Ele sorriu mostrando os dentes.
-Isso tem importância, koritsimon? Paris ou Roma, nas corridas, numa festa. - Ele chegou-se para a frente e apertou-lhe a mão. - Você é a mais bonita que eu vi por aqui. Quanto é que leva?
Catherine olhou-o fixamente, sem perceber porum momento, depois, chocada, ergueu-se rapidamente.
-Eh! Qual o problema? Eu pago o que quiser...
Catherine voltou-se e pôs-se em fuga, descendo a rua a correr. Virou numa esquina e abrandou, os olhos cheios de lágrimas de humilhação. Em frente, havia uma pequena taberna, ondehaviaum letreiro na montra que dizia MADAME PIRIS - ASTRÓLOGA. Catherine abrandou, depois parou. «Eu conheço Madame Piris. Eu já estive aqui: >0 seu coração começou a acelerar. Sentiu que aqui, através da entrada escurecida, estava o começo do fim do mistério. Abriu a porta e entrou. Levou algunsmomentos ahabituar-se à escuridão cavernosa da sala. Havia um bar familiar no canto, e uma dúzia de mesas e de cadeiras. Um criado veio até ela e dirigiu-se-lhe em grego.
-Kalimehra.
Kalimehra. Pou inch Madame Piris?
0 criado apontou na direcção de uma mesa vazia no canto da sala, e Catherine foi até lá e sentou-se. Tudo era exactamente como se lembrava. Uma mulher incrivelmente velha, vestida de negro, com um rosto dessecado em ângulos e planos, dirigia-se à mesa.
- 0 que é que eu posso ...? -Parou, perscrutando o rosto de Catherine. Os seus olhos arregalaram-se.-Conheci-a em tempos, mas o seu rosto ... -Disse ela com a voz entrecortada. -Você voltou! -Sabe quem eu sou?-Catherine perguntou ansiosamente. A mulher fixou-a, com os olhos cheios de horror.
- Não! Você morreu! Vá-se embora!
Catherine gemeu tenuamente e sentiu o cabelo arrepiar-se-lhe.
- Por favor, eu sou...
-Vá-se embora, senhora Douglas! - Eu preciso de saber...
A velha fez o sinal da cruz, voltou-se e desapareceu rapidamente. Catherine deixou-se ficar sentada por um momemto, a tremer, depois saiu a correr para a rua. A voz segui-a na cabeça. «Senhora Douglas! E foi como se tivessem aberto uma represa. Dezenas de cenas brilhantemente iluminadas jorraram repentinamente na sua cabeça, uma série brilhante de caleidoscópios fora de controlo. «Eu sou a senhora Larry Douglas p Viu o rosto bonito do marido. Estivera loucamente apaixonada por ele, mas algo correra mal. Alguma coisa... A imagem seguinte era a sua tentativa de suicídio, e o acordar num hospital. Catherine estava na rua, receosa de que as suas pernas não andassem, deixando as imagens aos atropelos no seu pensamento. Ela tinha andado a beber muito, porque perdera Larry. Mas depois ele voltara para ela. Estavam no apartamento dela, e Larry dizia:
- Sei que me portei muito mal. Gostaria de compensar-te, Cathy. Eu amo-te. Nunca amei realmente mais ninguém. Quero mais uma oportunidade. Gostavas de fazer uma segunda lua-de -mel? Conheçoum sítiomaravilhoso aonde poderíamos ir. Chama-se Janina.
E depois o horror começara. As imagens que lhe vieram à mente agora eram aterradoras. Estava no cimo duma montanha na companhia de Larry, perdida numa neblina cinzenta e rodopiante, e ele caminhava na direcção dela, de braços estendidos, preparado para atirá-la da berma. Nesse momento, chegaram uns turistas e salvaram-na. E depois as caves.
«0 empregado do hotel falou-me dumas grutas que há aqui perto. Todos os recém-casados vão lá. E eles foram às grutas, e Larry levara-a até às profundezas e deixara-a lá para que ela morresse. Pôs as mãos sobre os ouvidos como que para afastar os terríveis pensamentos que a assaltavam. Fora salva e trazida de volta ao hotel, e um médico dera-lhe um sedativo. Mas a meio da noite ela acordara e ouvira Larry e a amante na cozinha, planeando a morte dela, o vento a fustigar-lhe as palavras.
- Nunca ninguém ir...
- Eu disse-te que me encarregava de...
- Correu mal. Não há nada que eles possam... -Agora, enquanto ela está a dormir.
E lembrava-se de terfugido naquela tempestade terrível-sendo perseguida por eles -meter-se no barco a remos, o vento fustigando o barco no meio do lago tempestuoso. 0 barco começara a afundar, e ela perdera a consciência. Catherine afundou-se num banco da rua, demasiado exausta para se mexer. Então os seus pesadelos tinham sido reais. 0 marido e a amante haviam tentado matá-la. Pensou de novo no estranho que fora visitá-la ao convento pouco depois do seu salvamento, Ele entregara-lhe um pássaro de ouro de excelente execução, com as asas suspensas para voar.. «Ninguém lhe farámal. As pessoas cruéis morreram.UAinda não conseguiuvero seu rosto com nitidez. A cabeça de Catherine começou a latejar. Finalmente, levantou-se e caminhou lentamente em direcção à rua onde ficou de se encontrar com o motorista que a levaria de volta para junto de Constantin Demiris, onde estaria em segurança.
-Porque é que a deixou sair de casa? -perguntou Constantin Demiris.
- Peço desculpa, senhor - respondeu o mordomo. - 0 senhor não disse se ela podia ou não sair, por isso...
Demiris esforçou-se para parecer calmo.
-Não tem importância. Ela, provavelmente, deve estar de volta daqui a pouco.
-Mais alguma coisa, senhor?
-Não.
Acompanhou a saída do mordomo, Demiris foi até uma janela e fixou o olhar no jardim impecavelmente tratado. Era perigoso Catherine Alexander aparecer nas ruas de Atenas, onde poderia serreconhecida. «É uma pena eu não poder deixá-la viver. Mas primeiro ... a minha vingança. Ela ficará viva até que eu me vingue. Vou divertir-me com ela. Vou mandá-la embora daqui, para um lugar onde ninguém a conheça. Londres será seguro. Podemos mantë-la sob vigilância. Vou arranjar-lhe um emprego num dos meus escritórios de lá. Uma hora mais tarde, quando Catherine regressou a casa, Constantin Demiris pôde sentir instantaneamente a mudança nela. Era como se uma cortina escura tivesse sido levantada e Catherine tivesse repentinamente ressuscitado. Usava um atraente fato de seda branco, com uma blusa branca-e Demiris ficou surpreendido pela grande alteração da sua aparência. «Nostini», pensou ele. Sedutora. -Senhor Demiris...
-Costa.
-Eu.., eu sei quem eu sou, e .., o que aconteceu. 0 rosto dele nada revelou.
-Ah sim? Sente-se, minha querida, e conte-me.
Catherine estava excitada de mais para se sentar. Começou a andar abruptamente na alcatifa, de um lado para o outro, as palavras saindo-lhe da boca aos atropelos.
-0 meu marido e a... a amante dele, Noelle, tentaram matar-me. -Parou, olhando para ele ansiosamente.-Não lhe parece uma loucura? Eu ... eu não sei, Talvez seja.
-Continue, minha querida-disse ele brandamente. -Foram umas freiras do convento que me salvaram. O meu marido trabalhava para si, não trabalhava?-disse ela sem pensar. Demiris hesitou, pesando cuidadosamente a sua resposta. -Trabalhava, sim. -Que mais poderia dizer-lhe?-Ele era um dos meus pilotos. Senti alguma responsabilidade por si. É só...
Ela olhou de frente.
-Mas o senhor sabia quem eu era. Porque não me disse hoje de manhã?
-Eu tinha receio do choque-disse Demiris num tom brando. - Achei que era melhor deixá-la descobrir as coisas por si própria. - Sabe o que aconteceu ao meu marido e a essa ... essa mulher? Onde é que eles estão?
Demiris olhou Catherine de frente. -Eles foram executados.
Ele viu o sangue escoar-se do rosto dela. Ela emitiu um curto som. De repente, sentiu-se fraca de mais para ficar de pé e afundou-se numa cadeira.
-Eu não...
-Eles foram executados pelo Estado, Catherine. -Mas... porquê?
«Cuidado. Perigo.»
-Porque eles tentaram assassiná-la. Catherine franziu o sobrolho.
-Não percebo. Por que iria o Estado executá-los? Eu estouviva... Ele interrompeu.
- Catherine, as leis gregas são muito severas. E a justiça aqui é rápida. Houve um julgamentopúblico. Uma série de testemunhas declararam que o seu marido e Noelle Page tentaram matá-la. Foram declarados culpados e condenados à morte.
- Custa a acreditar - Catherine deixou-se ficar, atordoada. - 0 julgamento...