sente-se. - Ele sentou-se em frente dela, num sofá de cabedal negro. Ela era ainda mais maravilhosa de perto. «Ela é magnífica», pensou Demiris. «Mesmo vestida com aquele hábito preto. E uma pena destruir algo tão belo. Pelo menos morrerá feliz
-É ,., é muito amável da sua parte receber-me - disse Catherine. -Não percebo porque é que o senhor...
Ele sorriu afavelmente.
-É realmente muita simples. De vez em quando, dou um contributo à Irmã Teresa, 0 convento tem muito pouco dinheiro, e eu faço o que posso. Quando me escreveu a falar de si e me perguntou se eu podia ajudar, eu disse-Ihe que ficaria muito satisfeito em tentar.
-Isso é muito .,. -Calou-se, não sabendo como prosseguir. -A Irmã Teresa disse-lhe que eu... que eu perdi a memória?
-Sim, ela disse qualquer coisa sobre isso.-Fez uma pausa eperguntou sem cerimónia. - Lembra-se de muita coisa?
-Sei o meu nome, mas não sei donde vim, ou quem sou na realidade. - Acrescentou, esperançosamente. - Talvez eu encontre aqui alguém que me conheça.
Constantin Demiris sentiu um arrepio repentino de preocupação. Era a última coisa no mundo que ele queria.
-É possível, claro -disse cautelosamente. -Porque não falamos nisso amanhã de manhã? Infelizmente, tenho que estar presente numa reunião agora. Mandei preparar-lhe uma suite. Acho que se sentirá bem.
-Eu... eu realmente não sei como agradecer-lhe. Ele agitou uma mão.
-Não é necessário. Tratarão bem de si aqui. Sinta-se à vontade. -Obrigada, senhor. ...
-Os amigos chamam-me Costa.
Uma governanta conduziu Catherine para uma fantástica suite, decorada com tons suaves de branco, mobilada com uma cama de tamanho excessivo com uma dossel de seda, sofás e poltronas brancas, mesas e candeeiros antigos e quadros impressionistas nas paredes. Persianas de um verde-marinho polido mantinham o sol resplandecente na janela ogival. Através das janelas, Catherine podiaver o mar azul-turquês lá ao longe. A governanta disse