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A: Tudo faz sentido quando tiver a solução, Catherine. Tem tido mais sonhos?

C: Sonhei com Constantin Demiris. É muito vago.

A: Conte-me o que se lembra.

C: Perguntei-lhe por que razão era tão amável comigo, por que razão me ofereceu o emprego em Londres e um lugar para morar. E por que razão me deu o alfinete de ouro.

A: E o que é que ele disse?

C: Não me lembro. Acordei aos gritos.

0 doutor Alan Hamilton estudou a transcrição cuidadosamente, à procura dos vestígios inobservados do subconsciente, em busca de uma pista que explicasse o que perturbava Catherine. Ele estava razoavelmente certo de que a apreensão dela se relacionava com a Catherine não conseguia afastar Alan Hamilton da ideia. «Não sejas idiota», disse Catherine a si própria. «Ele é um homem casado. Todas as pacientes se sentem assim em relação ao seu analista.» Mas nada do que Catherine dizia a si própria ajudava. «Talvez eu deva consultar um analista por causa do meu analista: ~ Ela ia voltar a ver Alan dentro de dois dias. «Talvez eu deva cancelar a consulta» pensou Catherine, «antes que me envolva muito mais. Tarde de mais.» Namanhã em que tinha a consulta com Alan, Catherine vestiu-se muito cuidadosamente foi ao salão de beleza. «Já que não vou voltar a vê-lo depois de hoje», raciocinou Catherine, «não há mal em apresentar-me bonita: No momento em que entrou no gabinete dele, a sua resolução dissipou-se. «Por que tem ele de ser tão atraente? Porque é que não nos conhecemos antes de ele se casar? Porque é que ele não me conheceu quando eu era um ser normal e são? Por outro lado, se eu fosse um ser humano são e normal, nunca o teria procurado, pois não?»

- Perdão?

Catherine apercebeu-se de que falara em voz alta. Agora era altura de lhe dizer que esta era a última consulta.

Respirou fundo.

-Alan..,-E a suadeterminação quebrou-se. Olhoupara afotografia que estava sobre a mesa. - Há quanto tempo é casado?

-Casado?-Ele seguiu o relance de Catherine.-Oh, Essa é a minha irmã e o filho.

Catherine sentiu uma vaga de alegria invadi-la.

-Oh, isso é maravilhoso! Quero dizer, ela... tem um aspecto maravilhoso.

-Você está bem, Catherine ?

Kirk Reynolds passara a vida a perguntar-lhe o mesmo. «Eu naquela altura não estava bem», pensou Catherine, «mas agora estou.» -Estou óptima-disse Catherine.-Vocë não é casado?

-Não.

«Quer jantar comigo? Quer levar-me para a cama? Quer casar comigo?•> Se ela dissesse alguma destas coisas em voz alta então é que ele iria pensar que ela estava maluca. «Talvez esteja.•> Ele observava-a, com o sobrolho franzido.

-Catherine, infelizmente não vamos poder continuar com estas sessões. Hoje será a última.

0 coração de Catherine desfaleceu. -Porquë? Eu fiz alguma coisa que...?

-Não... não é por sua causa. Numa relação profïssional deste tipo, é impróprio que um médico se envolva emocionalmente com uma doente.

Ela tinha agora o olhar fixado nele, os olhos brilhantes. -Está-me a dizer que se deixou envolver emocionalmente por mim?

- Estou. E por causa disso receio...

- Tem toda a razão-disse Catherine feliz.-Vamos falar disso hoje à noite ao jantar.

Jantaram num restaurantezinho italiano no centro de Soho. A comida podia ter sido excelente ou péssima, que eles não deram por nada. Estavam totalmente absorvidos um pelo outro.

-Não é justo-disse Catherine. -Você sabe tudo a meu respeito. Fale-me de si. Nunca se casou?

-Não, Estive quase para casar. - Que aconteceu?

-Foi durante a guerra. Vivíamos num pequeno apartamento. Foi durante os dias da blitz. Eu trabalhava no hospital e quando cheguei a casa uma noite...

Catherine pôde ouvir a mágoa na sua voz.

-... o prédio tinha desaparecido. Não tinha sobrado nada. Ela envolveu-lhe a mão.

-Sinto muito.

- Levei muito tempo a ultrapassar o que aconteceu.

-Nunca conheci ninguém com quem me quisesse casar. -E os seus olhos disseram, «até agora».

Ficaram sentados durante quatro horas, falando sobre tudo - teatro, medicina, a situação do mundo; mas a verdadeira conversa não era falada. Era a electricidade que ia crescendo entre eles. Podiam ambos senti-la. Havia uma tensão sexual entre eles que os esmagava.

Finalmente, Alan falou no assunto.

-Catherine, o que eu disse hoj e de manhã acerca da relação médico-paciente...

- Fala-me disso no teu apartamento.

Despiram-se juntos, rápida e ansiosamente, e enquanto Catherine tirava a roupa pensou no que sentira quando esteve com Kirk Reynolds e como era diferente agora. «A diferença é estar-se apaixonada~, pensou Catherine. «Estou apaixonada por este homem N

Deitou-se na cama à espera dele, e, quando ele chegou e a tomou nos braços, todas as preocupações, todos os receios de nuncapoderrelacionar-se com um homem desapareceram. Acariciaram o corpo um do outro, explorando, primeiro com meiguice, depois ferozmente, até que a necessidade de ambos se tornou incontrolável e desesperada, e eles uniram-se, e Catherine gritou em voz alta com total felicidade. «Sou de novo inteira», pensou. «Obrigada!» Permaneceram ali, exaustos, e Catherine manteve Alan envolto nos seus braços, desejando nunca mais largá-lo. Quando conseguiu voltar a falar, disse com uma voz trémula. - 0 senhor sabe como tratar uma doente, doutor. Catherine soube pelos jornais da prisão de Constantin Demiris pelo homicídio da mulher. Constituiu um choque muito grande. Quando chegou ao escritório, havia uma nuvem sobre todas as coisas.

- Já sabes das notícias? - lastimou-se Evelyn. - Que vamos fazer?

- Vamos continuar exactamente como ele queria que o fizéssenws. Tenho a certeza de que é tudo um grande equívoco. Vou tentar telefonar-lhe.

Mas Constantin Demiris estava fora de alcance, Constantin Demiris era o prisioneiro mais importante que a Prisão Central de Atenas já alguma vez albergara. 0 promotor dera ordens para que Demiris não recebesse tratamento especial. Demiris exigira um número de coisas: acesso a telefones, telex e serviço de correio. As suas exigências foram negadas. Demiris passava a maior parte das horas em que estava acordado, e muitas quando sonhava, a tentar descobrir quem matara Melina. No início, Demiris assumira que um ladrão fora surpreendido por Melina enquanto saqueava a casa de praia e a matara, Mas no momento em que a polícia o confrontara com as provas contra ele Demiris compreendera que estava a ser tramado. A pergunta era: por quem? A pessoa lógica era Spyros Lambrou, mas a fraqueza dessa teoria era que Lambrou amava a irmã mais do que qualquer outra pessoa no mundo. Ele nunca lhe teria feito mal. A suspeita de Demiris virara-se então para o bando com quem Tony Rizzoli se havia envolvido. Talvez tivessem sabido do que ele fizera a Rizzoli e esta era a forma de se vingarem. Constantin Demiris afastara essa ideia de imediato, Se a mafia quisesse vingança, teria simplesmente contratado um pistoleiro para matá-lo. E assim sentado sozinho na sua cela, Demiris matutara longa mente, tentando arranjar uma solução para o enigmado que acontecera. No fim, quando esgotara todas as possibilidades, só havia uma conclusão: Melina suicidara-se. Matara-se e tramara-o com a morte dela, Demiris pensou no que tinha feito a Noelle Page e a Larry Douglas, e a ironia amarga era de que ele agora estava exactamente na mesma posição em que eles estiveram! Ia ser julgado por um homicídio que não cometera. 0 carcereiro estava à porta da cela. - 0 seu advogado veio vê-lo. Demiris pôs-se de pé e seguiu o carcereiro até uma pequena sala de reuniões. 0 advogado aguardava-o. 0 nome do homem era Vassiliki. Estava na casa dos cinquenta, tinha o cabelo grisalho e basto e o perfil duma estrela de cinema. Tinha a fama de ser um advogado criminal de primeira qualidade. Isso seria suficiente?

0 carcereiro disse:

-Têm quinze minutos. -Deixou os dois sozinhos. -Bem-perguntou Demiris.-Quando é que me vai tirar daqui para fora? Para que é que lhe estou a pagar?