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Então como é que o Constantin Demiris podia ter sabido que estavalá? Eu... eu não sei. Apenas sei que isso aconteceu. Acordei sobressaltada. Parecia que o sonho era uma espécie de aviso. Sinto que algo de terrível vai acontecer. Os pesadelos podem ter esse efeito em nós. 0 pesadelo é um dos mais velhos inimigos do homem. A palavra tem a sua origem no inglês médio nitz, ou <morte», e mare, ou duende». Diz a velha superstição que o pesadelo prefere atacar depois das quatro da manhã. Acha que não têm nenhum significado real? Às vezes têm. Coleridge escreveu: «Os sonhos não são sombras, mas as próprias substâncias e calamidades da minha vida.» Provavelmente euestou a levaristo demasiado a sério. Tirando os meus sonhos disparatados, sinto-me óptima. Há uma coisa que gostaria de falar consigo, Alan. Sim? 0 nome dele é Atanas Stavich. É um rapaz ainda novo que veio para Londres para estudar medicina. Tem tido uma vida adversa. Pensei que um dia talvez pudesse vê-lo e dar-lhe uns conselhos. Ficaria muito feliz. Por que está a franzir o sobrolho? Lembrei-me de uma coisa. De quê? É uma coisa maluca. 0 nosso subconsciente não distingue entre maluco e são. No meu sonho, quando o senhor Demiris me entregou o alfinete de ouro... Sim? Ouvi uma voz dizer: «Ele vai matar-te.» Tem de parecer um acidente. Não quero que ninguém consiga identificar o corpo dela. Havia muitas maneira de matá-la. Tinha de começar afazer os preparativos. Estava deitado na cama a pensar neles e viu que estava com uma erecção. A morte era o derradeiro orgasmo. Por fim, soube como iria fazê-lo. Era tão simples. Não haveria corpo para identificar. Constantin Demiris ficaria satisfeito. A casa de praia de Constantin Demiris estava localizada a cinco quilómetros a norte de Piraeus num alqueire de terreno da zona do cais. Demiris chegou às sete da tarde. Parou na entrada para a garagem, abriu a porta do carro e caminhou para a casa de praia.

Assim que lá chegou, a porta foi aberta por um homem que não reconheceu.

- Boa noite, senhor Demiris.

Lá dentro, Demiris viu meia dúzia de agentes da polícia. - 0 que é que se passa aqui? - perguntou Demiris.

- Sou o tenente de Polícia Theophilos. Eu...

Demiris afastou-o e entrou na sala de estar. Era uma carnificina. Era óbvio que acontecera uma luta terrível. Mesas e cadeiras estavam de pernas para o ar. Um dos vestidos de Melina estava caído no chão, rasgado. Demiris apanhou e fitou-o.

-Onde é que está a minha mulher? Eu vinha encontrar-me com ela aqui.

0 tenente de polícia disse:

-Ela não está aqui. Nós revistámos a casa e percorremos a praia por todo o lado. Parece que a casa foi assaltada.

-Bem, onde é que está a Melina? Ela telefonou-Ihe? Esteve cá? -Sim, pensamos que ela esteve aqui. -Ele mostrou um relógio de mulher. O vidro foi partido e os ponteiros pararam nas três horas. -Este relógio é da sua esposa?

-Parece que sim.

-Atrás há uma gravação: «Para Melina com amor, Costa.~> - Então é. Foi um presente de aniversário.

0 detective Theophilos apontou para umas manchas no tapete. -Aquilo são manchas de sangue, -Apanhou uma faca que estava no chão, cauteloso para não tocar no cabo. Alâmina estava coberta de sangue.

-Já alguma vez viu esta faca?

Demiris olhou-a num breve relance.

- Não. Está a querer dizer-me que ela morreu?

-Por certo é uma possibilidade. Encontrámos gotas de sangue na areia que vai até à àgua.

-Meu Deus-disse Demiris.

- Para nossa sorte, há algumas impressões digitais nítidas na faca.

Demiris sentou-se pesadamente.

- Então o senhor vai apanhar quem quer que o tenha feito. -Certamente, se asimpressões digitais estiverem no arquivo. Há impressões digitais por toda a casa. Temos de classificá-las. Caso não se importe de nos dar as suas impressões digitais, senhor Demiris, podemos eliminá-las já. Demiris hesitou. -Sim, claro.

Ali o sargento pode encarregar-se disso. Demiris caminhou até um polícia fardado que tinha uma prancha de impressões digitais. - Queira colocar aqui os seus dedos. - Pouco depois estava pronto. - 0 senhor compreende que se trata apenas de uma formalidade.

- Claro.

0 tenente Theophilos entregou a Demiris um pequeno cartão comercial.

- Sabe alguma coisa sobre isto, senhor Demiris?

Demiris olhou para o cartão. Dizia o seguinte: «Agência de Detectives Katelanos-Investigações Particulares» Devolveu o cartão. , -Não. Tem algum significado?

- Não sei. Estamos a verificar.

-Naturalmente que é meu desejo que os senhores façam tudo 0 que puderem para encontrarem o responsável. E informem-me se souberem alguma coisa sobre a minha mulher.

0 tenente Theophilos olhou para ele e fez um sinal afirmativo com a cabeça.

-Não se preocupe. Não deixaremos de fazê-lo.

«Melina. A rapariga de ouro, atraente, brilhante e divertida. Fora tão maravilhoso no início. E depois ela matara o filho, e por isso nunca poderia haver perdão... apenas a morte.

A chamada chegou ao meio-dia do dia seguinte. Constantin Demiris estava a meio de uma conferência quando a secretária tocou. -Peço desculpa, senhor Demiris...

- Eu disse-lhe que não queria ser incomodado.

-Pois disse, mas um tal inspector Lavanos está ao telefone. Diz que é urgente. Quer que lhe diga para...?

-Não. Vou atender. -Demiris virou-se para os homens que se sentavam à volta da mesa da conferência. -Desculpem-me por um momento. - Pegou no telefone. - Demiris.

Uma voz disse:

- Aqui é o inspector Lavanos, senhor Demiris, da Esquadra Central. Temos umainformação quepensamos poder interessar-lhe. Será que podia vir até aqui ao comando-geral da polícia?

-Tem notícias da minha mulher?

- Eu preferia não discutir o assunto ao telefone, se não se importa.

Demiris hesitou por um momento.

-Vou já para aí. -Pousou o telefone e virou-se para os outros. -Surgiu uma coisa urgente. Porque é que nâo vão para a sala de reuniões e discutem a minha proposta, que eu estarei de volta para lhes fazer companhia ao almoço? Houve um murmúrio geral de concordância. Cinco minutos depois, Demiris estava a caminho do comando-geral. Haviameia dúzia dehomens à sua espera nogabinetedo comissário da polícia. Demiris reconheceu os polícias que vira na casa de praia. -... e este é o promotor público especial Delma.

Delma era um homem baixo e entroncado, com sobrancelhas carregadas,uma face redonda e uns olhos cínicos.

-Que é que aconteceu? -Demiris perguntou. -Há notícias da minha mulher?

0 inspector-chefe disse:

- Para ser totalmente franco, senhor Demiris, deparamos com coisas que nos intrigam. Esperávamos que o senhor nos pudesse ajudar.

-Infelizmente há muito pouco que eu possa fazer para os ajudar. Tudo isto é tão chocante...

-0 senhor tinha marcado um encontro com a sua esposa na casa de praia por volta da uma hora de ontem à tarde?

- 0 quê? Não. A senhora Demiris telefonou-me e pediu-me para que me encontrasse com ela lá às sete horas.

0 promotor Delma disse num tom brando:

- Ora, essa é uma das coisas que nos está a intrigar. Uma criada sua disse-nos que o senhor telefonou à sua mulher por volta das duas horas e lhe pediu que fosse à casa de praia sozinha e esperasse por si.

Demiris franziu o sobrolho.

-Ela está a fazer confusão. A minha mulher é que me telefonou a pedir-me que fosse ter com ela lá às sete horas a noite passada. -Entendo. Então a criada enganou-se.

-Obviamente.

-Sabe que razão a sua esposa terá tido para lhe pedir que fosse à casa de praia?

-Suponho que queria tentar convencer-me a desistir do divórcio. - 0 senhor tinha dito à sua esposa que ia divorciar-se dela? -Tinha.

- A criada diz que ouviu uma conversa ao telefone durante a qual a senhora Demiris lhe disse que ela é que ia divorciar-se de si. -Estou-me nas tintas para o que a criada disse. 0 senhor terá de crer na minha palavra.

- Senhor Demiris, o senhor tem calções de banho na casa de praia?-perguntou o inspector~hefe.