-Você sabe mexer com essa coisa.
- Aprende-se aquilo que se é obrigado a aprender - disse Chotas. Subiam uma estrada estreita da montanha.
-Aonde vamos?
Tenho uma pequena casa ali no cimo. Vamos tomar uma taça de champanhe e depois eu chamo um táxi para trazê-lo de volta à cidade. Sabe, Costa, tenha andado a pensar. Tudo o que aconteceu... A morte de Noelle Page e de Lorry Douglas. E do pobre Stavros. Não foi nada por dinheiro, pois não? -Virou-se para olhar de relance para Demiris. - Tudo teve a ver com ódio. Ódio e amor. Você amava a Noelle,
-É verdade - disse Demiris. -Eu amava a Noelle.
-Eu também a amava-disse Chotas. -Você não sabia, pois não?
Demiris olhou para ele surpreendido.
-Não.
-E no entanto eu ajudei-o a mofa-la. Nunca me perdoei por causa disso. Você já se perdoou, Costa?
-Ela teve o que merecia.
- Achoqueacabamostodosporteroquemerecemos.Háumacoisa que eu não lhe disse. Aquele incêndio... desde a noite daquele incêndio, vivo em dor torturante. Os médicos tentaram restaurar -me, mas realmente não resultou. Estou demasiado estropiado. - Empurrou uma alavanca que deu velocidade ao carro. Começaram a andar depressa em curvas apertadas, a subir cada vez mais. 0 mar Egeu surgiu ao fundo perante os seus olhos. -De facto - disse Chotas num tom rouco -, a minha dor é tão grande que a minha vida já não vale nada. - Empurrou de novo a alavanca, e o carro começou a andar mais depressa.
-Abrande - disse Demiris. -Você está a ir muito... Deforma que decidi que vamos os dois dar-lhe um fim juntos. Demiris voltou-se para fixá-lo, horrorizado.
- Que é que vocë está a dizer? Abrande, homem. Você vai-nos matar.
- É verdade - disse Chotas, Mexeu outra vez na alavanca, 0 carro avançou mais.
-Você está louco! -disse Demiris. -Você é rico. Você não quer morrer.
Oslábios cicatrizados de Chotas formaram uma imitação horrível de um sorriso.
-Não, eu não sou rico. Sabe quem é rico? A sua amiga, a Irmã Teresa. Dei todo o seu dinheiro ao convento de Janina. Dirigiam-se para uma curvafechada na íngreme estrada da montanha,
-Pare o carro! -gritou Demiris -Tentou arrancar o volante das mãos de Chotas, mas era impossível,
-Dou-lhe tudo o que você quiser-gritou Demiris. -Pare!
Chotas disse:
-Eu tenho aquilo que quero,
No momento que se seguiu sobrevoavam o penhasco, pela encosta íngreme abaixo, o carro aos tombos numa pirueta graciosa, até que por fim caiu lá em baixo no mar. Houve uma explosão tremenda, e depois um silêncio profundo e eterno.
Terminara.
FIM
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